‘Greenwashing’: a maquiagem verde utilizada por empresas e governos para limpar imagem

Termo se refere a estratégias em que instituições tentam se apresentar como ambientalmente responsáveis, sem, de fato, adotar medidas efetivas de sustentabilidade
sexta-feira, 22 de novembro de 2024
por Liz Tamane
 US Embacy & Consulates in Brazil
US Embacy & Consulates in Brazil

O conceito de greenwashing (ou “lavagem verde”, em português) tem ganhado notoriedade nos últimos anos, à medida que cresce a demanda global por práticas empresariais e governamentais mais responsáveis em relação ao meio ambiente. Esse termo se refere a estratégias em que empresas, governos ou outras instituições tentam se apresentar como ambientalmente responsáveis, sem, de fato, adotar medidas efetivas de sustentabilidade. Em muitos casos, as ações ou iniciativas propostas são mais focadas em marketing do que em mudanças estruturais que tragam impactos positivos reais para o meio ambiente.

Recentemente, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, realizou uma visita à Amazônia brasileira, um dos maiores símbolos de biodiversidade do mundo, como parte de sua agenda ambiental. Durante a visita, Biden fez declarações contundentes sobre a importância da preservação da floresta, destacando o compromisso dos Estados Unidos em colaborar com o Brasil para combater o desmatamento ilegal e proteger a Amazônia. Embora a presença do presidente e o discurso sobre a urgência de ações ambientais tenham sido bem recebidos por muitos, a visita também serviu como um exemplo de como o conceito de greenwashing pode se manifestar em ações políticas de alto perfil.

O que é Greenwashing

O greenwashing acontece quando uma organização, seja uma empresa ou governo, faz afirmações exageradas ou enganosas sobre suas credenciais ambientais para atrair consumidores ou apoio público. Essas ações buscam criar uma imagem de responsabilidade ambiental, sem que haja uma mudança real nas práticas que causam danos ao meio ambiente. Em vez de investir em soluções genuínas, o foco está na construção de uma narrativa de “sustentabilidade” que possa ser vendida para o público, mesmo que a realidade seja diferente.

Exemplos clássicos de greenwashing incluem empresas que promovem seus produtos como ecológicos, enquanto continuam a adotar práticas de produção que causam danos ambientais, como o uso de materiais não recicláveis ou a exploração de fontes de energia não renováveis. No contexto político, líderes podem fazer promessas ambientais grandiosas, mas falhar em implementar políticas concretas ou falhar na fiscalização de ações que realmente causem impactos na preservação ambiental.

Biden na Amazônia e o greenwashing político

A visita do presidente americano à Amazônia foi marcada por declarações sobre o fortalecimento de parcerias para proteger o meio ambiente e combater o desmatamento na região. O governo dos Estados Unidos se comprometeu a financiar a proteção da floresta, incluindo investimentos para monitoramento do desmatamento ilegal e apoio a práticas de manejo sustentável. No entanto, essa visita também gerou críticas, principalmente de analistas ambientais e ativistas, que alertaram para o risco de que tais compromissos não se traduzam em ações concretas e eficazes.

O presidente americano anunciou o investimento de US$ 50 milhões para o Fundo Amazônia. Um valor muito abaixo dos US$ 500 milhões prometidos anteriormente, em abril de 2023, quando ele tinha anunciado que os americanos pretendiam investir cerca de R$ 2,9 bilhões no fundo, ao longo de cinco anos. Porém, o envio desses recursos dependia da aprovação do Congresso dos Estados Unidos, que tinha maioria republicana, portanto, a possibilidade da promessa se concretizar era remota. Na verdade, os últimos US$ 50 milhões anunciados agora por Biden também precisam de aprovação, que pode não acontecer.

Biden foi o primeiro presidente dos Estados Unidos a fazer uma visita à floresta amazônica, ainda assim, ele optou por vir apenas nos últimos meses de seus quatro anos de mandato, em um momento em que os holofotes estão sobre o seu sucessor Donald Trump.

Em janeiro de 2025, Trump assume a presidência dos Estados Unidos pela segunda vez, com um histórico de desmonte de medidas pró-clima como a anulação de diversas regulações ambientais, afrouxamento de restrições sobre emissões de carbono de usinas de energia e veículos e enfraquecimento de normas sobre poluentes como o metano, além da saída do Acordo de Paris, que visa limitar o aumento da temperatura global a menos de 2ºC acima dos níveis pré-industriais. O país, porém, retornou ao acordo durante o governo Biden.

A principal crítica é que, embora os discursos, como o de Biden, sobre a proteção da Amazônia sejam positivos, a real eficácia de ações políticas globais muitas vezes esbarra em interesses econômicos, como os de grandes corporações do agronegócio, que também se beneficiam da exploração da região. É aqui que entra o conceito de greenwashing político: prometer ações ambientais grandiosas sem garantir que as políticas implementadas sejam efetivas ou sem considerar os interesses conflitantes que podem minar esses compromissos.

O impacto na sustentabilidade

O greenwashing não é apenas um problema de imagem, mas também um obstáculo significativo para o avanço da sustentabilidade global. Quando governos e empresas recorrem a táticas de greenwashing, eles desviam a atenção das ações realmente necessárias para combater as questões ambientais mais urgentes, como as mudanças climáticas, a perda de biodiversidade e a poluição. Esse fenômeno pode gerar uma falsa sensação de progresso e diminuir a pressão pública por mudanças reais.

No caso da Amazônia, a ação política internacional é essencial, mas ela precisa ser acompanhada de medidas concretas que envolvem não só investimentos financeiros, mas também a criação de políticas públicas eficazes, fiscalização rigorosa e uma transformação nos modelos de desenvolvimento que promovam a sustentabilidade. Sem isso, as promessas de preservação podem se tornar apenas palavras vazias, contribuindo para uma imagem ambiental positiva, mas sem a profundidade necessária para enfrentar os desafios ecológicos da região.

É crucial que tanto as lideranças políticas quanto as empresas assumam compromissos mais sólidos e transparentes com a sustentabilidade, adotando práticas que tenham um impacto positivo e duradouro. O futuro da Amazônia e do planeta depende de ações efetivas, que não sejam apenas fachada, mas transformações reais em prol do meio ambiente e das futuras gerações.

 

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