A crise na Saúde de Nova Friburgo parece mesmo não ter fim. São inúmeras as reclamações de pacientes e acompanhantes do Hospital Municipal Raul Sertã sobre a falta de médicos, de manutenção, de medicamentos, entre outros problemas que já se arrastam há anos e se agravaram, sobretudo, nos últimos dois anos. E para piorar a situação, a pandemia da Covid-19 sobrecarregou ainda mais as unidades hospitalares de todo o país.
No entanto, o que já funcionava precariamente pode estar próximo de entrar em colapso, segundo denunciou o cirurgião plástico e atual diretor médico do Hospital Municipal Raul Sertã, José Cláudio Alonso, em áudio encaminhado a um grupo de médicos, mas que acabou vazando. A VOZ DA SERRA teve acesso ao áudio e confirmou a autoria com o médico.
Em um misto de denúncia e desabafo, José Cláudio alerta que o único hospital público de Nova Friburgo – e maior da região, já que atende também a pacientes de municípios vizinhos – “não tem atadura e gesso para mínimos atendimentos no setor de Ortopedia” e que há “poucos equipamentos cirúrgicos para o trauma". E faz um alerta aos médicos.
“Para não expor nenhum médico de plantão, prescrevam sempre o tratamento e tudo o que for necessário ao tratamento do paciente. Isso vale para qualquer item faltante e necessário. Todos já estão cientes do problema: Ministério Público, delegacia, prefeitura e Secretaria Municipal de Saúde. Estamos há cerca de dois meses exaustivamente fazendo esses alertas, sem nenhuma medida concreta para sanear essa situação. Estamos chegando num patamar dramático”, afirmou no áudio o diretor médico do Raul Sertã.
E sugeriu uma medida extrema para resguardar os médicos e também os pacientes: “Internem todos os pacientes enquanto houver leitos disponíveis. E quando não houver leito, botem sentados, em macas nos corredores, não importa. Assim, nós (médicos) e os pacientes ficaremos resguardados. Porque o doente ficando no hospital é uma maneira de mostrarmos que fizemos o máximo possível pelo paciente”, orientou o José Cláudio no áudio.
Por fim, ele fez um apelo: “Peço auxílio ao dr. Marcelo Orphao, que é delegado regional do Cremerj (Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro), para haja uma intervenção urgente do conselho e de forma emergencial. Chegamos num nível de exposição e simplesmente nada foi feito. Lamento que tenhamos chegado a esse ponto. É muita irresponsabilidade. Vamos nos resguardar e cuidar dos nossos pacientes”, finalizou o diretor médico do Raul Sertã.
O que dizem o Cremerj e a prefeitura
Citado no áudio que teve enorme repercussão na cidade durante toda esta segunda-feira, 30 de novembro, o médico Marcelo Orphão, delegado regional do Cremerj em Nova Friburgo foi procurado por A VOZ DA SERRA. Ele se manifestou através de nota oficial do conselho, informando que irá à Justiça “com ação judicial contra a Prefeitura de Nova Friburgo devido à situação calamitosa do setor de ortopedia do Hospital Municipal Raul Sertã, um dos principais da região. O serviço enfrenta uma grave falta de insumos, como atadura e gesso. Não é de hoje que o Cremerj sinaliza que a ortopedia passa por problemas. Recentemente, o conselho realizou duas fiscalizações no hospital e os relatórios foram enviados para o Ministério Público para providências cabíveis”.
A prefeitura informou, em nota, que já notificou judicialmente os fornecedores de insumos para regularizar o estoque dos materiais de ortopedia. A nota informa ainda que “todo o trâmite burocrático e legal dos processos está correto e que todos os meios cabíveis ao poder público para a obtenção de material e medicamentos estão sendo feitos.” A prefeitura que o áudio que viralizou nas redes sociais causou estranheza, pois os problemas relatados são de conhecimento da direção médica do hospital e reforçou que “a equipe da Secretaria de Saúde tem sido incansável para manter a prestação de serviços e que sente por aqueles que trabalham apenas o interesse pessoal”.
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