O Brasil enfrenta uma combinação preocupante de crises ambientais: o desmatamento crescente e, por consequência, ondas de calor cada vez mais intensas. O aumento da destruição das florestas, especialmente da Amazônia e da Mata Atlântica, está diretamente ligado à elevação das temperaturas em diversas regiões do país. Pesquisadores alertam que esses fatores não são apenas coincidências, mas sim consequências diretas das mudanças no uso do solo e da degradação ambiental.
Recentemente, um estudo publicado na revista Nature Sustainability revelou dados alarmantes sobre a perda de florestas maduras na Mata Atlântica entre 2010 e 2020. A pecuária, a silvicultura para a produção de carvão e as plantações de soja foram apontadas como as principais atividades responsáveis pelo desmatamento desse bioma. O estudo, realizado por pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), da Universidade de São Paulo e da ONG SOS Mata Atlântica, identificou que mais de 186 mil hectares de floresta desapareceram em 14 mil locais distintos, o equivalente a 200 mil campos de futebol.
(Foto: Fernando Frazão / Agência Brasil)
A perda de vegetação impacta diretamente o regime de chuvas e a regulação térmica. Árvores desempenham um papel essencial na manutenção da umidade do ar e na absorção de calor, contribuindo para a estabilidade climática. Sem a floresta, o solo se aquece mais rapidamente e a evaporação da água diminui, alterando padrões meteorológicos e contribuindo para o aumento da temperatura.
Na Amazônia, a situação é ainda mais crítica. Em 2023, foram registrados níveis recordes de desmatamento e queimadas, impulsionados pela extração ilegal de madeira, avanço do agronegócio e políticas ambientais frágeis. A floresta amazônica, conhecida como um dos principais reguladores climáticos do planeta, já apresenta sinais de transformação em uma savana degradada em algumas regiões, comprometendo sua capacidade de gerar chuvas e esfriar a atmosfera.
Ondas de calor e seus efeitos devastadores
A intensificação das ondas de calor no Brasil tem relação direta com o desmatamento. Em 2023 e 2024, diversas cidades brasileiras registraram temperaturas recordes, ultrapassando 40 graus por vários dias consecutivos. Capitais como São Paulo-SP, Rio de Janeiro-RJ e Cuiabá-MT enfrentam períodos de calor extremo, impactando a saúde da população e a economia local.
O calor excessivo aumenta a incidência de problemas respiratórios, desidratação e doenças cardiovasculares, além de afetar a produtividade e elevar os custos com energia elétrica devido ao uso intensivo de ar-condicionados. Para a população mais vulnerável, como idosos e pessoas em situação de rua, as ondas de calor representam uma ameaça ainda maior.
O aumento da temperatura acelera a evaporação da água dos reservatórios, reduzindo a disponibilidade hídrica para consumo humano e para a geração de energia. Com menos chuva, os níveis dos reservatórios diminuem, aumentando o risco de crises hídricas e energéticas, como as registradas nos últimos anos.
A Mata Atlântica e a crise climática
Embora a Amazônia receba mais atenção global, a Mata Atlântica desempenha um papel crucial na regulação climática do Brasil. Esse bioma abriga as nascentes de rios que abastecem grande parte da população brasileira, além de atuar como um amortecedor climático. O desmatamento da Mata Atlântica tem impactos diretos na qualidade da água, na biodiversidade e na frequência de eventos climáticos extremos, como enchentes e secas prolongadas.
A destruição contínua desse bioma compromete os chamados serviços ecossistêmicos, ou seja, os benefícios que a floresta oferece para a sociedade. A falta de cobertura vegetal reduz a infiltração de água no solo, intensificando enchentes urbanas e a erosão. Além disso, a emissão de gases de efeito estufa decorrente do desmatamento acelera o aquecimento global, contribuindo para a intensificação das ondas de calor.
O estudo da SOS Mata Atlântica destaca a necessidade urgente de fortalecer as políticas de conservação e ampliar a fiscalização ambiental. A aplicação efetiva da Lei da Mata Atlântica - que regulamenta a proteção e uso da biodiversidade e recursos dessa floresta - e o combate ao desmatamento ilegal são medidas essenciais para mitigar os impactos das mudanças climáticas.
Além disso, especialistas defendem a criação de incentivos econômicos para proprietários rurais que adotem práticas sustentáveis, como o Pagamento por Serviços Ambientais (PSA), que é um incentivo econômico para quem preserva ecossistemas. Essa abordagem pode tornar a conservação ambiental financeiramente viável, reduzindo a pressão sobre as florestas.
A educação ambiental também desempenha um papel fundamental. A conscientização da população sobre a importância das florestas pode incentivar práticas mais sustentáveis e aumentar a pressão por ações governamentais mais eficazes. A atuação de parlamentares e governantes também precisa ser mais comprometida, evitando retrocessos na legislação ambiental e garantindo investimentos em políticas de adaptação climática.
A chave para enfrentar a crise climática e reduzir o impacto das ondas de calor está na combinação de conservação ambiental, desenvolvimento sustentável e políticas públicas robustas. Proteger nossas florestas não é apenas uma questão ecológica, mas uma necessidade urgente para garantir a qualidade de vida das futuras gerações.
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