“Foi um caminho árduo de abusos”, diz cabeleireira mãe de três filhos

Após passar por relacionamentos abusivos, Thalassa Vaz viu no muay thai caminho para dar volta por cima
sábado, 06 de março de 2021
por Guilherme Alt (guilherme@avozdaserra.com.br)
(Fotos: Henrique Pinheiro)
(Fotos: Henrique Pinheiro)

Não é exagero falar que praticamente toda mulher já passou por alguma situação em que se viu violentada. Da tortura psicológica até a agressão física, toda mulher sabe o que é conviver com o medo de um relacionamento abusivo. É por isso que tem sido cada vez mais comum as mulheres praticarem artes marciais. É uma tentativa para aprender a se defender. Mas a atividade tem sido importante não apenas para o físico, mas também para o emocional, sendo inclusive recomendada por profissionais da área de saúde mental.

Em Nova Friburgo, Thalassa Vaz, mãe de três filhos pequenos e que trabalha por conta própria como cabeleireira, conviveu por muito tempo com relacionamentos abusivos. Thalassa encontrou no muay thai a fonte para expurgar as terríveis experiências. Segundo ela, não é só sobre aprender a se defender, mas sobre realizar um trabalho mental.

Ela explica que sua experiência pode servir de lição e faz um alerta para outras mulheres: “Mesmo sendo um assunto delicado e doloroso, me sinto bem em me empoderar e encorajar pessoas. A violência, muitas vezes, vem de forma tão sutil e velada que não conseguimos ter a percepção do acontecido”, alerta.

“Passei por diversos abusos”, lembrou a cabelereira. “O (abuso) sexual aconteceu na minha adolescência, o que me levou a mágoas e rebeldia. Na infância, também passei por violência. Na vida adulta, (passei) pelo abuso físico e psicológico”, conta. Este último, segundo Thalassa, veio disfarçado de amor e cuidado e por isso, a cabeleireira se colocava em uma posição de duvidar da própria sanidade. Seu ex-companheiro usou de sarcasmo, ironia e uma boa posição social para tentar diminuí-la intelectualmente e moralmente. “Nessa relação foi usado todo tipo de munição para me ferir. Ele tentou manipular familiares, amigos e conhecidos. Fui induzida a tomar medicamentos, fui dopada, houve chantagem emocional, até chegar a agressão física”, contou Thalassa que passou por todos esses problemas em três relacionamentos. “Foi um caminho árduo de abusos”, define. 

Coragem para denunciar e a importância da terapia 

Cansada de sofrer com os traumas, Thalassa resolveu denunciar seu agressor. Após entrar em contato com as autoridades, ela contou que se sentiu segura e confiante. A partir daí iniciou-se um processo de auto encorajamento. “Busquei os meus direitos e rompi com o ciclo da violência”, disse ela que ainda destacou que não é preciso ter hematomas na pele para que seja configurada a violência. “Se fere a autoestima e limita seus direitos, é de extrema importância (fazer) a denúncia", frisa. 

O segundo passo, continuou Thalassa, foi aceitar a importância da terapia. “A terapia me possibilitou a descoberta do caminho para o autoconhecimento, a solução de conflitos e a melhora da saúde. Me fez construir comportamentos melhores e tem me ensinado a me relacionar com meus pensamentos de maneira diferente, para que eu pudesse viver a vida que desejo”, diz. 

Atividade física se torna uma aliada

A terapia devolveu a autoestima de Thalassa. Segundo a cabeleireira, sua psicóloga incentivou-a a cuidar do corpo. Sem abandonar a terapia, começou a se cuidar e viu nas artes marciais uma oportunidade para aliar atividade física e adquirir conhecimento em defesa pessoal. “Meu professor Pablo Barros, no estúdio Notorius, é um professor de excelência. Ele sempre respeitou meus limites, tanto emocional quanto físico, sempre frisando o respeito, a tolerância e a consciência de que o treinamento não deve estimular o engrandecimento de uma pessoa sobre a outra”, conta Thalassa.

Pablo Barros alerta que o muay thai não é uma defesa pessoal específica, mas que ao praticar esta modalidade é normal o aluno aprender a se defender. “Normalmente os alunos quando começam os treinos ainda estão um pouco fechados e é difícil conhecê-los ao ponto de saber sua história, mas a gente sabe que a luta como um todo ajuda muito as mulheres para essa questão de defesa pessoal. As aulas ajudam a mulher a ter uma noção de como reagir caso seja necessário, mas principalmente servem para desestressar. Elas chegam com adrenalina alta e saem daqui relaxadas. É muito bom ter a confiança dos profissionais de saúde mental ao ponto de que se recomende uma atividade física como a nossa, com certeza ajuda bastante no tratamento e na recuperação da autoconfiança”, acredita.

“Todo esse processo de autocuidado só me trouxe benefícios. Hoje tenho alegria, foco, bom desempenho no trabalho, mais disposição e complacência com meus familiares e amigos. Consigo identificar gatilhos e buscar caminhos para o processo de cura. Esse caminho pode ser doloroso inicialmente, mas descobrir nosso poder de resiliência e superação é indescritível, nos torna fortes e preparados para a vida”, comemorou Thalassa.

 

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