O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem 2024), realizado por mais de três milhões de estudantes, trouxe à tona uma queda preocupante nos desempenhos de diversas áreas de conhecimento. A diminuição no número de candidatos que alcançaram a nota máxima na redação, de 60 em 2023 para apenas 12 em 2024 - sendo o menor número em dez anos -, gerou um alerta no Ministério da Educação (MEC), que se comprometeu a realizar estudos detalhados para entender as causas dessa queda de desempenho.
Embora a média geral tenha apresentado um pequeno aumento, as notas de algumas disciplinas, especialmente Ciências da Natureza e Matemática, registraram uma diminuição significativa, refletindo um cenário de desafios educacionais ainda mais intensos.
O Enem é a principal porta de entrada para o ensino superior no Brasil, tanto em instituições públicas quanto privadas, além de ser utilizado para programas como o Sistema de Seleção Unificada (Sisu), o Programa Universidade para Todos (Prouni) e o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies). O exame, que avalia os conhecimentos dos alunos nas áreas de Ciências Humanas, Ciências da Natureza, Matemática e Linguagens, além da redação, tem um papel crucial no futuro acadêmico e profissional dos jovens brasileiros. Por isso, o desempenho no Enem serve não apenas como um reflexo do aprendizado, mas também como um indicador da qualidade do ensino básico no país.
Em 2024, o exame revelou dados alarmantes, com destaque para a queda no desempenho de áreas fundamentais, como Ciências da Natureza, onde a média caiu 32 pontos em comparação com 2023, e Matemática, que teve uma redução de seis pontos. Esse cenário se torna ainda mais preocupante diante da constante discussão sobre a qualidade do ensino no Brasil e a desigualdade educacional que afeta as escolas públicas, especialmente nas regiões mais carentes.
Ao analisar os dados do Enem 2024, é possível identificar uma série de fatores que podem ter influenciado a queda nas áreas de Ciências da Natureza e Matemática. A média geral de Matemática, por exemplo, foi de 529 pontos, o que representou uma queda de seis pontos em relação a 2023. Essa diminuição não é apenas um reflexo do desempenho dos alunos, mas também um sintoma de um sistema educacional que não tem conseguido suprir a demanda por ensino de qualidade nessas áreas.
Em Ciências da Natureza, a situação foi ainda mais grave. A média caiu 32 pontos, indo de 497 em 2023 para 465 em 2024. As provas dessa área exigem habilidades complexas, como a aplicação de conceitos científicos em situações do cotidiano e a resolução de problemas envolvendo múltiplas variáveis.
A pandemia de Covid-19 e o impacto da educação remota, com a interrupção do calendário escolar, também podem ter afetado de maneira significativa o aprendizado dos estudantes em disciplinas que exigem maior dedicação e prática, como as ciências e a matemática.
Por outro lado, Linguagens foi a única área que apresentou um pequeno aumento no desempenho, com a média subindo de 526 para 538 pontos.
Menor número de nota máxima na redação em dez anos
O desempenho na redação também chamou a atenção. Em 2024, apenas 12 candidatos conseguiram a nota máxima de 1.000, um número 80% inferior ao registrado em 2023. No ano passado, 60 estudantes haviam atingido a nota máxima, o que indicava um nível de excelência maior entre os participantes. A redação do Enem, que exige do estudante a capacidade de argumentação, coesão textual e a apresentação de soluções para problemas sociais, é uma das partes mais desafiadoras do exame.
Falta de preparo nas escolas
Neste ano, o tema abordado foi “Desafios para a valorização da herança africana no Brasil”, um tópico que exige não apenas conhecimento histórico, mas também habilidades analíticas para conectar diferentes áreas do saber, como história, sociologia e cultura. A redução no número de notas máximas pode indicar que muitos estudantes não conseguiram aprofundar-se adequadamente no tema ou não dominaram os critérios exigidos pela correção.
Além disso, a falta de um ensino robusto de redação nas escolas, que prepare os alunos para os desafios específicos do exame, pode ser um fator determinante, principalmente nas escolas públicas, afinal, apenas um estudante entre os que tiraram mil nesta edição era da rede pública.
Apesar da preocupação com a queda nos desempenhos do Enem 2024, os desafios educacionais no Brasil são muito maiores e exigem reformas estruturais. A desigualdade no acesso à educação de qualidade, especialmente em áreas rurais e periferias urbanas, continua sendo um dos principais obstáculos para a formação de cidadãos preparados para os desafios do mercado de trabalho e do ensino superior.
A educação básica no Brasil precisa passar por uma transformação profunda. Além de melhores políticas públicas e investimentos, é essencial que os professores sejam melhor capacitados e recebam condições adequadas de trabalho, já que são eles os responsáveis diretos pela formação dos estudantes. As escolas precisam investir em metodologias mais modernas e atraentes, utilizando tecnologias digitais e práticas interativas para envolver os alunos e melhorar o aprendizado.
Menor desempenho em áreas essenciais
Os resultados do Enem 2024 revelaram uma queda no desempenho dos alunos em áreas essenciais do conhecimento, colocando em xeque a qualidade do ensino básico no Brasil. Apesar de uma pequena melhora na área de Linguagens, a diminuição nas médias de Matemática e Ciências da Natureza é preocupante e exige ações urgentes por parte do governo e das instituições de ensino. O Enem, como reflexo do ensino no Brasil, será um dos principais termômetros para medir o sucesso dessas mudanças nos próximos anos.
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