Não é exagero falar que praticamente toda mulher já passou por alguma situação em que se viu violentada. Da tortura psicológica até a agressão física, toda mulher sabe o que é conviver com o medo de um relacionamento abusivo. É por isso que tem sido cada vez mais comum as mulheres praticarem artes marciais. É uma tentativa para aprender a se defender. Mas a atividade tem sido importante não apenas para o físico, mas também para o emocional, sendo inclusive recomendada por profissionais da área de saúde mental.
Em Nova Friburgo, Thalassa Vaz, mãe de três filhos pequenos e que trabalha por conta própria como cabeleireira, conviveu por muito tempo com relacionamentos abusivos. Thalassa encontrou no muay thai a fonte para expurgar as terríveis experiências. Segundo ela, não é só sobre aprender a se defender, mas sobre realizar um trabalho mental.
Ela explica que sua experiência pode servir de lição e faz um alerta para outras mulheres: “Mesmo sendo um assunto delicado e doloroso, me sinto bem em me empoderar e encorajar pessoas. A violência, muitas vezes, vem de forma tão sutil e velada que não conseguimos ter a percepção do acontecido”, alerta.
“Passei por diversos abusos”, lembrou a cabelereira. “O (abuso) sexual aconteceu na minha adolescência, o que me levou a mágoas e rebeldia. Na infância, também passei por violência. Na vida adulta, (passei) pelo abuso físico e psicológico”, conta. Este último, segundo Thalassa, veio disfarçado de amor e cuidado e por isso, a cabeleireira se colocava em uma posição de duvidar da própria sanidade. Seu ex-companheiro usou de sarcasmo, ironia e uma boa posição social para tentar diminuí-la intelectualmente e moralmente. “Nessa relação foi usado todo tipo de munição para me ferir. Ele tentou manipular familiares, amigos e conhecidos. Fui induzida a tomar medicamentos, fui dopada, houve chantagem emocional, até chegar a agressão física”, contou Thalassa que passou por todos esses problemas em três relacionamentos. “Foi um caminho árduo de abusos”, define.
Coragem para denunciar e a importância da terapia
Cansada de sofrer com os traumas, Thalassa resolveu denunciar seu agressor. Após entrar em contato com as autoridades, ela contou que se sentiu segura e confiante. A partir daí iniciou-se um processo de auto encorajamento. “Busquei os meus direitos e rompi com o ciclo da violência”, disse ela que ainda destacou que não é preciso ter hematomas na pele para que seja configurada a violência. “Se fere a autoestima e limita seus direitos, é de extrema importância (fazer) a denúncia", frisa.
O segundo passo, continuou Thalassa, foi aceitar a importância da terapia. “A terapia me possibilitou a descoberta do caminho para o autoconhecimento, a solução de conflitos e a melhora da saúde. Me fez construir comportamentos melhores e tem me ensinado a me relacionar com meus pensamentos de maneira diferente, para que eu pudesse viver a vida que desejo”, diz.
Atividade física se torna uma aliada
A terapia devolveu a autoestima de Thalassa. Segundo a cabeleireira, sua psicóloga incentivou-a a cuidar do corpo. Sem abandonar a terapia, começou a se cuidar e viu nas artes marciais uma oportunidade para aliar atividade física e adquirir conhecimento em defesa pessoal. “Meu professor Pablo Barros, no estúdio Notorius, é um professor de excelência. Ele sempre respeitou meus limites, tanto emocional quanto físico, sempre frisando o respeito, a tolerância e a consciência de que o treinamento não deve estimular o engrandecimento de uma pessoa sobre a outra”, conta Thalassa.
Pablo Barros alerta que o muay thai não é uma defesa pessoal específica, mas que ao praticar esta modalidade é normal o aluno aprender a se defender. “Normalmente os alunos quando começam os treinos ainda estão um pouco fechados e é difícil conhecê-los ao ponto de saber sua história, mas a gente sabe que a luta como um todo ajuda muito as mulheres para essa questão de defesa pessoal. As aulas ajudam a mulher a ter uma noção de como reagir caso seja necessário, mas principalmente servem para desestressar. Elas chegam com adrenalina alta e saem daqui relaxadas. É muito bom ter a confiança dos profissionais de saúde mental ao ponto de que se recomende uma atividade física como a nossa, com certeza ajuda bastante no tratamento e na recuperação da autoconfiança”, acredita.
“Todo esse processo de autocuidado só me trouxe benefícios. Hoje tenho alegria, foco, bom desempenho no trabalho, mais disposição e complacência com meus familiares e amigos. Consigo identificar gatilhos e buscar caminhos para o processo de cura. Esse caminho pode ser doloroso inicialmente, mas descobrir nosso poder de resiliência e superação é indescritível, nos torna fortes e preparados para a vida”, comemorou Thalassa.
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