“Para os que sofrem com problemas respiratórios, como bronquite, asma e enfisema pulmonar,
Condicionadores de ar consomem, em média, 50 vezes mais energia que um ventilador, além de aumentar a conta de luz e a emissão de gases do efeito estufa
os locais contaminados podem desencadear um quadro de crise alérgica e chegar à pneumonia”
Em períodos de recordes de calor no Brasil, suas implicações para a saúde têm deixado especialistas em conforto térmico, de cabeça quente. Literalmente. Geralmente, no verão, a população costuma recorrer aos ventiladores e/ou ar-condicionado para enfrentar dias e noites sufocantes.
No entanto, para o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC, sigla em inglês), acima de 32ºC não se deve usar ventilador sob o risco de agravar a exaustão pelo calor em vez de amenizá-la. Já a Organização Mundial de Saúde (OMS) preconiza que o limite é 40ºC.
O único consenso é que pouco se sabe sobre a tolerância e as reações do corpo humano ao estresse térmico e menos ainda sobre o que pode ocorrer à medida que o mundo esquenta. Para idosos, crianças pequenas e pessoas com comorbidades e sem acesso ao ar condicionado, não há respostas baseadas na ciência.
Ventilador
Por enquanto, pesquisadores informam que o ventilador funciona melhor em condições de calor úmido porque remove o suor e, assim, ajuda a resfriar a pele. Suar é um dos principais mecanismos pelos quais o corpo tenta eliminar o calor e evitar superaquecer, condição potencialmente letal e que, no mínimo, causa mal-estar.
Já quando a umidade é baixa e o suor evapora normalmente, o ventilador lança vento quente em alta velocidade sobre o corpo. Nessas condições, em vez de aliviar, aumenta a sensação de calor e os seus efeitos nocivos. Isso quer dizer que no calorão de meio de ano, quando o calendário diz que é inverno, mas este não se manifesta, o ventilador só aumenta o desconforto. Os meses de inverno costumam ser mais secos. Mas, no restante do ano, quando a umidade é maior, o ventilador é útil, pois ajuda a remover o suor quente.
Considerado um dos maiores especialistas do mundo em conforto térmico, o professor Ollie Jay, da Universidade de Sydney, na Austrália, defende que o corpo humano pode se beneficiar do vento provido por ventiladores em temperaturas superiores a 35ºC. Porém, a umidade é o fator decisivo. Ele baseia sua afirmação numa série de experiências com pessoas submetidas a estresse térmico em câmaras especiais e em modelagens computacionais.
Ar condicionado
A OMS considera que somente ambientes refrigerados são realmente seguros para a saúde em dias de calor extremo. O uso de ar condicionado mantém a produtividade de atividades em ambientes internos, e, em hospitais, a refrigeração diminui a mortalidade durante ondas de calor em 40%. O ideal é que o aparelho mantenha a temperatura ambiente entre 22ºC e 25ºC, não importando a medição no exterior.
Importante lembrar que condicionadores de ar consomem, em média, 50 vezes mais energia que um ventilador. Aumentam a conta de luz e a emissão de gases do efeito estufa, sendo, portanto, um problemão para a economia e o planeta.
No Brasil, dados da Eletrobras de 2019 (Pesquisa de Posse e Hábitos de Uso de Equipamentos Elétricos de Classe Residencial), os mais recentes disponíveis, revelam que somente 13,91% dos domicílios do país dispõem do aparelho.
Proliferação de micro-organismos
O uso destes equipamentos requer cuidados intensos com a higiene. Com o calorão, a tendência é manter o aparelho ligado de forma constante no trabalho, em casa e no veículo. No entanto, durante o dia, o ideal é manter os ambientes arejados e as janelas abertas. Quando esse cenário não é possível, a manutenção do ar-condicionado deve ser observada com muita atenção, com a troca antecipada dos filtros e dutos.
“A proliferação de micro-organismos pode acontecer através do ar-condicionado, pois o filtro concentra uma infinidade de bactérias e fungos. Se não for limpo adequadamente, o aparelho lança no ambiente os micro-organismos, que ficam circulando no local fechado”, explica o otorrinolaringologista Carlos Barone.
Segundo o médico, a limpeza dos ventiladores deve ser realizada de forma regular, com o uso de um pano úmido, álcool e produtos de limpeza: “Para os pacientes que sofrem com problemas respiratórios, como bronquite, asma e enfisema pulmonar, os locais contaminados podem desencadear um quadro de crise alérgica e chegar à pneumonia”.
Já a periodicidade da manutenção do ar-condicionado depende de uma série de fatores, de acordo com o especialista. Quem tem animal de estimação, por exemplo, deve fazer a troca do filtro do aparelho com frequência maior.
Sintomas frequentes
Um dos efeitos colaterais do uso inadequado do ar-condicionado e do ventilador, citado por Barone, é o ressecamento da via aérea. “Esse problema pode ser evitado com uma boa hidratação, especialmente para as pessoas que ficam o dia inteiro em locais intensamente refrigerados. Na hora do descanso, é importante colocar no quarto um umidificador de ar ou uma bacia de água, para manter a umidade do ar no ambiente. No trabalho, é importante lavar as fossas nasais com soro fisiológico, constantemente”, orienta o médico.
Ele explica que a baixa umidade do ar reduz a função fisiológica do nariz de filtrar e aquecer a região. As consequências podem chegar em forma de irritação das vias aéreas, que por sua vez causam dor de cabeça, irritação ocular, congestão nasal e tosse. A rinite alérgica é um dos sintomas mais frequentes do uso inadequado do ar condicionado.
Outro cuidado diz respeito às variações bruscas de temperatura, que podem desencadear desde irritação da mucosa da via aérea até arritmia cardíaca, queda de pressão, tontura, desmaio e paralisia facial, especialmente em idosos e crianças. “O ideal é manter a temperatura entre 20 e 21 graus e sempre fazer uso de casaco, que ameniza a sensação térmica na troca de ambientes”, indica Barone.
(Fontes: O Globo e blog.hospitalbadim.com.br)
*Veja mais reportagens sobre o verão no Caderno Z desta edição
Deixe o seu comentário