A menopausa, período marcado pela interrupção da menstruação e por alterações hormonais significativas, afeta diretamente a vida profissional de milhões de mulheres. No Brasil, elas representam uma parcela crescente da força de trabalho, mas ainda enfrentam dificuldades para se manterem empregadas e produtivas durante essa fase da vida. De acordo com o IBGE, as mulheres com 50 anos ou mais compõem cerca de 15% da população brasileira, totalizando 33,6 milhões de pessoas em 2024.
Muitas delas continuam economicamente ativas, seja por necessidade financeira ou por desejo de manter a independência e a realização profissional. No entanto, os sintomas da menopausa, como fadiga, insônia, ondas de calor, lapsos de memória e alterações de humor, são frequentemente ignorados no ambiente de trabalho, contribuindo para um cenário de invisibilidade e preconceito etário.
Os efeitos da menopausa podem comprometer o desempenho profissional de diversas maneiras. Estudos apontam que mais de 60% das mulheres na menopausa relatam dificuldades de concentração e memória, fenômeno conhecido como "névoa mental". Além disso, sintomas como ondas de calor e suores noturnos impactam diretamente o sono, levando à fadiga crônica e a uma queda no rendimento.
Falta de flexibilidade
Apesar da menopausa ser uma experiência universal para as mulheres, poucos ambientes corporativos oferecem suporte adequado para essa fase. A falta de políticas inclusivas e de flexibilidade no trabalho pode levar ao aumento de pedidos de afastamento e até à saída precoce do mercado.
O etarismo também pesa sobre essas profissionais. Segundo um levantamento da consultoria IDados, a taxa de desemprego entre pessoas com mais de 50 anos é superior à média nacional, e muitas enfrentam dificuldades para conseguir novas oportunidades. Segundo o estudo, em 2012, o número de desempregados acima de 50 anos era de 508,9 mil pessoas, já em 2022, eles eram 1,4 milhão de pessoas em busca de uma recolocação.
Embora os desafios sejam grandes, algumas empresas começam a adotar políticas para acolher melhor as profissionais 50+. A implementação de programas de bem-estar, flexibilidade de horários e treinamentos sobre menopausa são algumas medidas que ajudam a reter esse talento.
Quase R$ 2 bilhões impulsionados por mulheres na menopausa
Enquanto o mercado de trabalho ainda ignora muitas das necessidades das mulheres acima dos 50 anos, a indústria farmacêutica e de bem-estar tem se mobilizado para atender essa parcela da população. O jornal Folha de São Paulo publicou uma reportagem que destaca uma pesquisa da empresa americana Grand View Research, que mostrou o grande volume das vendas globais de suplementos e medicamentos sem prescrição para mulheres na menopausa: US$ 17,8 bilhões (R$ 103,2 bilhões) em 2024, um aumento de 28% em relação a 2019.
A matéria mostrou ainda que, no Brasil, esse mercado movimentou US$ 384,4 milhões (R$ 1,88 bilhão) em 2024, com expectativa de alcançar US$ 527 milhões (R$ 3 bilhões) até 2030, segundo a Grand View Research. A crescente demanda por produtos voltados a esse público reflete uma mudança no consumo e na forma como essas mulheres cuidam da própria saúde.
Empresas como Sanavita, Essity e Vichy têm investido em linhas específicas para aliviar os sintomas da menopausa. A Sanavita, fabricante de suplementos de Piracicaba-SP, lançou a linha Menoprevin, com vitaminas e minerais voltados para o bem-estar feminino.
A marca sueca Issviva, voltada exclusivamente para mulheres na menopausa, lançou suplementos em goma e prepara a chegada de um aparelho de estimulação pélvica, já popular no Reino Unido. Na área de dermocosméticos, a Vichy, da L’Oréal, aposta no Neovadiol, um creme formulado para minimizar os efeitos da menopausa na pele.
No Brasil, empresas como a Natura e a Raia Drogasil têm investido em ações voltadas ao público feminino maduro, incluindo o lançamento de suplementos específicos para amenizar os sintomas da menopausa. A rede de farmácias, por exemplo, lançou um autoteste de menopausa com a marca própria Needs.
Embora a indústria enxergue as mulheres 50+ como um público consumidor relevante, a mesma valorização ainda não acontece no mercado de trabalho. A luta por um ambiente profissional mais inclusivo e respeitoso para mulheres na menopausa continua sendo um desafio, mas a crescente visibilidade do tema pode ser um passo fundamental para mudanças estruturais no futuro.
O debate sobre menopausa no trabalho precisa avançar. Enxergar essas mulheres como uma força produtiva, não como profissionais em declínio é fundamental para um mercado de trabalho mais inclusivo e diversificado. A longevidade da população exige uma revisão das práticas corporativas, garantindo que essas mulheres possam seguir ativas e valorizadas.
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