Economia circular e o papel dos brechós na moda sustentável

Neste Dia do Consumo Consciente entenda como o hábito de comprar roupas de segunda mão podem ser benéfico para o meio ambiente
terça-feira, 15 de outubro de 2024
por Liz Tamane
(Foto: divulgação)
(Foto: divulgação)

Nesta terça-feira, 15, foi celebrado o Dia do Consumo Consciente e sendo a indústria da moda uma das mais impactantes no meio ambiente, tanto pelo uso intensivo de recursos naturais quanto pela quantidade de resíduos gerados ao longo do ciclo de vida dos produtos, a economia circular surge como uma alternativa viável e necessária para repensar o modo de produção, consumo e descarte dos bens, especialmente vestuário. 

Um dos principais atores nessa mudança de paradigma são os brechós, que promovem o consumo consciente e sustentável através da reutilização de peças de roupa. Daniella Deslandes, idealizadora do Encontro de Brechós, traz uma visão aprofundada sobre esse movimento e como ele pode ser uma solução eficaz para os desafios ambientais que a moda enfrenta.

Os brechós desempenham um papel central na economia circular ao estender o ciclo de vida das roupas, contribuindo para a redução da demanda por novos produtos. Como explica Daniella, os brechós “promovem a reutilização de peças e diminuem o impacto ambiental da produção têxtil”.  Além de contribuir para o meio ambiente, os brechós tornam o consumo sustentável mais inclusivo, ao oferecer roupas de qualidade a preços acessíveis, o que democratiza o acesso à moda ética.

A lógica de economia linear – caracterizada pelo ciclo de "extrair, produzir, descartar" – encontra nos brechós uma barreira eficaz. Em vez das roupas serem rapidamente descartadas após um curto período de uso, elas passam a circular novamente no mercado, encontrando novos donos e prolongando sua vida útil. A reutilização de roupas também ajuda a diminuir o ritmo da produção em massa, o que, por consequência, reduz o impacto ambiental causado pelo desperdício de água, emissão de carbono e o uso de substâncias químicas nocivas na fabricação de peças novas.

Benefícios para consumidores e meio ambiente

Ao adotar a prática de comprar em brechós, os consumidores podem colher uma série de benefícios. Daniella aponta que, para os consumidores, “há roupas com preços acessíveis, achados únicos, peças vintages e de qualidade”. Esses "achados" não se referem apenas a produtos mais baratos, mas a peças que são muitas vezes de marcas renomadas ou até novas, com etiquetas, como ela mesma destaca. Para aqueles que buscam se diferenciar, os brechós oferecem a oportunidade de adquirir peças únicas, que não estão disponíveis nas grandes cadeias de lojas.

Os benefícios dos brechós vão além do que se vê à primeira vista. Segundo a Agência Europeia do Ambiente, a indústria da moda é responsável por aproximadamente 10% das emissões globais de carbono e consome quantidades enormes de água. Isso corresponde a mais do que os voos internacionais e o transporte marítimo em conjunto. Em 2017, a compra de têxteis na União Europeia, por exemplo, gerou aproximadamente 654 quilos de emissões de CO2 por pessoa. Isto significa que os produtos têxteis consumidos geraram emissões de gases com efeito de estufa de 121 milhões de toneladas.

Ao comprar roupas de segunda mão, os consumidores contribuem diretamente para a redução desses números alarmantes. Isso ocorre porque, ao reutilizar uma peça já existente, evita-se a necessidade de fabricar uma nova, poupando recursos ao longo da cadeia produtiva.

Curadoria e Sustentabilidade nos Brechós

Outro aspecto importante que diferencia os brechós é a curadoria das peças. Daniella revela que a seleção de roupas para o acervo de seu brechó segue critérios rigorosos de conservação e sustentabilidade. “As peças precisam estar em ótimo estado de conservação, priorizamos também materiais naturais ou recicláveis, como algodão orgânico e linho, ou tecidos reciclados”, explica. 

Além disso, ela destaca que muitas das roupas disponíveis em brechós são provenientes de estoques não vendidos ou doações, o que contribui ainda mais para a redução de desperdício. Dessa forma, a economia circular se torna realidade ao integrar peças que, de outra maneira, poderiam ser descartadas prematuramente.

Essa curadoria cuidadosa também serve para desfazer o estigma de que roupas de segunda mão são necessariamente de baixa qualidade. A prática comum nos brechós é oferecer itens que, além de sustentáveis, são fashion e atuais, muitas vezes até de marcas de luxo. Essa qualidade, somada ao fator acessibilidade, tem o poder de transformar a percepção pública sobre o consumo consciente, mostrando que é possível se vestir bem de forma ética.

Dicas para iniciantes no consumo consciente

Daniella também compartilha dicas valiosas para aqueles que querem começar a adotar o consumo consciente, mas ainda têm receios em relação a roupas de segunda mão. "Comece experimentando peças básicas ou acessórios de brechós", sugere. Ao iniciar aos poucos, o consumidor pode se acostumar com a ideia de reutilização sem a pressão de alterar radicalmente seus hábitos de consumo. Com o tempo, é possível descobrir que, ao contrário do que muitos imaginam, as roupas de segunda mão podem ser de alta qualidade e até exclusivas. Essa transição gradual facilita a mudança de mentalidade e ajuda o consumidor a perceber as vantagens de um consumo mais responsável e alinhado com a sustentabilidade.

Economia circular e o futuro da moda

A visão de Daniella sobre o futuro da moda é otimista, especialmente em relação ao papel da economia circular. Ela acredita que o futuro da moda está “cada vez mais ligado ao conceito de economia circular e consumo consciente”. À medida que aumenta a conscientização sobre os impactos ambientais e sociais da moda tradicional, cresce a pressão sobre marcas e consumidores para repensar suas práticas. Nesse contexto, os brechós emergem como agentes fundamentais de mudança.

Os brechós não só promovem a reutilização de peças, mas também desempenham um papel educativo ao transformar a maneira como as pessoas enxergam o consumo. Ao adotar um modelo circular, eles incentivam os consumidores a valorizar o reuso, a conservação e o cuidado com as roupas. Com isso, os brechós têm o potencial de liderar uma transformação cultural mais ampla, na qual o consumo consciente se torna a norma, e não a exceção.

A economia circular é uma resposta necessária para os desafios ambientais enfrentados pela indústria da moda, e os brechós desempenham um papel fundamental nessa transição. Além de oferecerem uma alternativa sustentável para o consumo de roupas, eles ajudam a promover uma mudança de mentalidade, onde o reuso e a conservação passam a ser vistos como escolhas éticas e conscientes. Para consumidores e meio ambiente, os benefícios são evidentes: peças únicas, preços acessíveis e uma redução significativa no impacto ambiental. 

Como conclui Daniella Deslandes, o futuro da moda está diretamente ligado ao consumo consciente, e os brechós têm a capacidade de liderar essa transformação, ajudando a criar um futuro mais sustentável e ético.

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