O poder que o Carnaval teve de transformar Nova Friburgo

Lucas Barros

Além das Montanhas

Jovem, advogado criminal, Chevalier na Ordem DeMolay e apaixonado por Nova Friburgo. Além das Montanhas vem para mostrar que nossa cidade não está numa redoma e que somos afetados por tudo a nossa volta.

quarta-feira, 01 de março de 2023

Quando ouvi pela primeira vez, creio que nos últimos dias do ano passado, a afirmação de que Nova Friburgo se preparava para realizar um dos melhores carnavais já vistos na cidade, e ainda, a melhor festa de todo o interior, confesso que recebi a informação com uma leve descrença.

O que será que a típica folia friburguense poderia ter de diferente em nossas montanhas depois de tantos anos? Muitos não sabem, mas Nova Friburgo possui o segundo maior carnaval do Estado do Rio de Janeiro. Por motivos óbvios, perde somente para a capital – que por sinal, é o maior carnaval do mundo. Será que todo esse alarde seria para tanto?

A festa foi se aproximando e os preparativos começaram. Depois de dois anos sem a querida festa folclórica, a programação ficou pronta e, finalmente, uma grande estrutura começou a ser montada. Os palcos surgiam em diversos pontos do centro da cidade e criavam a primeira sensação de imersão no universo da maior e melhor festa brasileira.

Como morador da Avenida Alberto Braune, me questionei um motivo plausível pelo qual a rua seria interditada em plena quinta-feira, quando antigamente era somente na sexta de folia. E no mesmo dia, já à noite, ao ouvir o rufar das primeiras baterias e o som único dos tamborins, comecei a perceber a linda festa que estaria por vir.

Os eventos foram se sucedendo e na sexta-feira, os foliões tomaram espaço nos tradicionais blocos de rua, contagiando alegria para as famílias que acompanhavam atentas aos desfiles. Em contra partida, outro folião mais desatento, proporcionou um vídeo incrível durante o Blocão do Rastafare, que viralizou muito além de nossas montanhas, e foi compartilhado até pelo famoso rapper americano, o 50 Cent.

Aos roqueiros e aos consumidores de cerveja artesanal, a festa estava plenamente organizada na batizada “Rua da Cerveja Artesanal”. O coreto, no coração da Praça Getúlio Vargas, virou palco, ganhando iluminação, infraestrutura, segurança e contou com diversos artistas, dando vida ao palco alternativo, que sempre existiu, mas que nunca teve a devida atenção do poder público.

Naquele momento, já era possível perceber que a expressão “melhor carnaval do interior”, tantas vezes repetida nos discursos da imprensa local, faziam pleno sentido e não era um mero exagero de autoestima elevada. Nova Friburgo se mostrava puro Carnaval.

Mas foi no domingo, ao andar pela cidade e observar os grupos de mulheres e homens, empurrando carros alegóricos e transportando fantasias em meio ao trânsito da cidade, que se tem a dimensão da grandeza do nosso espetáculo. Grandeza essa que deixou muita capital brasileira com desfile no chinelo e que certamente, deveriam aprender muito conosco.

E aos que estavam acostumados com uma segunda e uma terça-feira de pleno carnaval com clima de finados, fomos surpreendidos com uma lotação de 90% dos hotéis e pousadas, cujos hóspedes tiveram o privilégio de prestigiar os trios elétricos e os grandes shows no palco principal. A comunidade friburguense e os turistas se envolveram e se entregaram ao longo de todo circuito.

Pode parecer exagero a minha fascinação com os ‘delírios’ e detalhes da festa, com o envolvimento da população, a euforia dos turistas e toda estrutura do Carnaval. Mas é muito mais necessário olharmos para os bastidores que a deliciosa festa foi capaz de proporcionar para a nossa cidade.

Renan da Silva Alves, secretário de Turismo, Marketing e Eventos da cidade, explica que no período pandêmico onde o turismo, os eventos e o setor cultural foram drasticamente afetados, contribuir para a retomada das atividades que tanto geram riqueza para a nossa cidade é um dever.

“O Carnaval foi muito além dos seis dias de folia, dos palcos montados e de cultura e entretenimento gratuito para a população. A profissionalização do Carnaval foi dedicada à comunidade, aos turistas e ao desenvolvimento econômico de cada friburguense. Diversos artistas contratados, o faturamento aproximado de R$ 1,5 milhão dos barraqueiros, a alta ocupação da rede hoteleira, mais de dez mil litros de cerveja artesanal vendidos e os quase três mil empregos diretos e indiretos gerados pela folia.”

O saudoso Dorival Caymmi canta em sua música que “quem não gosta de samba, bom sujeito não é. É ruim da cabeça, ou doente do pé.” A verdade é que nem todo mundo gosta da folia, seja pelos seus motivos religiosos, pessoais e até ‘morais’ – o que deve ser plenamente respeitado.

Seja você um simpatizante ou não do Carnaval ou da atual gestão municipal, precisamos aplaudir de pé o importante passo na profissionalização do evento que encheu de alegrias à nossa cidade. O carnaval se vai, regado à purpurina e serpentina e os benefícios aos friburguenses ficam, como uma marca para uma cidade melhor.

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