Uma publicação feita na página da Guarda Civil Municipal (GCM) de Nova Friburgo no Facebook causou grande repercussão e gerou debates, contra e a favor. Na publicação em questão, a GCM deu publicidade a uma ação de fiscalização no Pico da Caledônia para verificar “denúncias de pessoas que estariam subindo o Caledônia” em meio a pandemia do novo coronavírus e as recomendações de isolamento social.
O post já havia recebido cerca de 250 comentários e quase 200 compartilhamentos, mas foi apagado no fim da tarde desta sexta-feira, 24. Entre os comentários, diversos friburguenses expuseram sua opinião sobre a ação da GCM: “Estão subindo direto. Tenho visto postagens quase que diárias. Muitos estão achando que é um exagero ou criação da mídia. Infelizmente as mortes já estão ganhando rostos e nomes próximos. Quem sabe agora o povo não entende?”, opinou Antonio Carlos Santana.
“É por causa dessas pessoas que esse vírus está se espalhando. Eu também não gostaria de ficar de quarentena, mas nem por isso vou ficar por aí correndo risco de vida e botando a minha família em risco”, disse Marilene Moraes. “É natural a incompreensão do público em um momento como esse, infelizmente cabe à Guarda Municipal o desagradável papel de fiscalização e orientação do qual ninguém deseja ser alvo. Espero que não se sintam desestimulados com a crítica quando estiverem desempenhando corretamente sua importante missão”, comentou André Luís Santos.
Mas a iniciativa não foi alvo apenas de elogios. Muitos cidadãos se posicionaram de maneira contrária à ação promovida pela Guarda Civil Municipal: “Cheio de aglomeração na rua e eles (Guarda Municipal) vão para dois mil metros acima do nível do mar para conter aglomerações?”, criticou Kauan Andrade. “Vergonhoso. Não pode subir o Caledônia, mas pode ficar aglomerado em filas de supermercado, bancos etc”, completou Jhonata Serpa. “Só acho que na Avenida Alberto Braune e nos bares que estão abertos pelas redondezas do Paissandu tem muito mais aglomeração”, comentou Wagner Freiman.
O que diz a prefeitura
Procurada por A VOZ DA SERRA para comentar a ação fiscalizatória da Guarda Civil Municipal no Pico da Caledônia, a Prefeitura de Nova Friburgo informou, em nota, que “vem realizando constantes fiscalizações por toda a cidade para que as determinações sejam cumpridas. Após denúncias da população, feitas à ouvidoria, a GCM verificou que havia mais de 30 pessoas aglomeradas no local (Pico da Caledônia). Após orientação dos guardas municipais, as pessoas deixaram o local acatando as instruções, sem oposição”.
Ainda na nota, a prefeitura reforça que “a Secretaria Municipal de Turismo também está se pronunciando através das rede sociais para orientar que estas práticas não sejam realizadas. Quem tiver denúncias de pessoas que estejam descumprindo os decretos de isolamentos social, deve entrar em contato com a Ouvidoria do município através do WhatsApp (22) 99291-9128 ou pelo email ouvidoria@pmnf.rj.gov.br.
O que diz o Inea
Cabe ressaltar que o Pico da Caledônia está inserido na área pertencente ao Parque Estadual dos Três Picos e, de acordo com determinação Ministério do Meio Ambiente, no fim de março, os parques nacionais estão fechados. No Estado do Rio, há cinco deles: Parque Nacional da Tijuca, Itatiaia, Serra dos Órgãos, Serra da Bocaina, Restinga de Jurubatiba. Além disso, os parques estaduais também estão fechados para visitação ao público de modo a incentivar o isolamento social e conter a disseminação do novo coronavírus.
“Está proibida a visitação (ao Pico da Caledônia), mas estamos tendo muita dificuldade em conter o acesso de visitantes não só no Caledônia, mas também no Vale dos Deuses. Temos um número bastante reduzido de guardas parque para a região de Nova Friburgo e, por conta da pandemia, estamos com um efetivo ainda menor. Nossa equipe está orientada a informar as pessoas sobre o decreto estadual. Mas as pessoas estão acessando em horários em que não há vigilância para acampar e fazer fogueiras, tudo que está totalmente contra o nosso plano de manejo e contra as nossas regras. Nosso trabalho é de formiguinha, por isso precisamos muito do apoio dos veículos de comunicação para orientar a população sobre esse período de quarentena e a importância de se respeitar essas determinações. Infelizmente existem pessoas que não sabem respeitar regras. E toda ajuda para inibir atos de vandalismo são bem vindas”, declarou Maiara Barroso de Faria, gestora do Parque Estadual dos Três Picos.
Com relação às outras montanhas de Nova Friburgo, como a Pedra da Catarina, Pedra do Imperador, Chapéu da Bruxa, Morro do Porcelet, entre outras, o acesso não está proibido, mas há a recomendação para que as pessoas evitem esse tipo de passeio em meio a pandemia, principalmente quando feito em grupos.
Centro Excursionista Friburguense
A VOZ DA SERRA também procurou o Centro Excursionista Friburguense (CEF), entidade social sem fins lucrativos e segundo clube de montanhismo mais antigo do Brasil – fundado em 20 de julho de 1935 -, considerado de utilidade pública municipal e estadual, para repercutir a polêmica em torno da proibição, ou não, do acesso às montanhas da cidade.
Desde 16 de março o CEF suspendeu suas reuniões sociais, palestras, início do Curso Básico de Escaladas, trilhas e escaladas oficiais, seguindo as recomendações do Ministério da Saúde para evitar a disseminação do coronavírus e para a preservação dos associados e seus familiares.
“Estamos seguindo as recomendações da Confederação Brasileira de Montanhismo e Escalada (CBME) e da Federação Estadual de Montanhismo e Escalada do Rio de Janeiro (Femerj). O Centro Excursionista Friburguense (CEF) respeita essas normas, até porque a prática dessas atividades não condiz com o contexto atual da sociedade. Não devemos reunir grupos de pessoas para caminhadas ou para subir montanhas. Estamos colocando nós mesmos e outras pessoas em risco. O CEF paralisou todas as suas atividades. Não estamos fazendo reuniões nem caminhadas. A gente prega um montanhismo consciente. Se é um período de quarentena, devemos respeitar isso”, esclareceu Claudio Tardin, presidente do Centro Excursionista Friburguense.
Ele continua: “Estamos tendo problemas em diversos pontos da cidade. Não apenas no Pico da Caledônia, mas também na Catarina, Imperador, Chapéu da Bruxa, Pirâmide e Porcelet. Recebemos informações que algumas pessoas estão cortando árvores para fazer fogueiras à noite, deixando lixo nesses locais. Esse tipo de atitude não é a essência do montanhismo. Aglomerar grupos para fazer esse tipo de passeio está totalmente fora do contexto do montanhista”, disse.
Cláudio Tardin disse que apoia a ação fiscalizatória promovida pela Guarda Civil Municipal, mas acredita que esse trabalho deveria ser mais incisivo e com o apoio de outros órgãos: “Já passamos para o Inea essa questão do Pico da Caledônia e acho que seria válida uma atitude mais dura. De repente com o apoio da Polícia Florestal para coibir o acesso das pessoas à noite, porque mesmo com a determinação para não frequentar o local após as 17h, muita gente não respeita. Estão danificando as cabines, sujando tudo. Então deveria ter uma fiscalização mais forte para que as pessoas se conscientizem. Mas não adianta fiscalizar apenas o Caledônia, porque isso está acontecendo em outras montanhas da cidade”, finalizou.
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