A Covid-19 é uma doença de transmissão respiratória, causada por um vírus chamado tecnicamente de Sars-CoV-2. Com essas características, ela foi inicialmente descrita como uma infecção viral do trato respiratório, com os efeitos esperados da infecção principalmente para órgãos como a traqueia e os pulmões.
Com o avanço da pandemia, a doença também mostrou sintomas como alterações neurológicas, de comportamento, insônia, dores musculares e nas articulações que podem durar meses, a chamada Covid-19 longa.
No entanto, a doença ainda se apresenta como um grande quebra-cabeças com várias peças fora do lugar. Estudos recentes mostram uma associação da infecção com processos inflamatórios que podem atingir o coração e outros órgãos.
Tempo para conhecer
O conhecimento científico é construído com o tempo a partir da observação e análise de um conjunto de profissionais. Quando o vírus Zika, transmitido aos humanos pelo mosquito Aedes aegypti, foi introduzido no Brasil em 2014, o conhecimento dos impactos que poderiam ser causados pela infecção era limitado.
Em outubro de 2015, a médica da maternidade pública de Campina Grande, na Paraíba, Adriana Melo, identificou o número crescente de crianças nascidas com microcefalia. Para tentar entender o que poderia estar por trás das malformações, a médica enviou para análise no Laboratório de Flavivírus do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), no Rio de Janeiro, amostras do líquido amniótico de duas gestantes, que tiveram os fetos diagnosticados com microcefalia através de exames de ultrassonografia.
Os resultados da análise constataram a presença do genoma do vírus Zika nas amostras, dando início a uma grande investigação pela comunidade científica brasileira e internacional da associação entre o vírus e a malformação de fetos. Hoje, é amplamente conhecido que o vírus é capaz de atravessar a placenta e provocar danos às crianças em desenvolvimento, levando a uma condição chamada Síndrome Congênita do Zika.
Com a Covid-19, as investigações também são contínuas e incluem um grupo diverso de especialistas, como médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, biólogos, biomédicos e virologistas, dentre outros.
O que acontece durante a infecção
A principal porta de entrada do novo coronavírus no organismo são as vias aéreas. A infecção acontece principalmente quando uma pessoa inala as partículas do vírus eliminadas por alguém contaminado, durante a tosse ou espirro.
Uma vez dentro do organismo, o vírus invade as células humanas e dá início a um processo de replicação, ou seja, um único vírus passa a produzir milhares de cópias de si mesmo. Nessa etapa, chamada de incubação, as pessoas podem não apresentar sintomas, embora já possam transmitir o vírus.
O avanço da infecção sinaliza para o sistema imunológico, responsável pela defesa do corpo, a presença de um elemento estranho no organismo.
Para combater o invasor, o sistema imune conta com dois tipos de defesa. A primeira delas, chamada inata, existe desde o nascimento e atua de forma rápida contra qualquer invasor. No entanto, a resposta inata não é específica e pode ter capacidade limitada.
Já a resposta imune adquirida consiste primeiramente na identificação do invasor, para o posterior desenvolvimento de uma estratégia de combate mais específica. Por isso, ela demora mais para ser ativada, mas pode ser mais eficaz no enfrentamento ao vírus.
Metodologias distintas
O mecanismo da resposta imune adquirida é o princípio básico das diferentes tecnologias utilizadas para a formulação das vacinas.
Embora os imunizantes possam ser desenvolvidos com metodologias distintas, como as vacinas de vírus inativado, de RNA mensageiro ou de vetor viral recombinante, o objetivo final é o mesmo: oferecer ao sistema imunológico a informação associada ao novo coronavírus para que o próprio corpo desenvolva as defesas específicas contra o microrganismo, como a produção de anticorpos neutralizantes e a indução da resposta celular.
Com o objetivo de frear a infecção, o vírus desencadeia uma resposta inflamatória no organismo. Quando exacerbada, a inflamação pode danificar as células do próprio corpo, provocando lesões em diferentes órgãos.
Como afeta o coração
Quando a inflamação atinge o miocárdio, um músculo do coração, temos uma condição chamada miocardite. Os principais sintomas são dor no peito, falta de ar e palpitações e frequência cardíaca irregular.
Pesquisas recentes indicam uma associação entre a Covid-19 e o quadro clínico cardíaco que pode levar à hospitalização, insuficiência e morte súbita.
Segundo um estudo conduzido por pesquisadores dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC), pacientes com a doença tiveram quase 16 vezes mais risco de miocardite em comparação com pessoas que não foram infectadas com o novo coronavírus. A análise considerou o período de janeiro de 2019 a maio de 2021.
De acordo com o estudo, os pacientes com miocardite eram ligeiramente mais velhos do que aqueles sem a condição. A inflamação do miocárdio também foi mais comum em homens (59,3% dos casos) do que em mulheres. A análise dos pacientes com a Covid-19 mostrou que eles tiveram 15,7 vezes o risco de miocardite em comparação com os não infectados.
As taxas de risco variaram de acordo com a idade, mostrando um maior risco para os extremos de faixa etária. Os índices foram de sete vezes para pacientes de 16 a 39 anos para mais de 30 vezes maior entre menores de 16 anos ou mais velhos que 75 anos.
Os autores do estudo do CDC destacam que o mecanismo exato da infecção pelo novo coronavírus que pode estar relacionado à miocardite permanece desconhecido. No entanto, ressaltam que a associação entre as duas condições clínicas seja provavelmente semelhante à ação de outros vírus.
A miocardite pode desaparecer com a melhora da infecção, porém alguns pacientes podem desenvolver quadros mais graves com necessidade de internação. O diagnóstico pode ser feito a partir de exames de imagem ou mais específicos, como o eletrocardiograma, que indica alterações no funcionamento do coração.
O tratamento consiste no cuidado da infecção principal, que levou à miocardite, como a Covid-19, com o uso de medicamentos sob prescrição médica que podem contribuir para a regulação das funções do coração, além do repouso. Na maior parte dos casos, os pacientes com a miocardite apresentam uma boa resposta ao tratamento, principalmente quando realizado de forma precoce.
(Com informações da CNN Brasil)
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