Nesta semana, milhares de estudantes voltaram às aulas nas redes pública e particular de ensino. Período de rever amigos e iniciar mais um ano letivo. E com ele, surge a ansiedade entre crianças e adolescentes, o que tem se tornado uma preocupação crescente nos últimos anos. Dados do Ministério da Saúde apontam um aumento expressivo nos atendimentos relacionados a transtornos de ansiedade no Sistema Único de Saúde (SUS) ao longo da última década. Entre crianças de 10 a 14 anos, o crescimento foi de 1,575%, enquanto entre adolescentes de 15 a 19 anos, o aumento chegou a 4,.423%.
Fatores como o uso excessivo de dispositivos eletrônicos (agora proibidos de serem usados em sala de aula), pressões sociais e acadêmicas contribuem significativamente para o agravamento da saúde mental dos jovens. Com a chegada do período de volta às aulas, muitos estudantes enfrentam desafios adicionais que podem intensificar sintomas de ansiedade.
(Foto: Tânia Rêgo / Agência Brasil)
O retorno à rotina escolar pode ser motivo de estresse para muitas crianças e adolescentes. A expectativa de um novo ambiente, a cobrança por bom desempenho, a necessidade de se enturmar e, em alguns casos, o medo de enfrentar situações de bullying são alguns dos fatores que elevam os níveis de ansiedade nesse período.
Um estudo publicado na Revista Psicologias em Movimento aponta que o transtorno de ansiedade infantil está se tornando cada vez mais comum e pode impactar significativamente o desempenho escolar e o desenvolvimento socioemocional das crianças. Segundo a pesquisa, a pressão por boas notas, as dificuldades nas interações sociais e o ambiente competitivo dentro das escolas podem intensificar quadros de ansiedade, prejudicando a capacidade de concentração e aprendizado. Além disso, o estudo ressalta que crianças ansiosas tendem a evitar desafios acadêmicos e apresentar maior insegurança em avaliações, criando um ciclo que afeta tanto o rendimento escolar quanto a autoestima.
Para algumas crianças, o ambiente escolar pode representar um espaço de insegurança, já que muitos alunos sentem uma pressão significativa para corresponder às expectativas acadêmicas e sociais. O receio de rejeição ou de situações constrangedoras pode intensificar o quadro de ansiedade.
O impacto da transição entre diferentes fases da educação é um fator relevante. Crianças que passam da educação infantil para o ensino fundamental ou adolescentes que iniciam o ensino médio podem sentir uma carga emocional maior devido às mudanças na rotina e nas exigências acadêmicas.
A exposição prolongada a dispositivos eletrônicos é um dos fatores apontados como contribuintes para o aumento dos casos de ansiedade entre os jovens, isso porque o tempo excessivo diante das telas compromete atividades essenciais para o desenvolvimento infantil, como brincadeiras ao ar livre, interações sociais e práticas esportivas.
Estratégias para evitar a ansiedade
O presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria, Clóvis Francisco Constantino, explicou em entrevista ao portal de notícias G1 que o uso excessivo de celulares pode afetar até mesmo o sono de crianças e adolescentes, prejudicando a qualidade do descanso e, consequentemente, agravando problemas emocionais. "É necessário equilibrar o uso dos dispositivos, incentivando atividades ao ar livre, limites claros no tempo de tela e maior acompanhamento dos pais e cuidadores", recomenda.
Diante do crescimento dos casos de ansiedade e do impacto da volta às aulas na saúde mental dos estudantes, pais e educadores desempenham um papel essencial no apoio à adaptação dos jovens. Algumas estratégias podem ajudar a tornar essa transição mais suave:
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Diálogo aberto: manter uma comunicação sincera e acolhedora com as crianças e adolescentes é fundamental. Perguntar sobre seus sentimentos e preocupações pode ajudar a identificar sinais precoces de ansiedade.
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Rotina estruturada: estabelecer horários regulares para sono, estudo, lazer e alimentação contribui para a sensação de previsibilidade e segurança.
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Acompanhamento psicológico: em casos mais graves, o suporte profissional pode ser necessário. Psicólogos especializados em infância e adolescência podem auxiliar no desenvolvimento de estratégias para lidar com a ansiedade.
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Incentivo a atividades físicas: esportes e brincadeiras ao ar livre ajudam a reduzir os níveis de estresse e ansiedade, além de promoverem um estilo de vida mais saudável.
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Monitoramento do uso de tecnologia: estabelecer limites saudáveis para o uso de telas e incentivar atividades offline pode minimizar os impactos negativos do consumo excessivo de conteúdo digital.
As instituições de ensino também têm um papel essencial no bem-estar emocional dos alunos. Programas de educação socioemocional, treinamentos para professores identificarem sinais de ansiedade e bullying, e a presença de profissionais da psicologia escolar podem fazer a diferença na vida de crianças e adolescentes.
Com a crescente discussão sobre saúde mental infantojuvenil, é essencial que sociedade, famílias e escolas atuem juntas para criar um ambiente mais saudável e acolhedor para crianças e adolescentes. O retorno às aulas pode ser desafiador, mas com o suporte adequado, os estudantes podem enfrentar esse período de forma mais equilibrada e segura.
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