Temperatura fatal. 2024, o ano mais quente da história da humanidade

Previsão do Copernicus confirma que 2024 bateu o recorde de 2023 como o ano mais quente
sexta-feira, 13 de dezembro de 2024
por Jornal A Voz da Serra
(Foto: Freepik)
(Foto: Freepik)
A duas semanas de terminar o ano, 2024 já é considerado o ano mais quente na história da humanidade. A informação consta no último relatório do Observatório Copernicus, da União Europeia. Com isso, 2024 supera 2023, atual detentor do recorde de temperatura global, e mostra que estamos cada vez mais em um caminho rumo ao caos climático. 

Registros de país com bolsões importantes de clima úmido apontam que o impacto do calor é diferente
Além disso, esse ano também deve ser a primeira vez em que teremos um aumento da temperatura global de mais de 1,5ºC acima dos níveis pré-industriais. Esse valor é o limite previsto no Acordo de Paris e o considerado como crítico para os cientistas. 

Para reverter essa classificação — isto é, para que 2024 não fosse mais quente que 2023 —, a anomalia de temperatura média para os últimos dois meses restantes do ano teria que diminuir em uma quantidade sem precedentes, chegando quase a zero. O que não ocorreu, muito pelo contrário. 

Segundo a análise, entre janeiro e novembro de 2024, as temperaturas médias globais ficaram 0,72°C acima da média de 1991 a 2020. Esse é o maior valor já registrado para esse intervalo e 0,14°C superior ao mesmo período de 2023. Novembro registrou ainda altas temperaturas nos oceanos. A média da superfície na maior parte dos oceanos foi de 20,58°C, a segunda temperatura mais alta já vista para o mês, abaixo apenas de 2023.

Calor e mortes nos países tropicais

Com o aumento das ondas de calor cada vez mais frequentes, aumenta também a preocupação dos médicos com os idosos, grupo em que a taxa de mortalidade sob altas temperaturas é maior hoje. Porém, um estudo que analisou estatísticas de óbitos e o histórico meteorológico do México, mostram que em países tropicais o grupo mais afetado no futuro pode ser o dos jovens.

O novo trabalho, realizado por cientistas americanos, foi um dos primeiros a usar para este fim os registros de um país com bolsões importantes de clima úmido, onde o impacto do calor se dá de forma diferente. Nessas regiões tropicais, à medida que a crise do clima avança, o aumento no número de óbitos de idosos por calor deve ser similar à queda do número de óbitos por frio. Esse efeito de compensação, porém, não deve ocorrer entre os mais jovens.

Os cientistas mostram como chegaram a essa conclusão em um artigo publicado na revista Science Advances. Primeiro, eles recolheram dados de óbitos do país de 1999 a 2019. Depois, cruzaram esses dados com informações de temperatura e umidade de estações meteorológicas em cada lugar.

Isso os permitiu saber qual era o perfil etário de pessoas das mortes excedentes em cada lugar, exibindo excesso de calor ou frio. Esse cálculo foi feito tanto em número de mortes absolutas quanto em número de anos de vidas perdidos, considerando a expectativa de vida para a pessoa.

“Pessoas abaixo de 35 anos representam 75% das mortes relacionadas a calor e 87% dos anos de vida perdidos, enquanto aqueles com 50 ou mais representam 96% das mortes relacionadas por frio e 80% dos anos de vidas perdidos para o frio”, diz o estudo, liderado pelo cientista Andrew Wilson, da Universidade Stanford, da Califórnia (EUA).

Quando esses dados são projetados para o futuro, levando em conta um cenário medianamente pessimista de aquecimento global, deverá ocorrer uma transferência de mortes do grupo idoso para o jovem no México, porque o calor vai piorar, enquanto o frio vai se atenuar. “As mortes por extremos de temperatura entre aqueles menores de 35 anos vão subir 32%, enquanto entre outros grupos etários vão cair 33%.”

Clima úmido dificulta dissipação do calor no corpo

Para chegar a essa conclusão, a umidade do ar é um dos fatores cruciais usados pelos cientistas na pesquisa. Isso acontece porque a capacidade do corpo humano de dissipar calor é menor quando o clima está mais úmido, porque em vez de a transpiração evaporar ela se acumula como suor líquido, sem extrair o calor do corpo para o ar.

Na pesquisa, os cientistas levaram em conta a temperatura de bulbo úmido, comumente medida em estações meteorológicas, com sensores dos termômetros embebidos em água. É uma métrica mais adequada para inferir a sensação de calor.

Por exemplo, se a temperatura de bulbo úmido (temperatura que se sente quando a pele está molhada e exposta a movimentação de ar) supera os 35°C (similar à temperatura de base do corpo humano), as pessoas simplesmente não conseguem suportar o ambiente por muito tempo, e problemas médicos começam a surgir.

O estudo de Andrew e seus coautores deve ser uma contribuição importante para a área, porque muitos estudos projetando mortes por calor usaram majoritariamente dados de países temperados, com verão mais seco. A escolha do México para esta primeira análise se deu também pelo alto detalhamento e qualidade dos registros de mortalidade no país.

“Mas é razoável imaginar que esses resultados devem se repetir em outros países, especialmente se eles possuem similaridades em suas estruturas industrial, climática e de renda. O México e o Brasil são parecidos em muitas dessas dimensões”, diz Wilson. “Já estamos conduzindo uma análise similar sobre o Brasil, mas não temos ainda um estudo publicado.”

Reações ao frio e ao calor

Uma outra frente de pesquisa a ser mais bem explorada na área é a razão específica pela qual o calor está matando mais nesses lugares. O estudo estabelece uma correlação estatística, mas os dados não apontam o mecanismo pelo qual o calor está matando mais. Segundo Wilson, pouquíssimos registros de morte têm uma relação clara com temperaturas extremas, sejam os motivos “insolação” ou “hipotermia”.

“Mas uma vasta gama de causas de morte reage à exposição ao frio e ao calor. Isso inclui as mortes por problemas cardiovasculares, respiratórios e endócrinos como diabetes”, diz o pesquisador. “Em geral, calor e frio perturbam o corpo, aumentando batimentos cardíacos e afetando coisas como transmissões de doenças, que podem levar a diversas manifestações clínicas.”

Muitos fatores sociais pesam nesse quesito, porque adultos em idade economicamente ativa se expõem mais ao calor, sobretudo aqueles com profissões que envolvem trabalho a céu aberto, como agricultores. Crianças também acabam se expondo mais às vezes, por brincarem ao ar livre e não cuidarem de beber água.

Mas há um fator fisiológico, de qualquer forma, diferenciando jovens de idosos.

“Pessoas mais velhas experimentam risco mínimo de mortalidade em temperaturas razoavelmente altas, quando essas temperaturas frequentemente são ‘quentes demais’ e trazem risco a indivíduos mais jovens”, reiterou Wilson.

 

Fontes:
  • www.osul.com.br 
  • https://olhardigital.com.br

 

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