Volta das aglomerações noturnas nas ruas choca friburguenses

Pesquisador defende ação mais enérgica do poder público contra multidões sem máscaras; bares são punidos mesmo vazios e cumprindo regras
segunda-feira, 21 de setembro de 2020
por Adriana Oliveira (aoliveira@avozdaserra.com.br)
A Rua Monte Líbano lotada na última sexta-feira (Fotos de leitores)
A Rua Monte Líbano lotada na última sexta-feira (Fotos de leitores)
O mesmo fenômeno pós-flexibilização observado nas áreas boêmias de cidades de todo o mundo aconteceu também, como esperado, em Nova Friburgo. Na noite da última sexta-feira, 18, a Rua Monte Líbano estava lotada de gente, aglomerada e sem máscaras, nas proximidades dos muitos bares que têm endereço ali.

“O bar está vazio e a rua, cheia"

Rivana Abbud, comerciante

A cena, que chocou muitos friburguenses em isolamento social por causa da Covid-19, se repete em outras ruas de movimento noturno, como a Portugal, incluindo aquelas com bares que sequer têm espaço para acomodar clientes sentados, como os da Dante Laginestra.

Aglomerações vêm acontecendo também nas proximidades de estabelecimentos que nem bares são. É o caso de lojas que se limitam à venda de bebidas e cigarros, em ruas como a Farinha Filho e a Monsenhor José Antônio Teixeira (antiga São João).

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“Assustador”, reagiu, ao ver as fotos encaminhadas por A VOZ DA SERRA, o pesquisador Rafael Spinelli  Parrila, autor dos estudos que vêm embasando a chamada  “flexibilização com segurança” implantada desde julho pela Prefeitura de Nova Friburgo. Ele defende uma ação mais enérgica do poder público contra o desrespeito ao decreto municipal que proíbe aglomerações nas ruas e torna obrigatório o uso de máscaras em qualquer lugar, e não apenas em locais coletivos.

“Estamos vendo um aumento agora de casos no Rio, depois de bares, restaurantes e praias lotados. Tem que ter fiscalização contra aglomerações e, se necessário, força policial, choque de ordem. O desrespeito ao decreto prejudica a todos”, afirmou Parrila, que pretende levar o assunto para discussão junto à diretoria da Associação Comercial, Industrial e Agrícola de Nova Friburgo (Acianf).

Bar vazio, rua cheia

Na noite de sexta, homens do Grupo Tático da Guarda Civil Municipal e da Polícia Militar chegaram a atuar na Monte Líbano, que não lotava assim desde o carnaval. Para dispersar a multidão, os agentes mandaram os bares fecharem mais cedo,  às 22h50, bem antes do horário permitido pela bandeira amarela em vigor (até a meia-noite). Às 23h30 ainda havia gente na rua. 

A aglomeração observada nas calçadas e na pista, atrapalhando o trânsito,  não se repetia dentro  de bares tradicionais como o América, com mesas vazias (foto).  “A gente toma todas as  medidas recomendadas e é punida pela irresponsabilidade dos outros. Estamos levando muito a sério os protocolos de segurança que mandam funcionar com capacidade reduzida. O bar está vazio e a rua, cheia. A rua enche mesmo com os bares fechados. A aglomeração nas calçadas não é responsabilidade nossa”, afirma a proprietária, Rivana Abbud.

Capital endurece punições

Na cidade do Rio, com quase cem mil casos confirmados e mais de dez mil mortes até o momento, a prefeitura avalia que as curvas de contágio  não caíram como era esperado e, por isso, as infrações dos estabelecimentos que permitirem aglomerações passarão a ser consideradas gravíssimas. Com o endurecimento da punição, as multas poderão chegar a R$ 26 mil em caso de reincidência e a interdição será de sete dias, com a possibilidade de cassação de alvará em casos extremos.

Na capital, a suposta redução da curva da Covid em agosto motivou uma ampliação da reabertura das atividades econômicas, o que aumentou o número de pessoas nas ruas e provocou cenas rotineiras de aglomeração. Ao mesmo tempo, as autoridades estaduais fecharam leitos de UTI abertos excepcionalmente por conta da pandemia. Especialistas, no entanto, argumentam que não houve queda, mas sim um possível atraso de notificações.

Dados oficiais apontavam uma queda significativa no número de óbitos por semana na cidade  do Rio, de quase 800 na semana de 21 de junho para pouco mais de 200 na semana de 16 de agosto. Mas, no fim de agosto, os números voltaram ao patamar de 400 mortes por semana.

Risco de nova onda de contágio

Como a maior parte da população ainda está suscetível ao vírus, há uma clara possibilidade de novo aumento dos casos devido ao grande número de pessoas nas ruas, especialmente com a liberação da volta às aulas presenciais e a chegada do verão.  “Com a chegada do verão, é muito provável que os casos se elevem, a exemplo do que ocorreu na Europa. O Rio corre grande risco de uma nova onda”, disse à Reuters o infectologista Roberto Medronho, líder do Grupo de Trabalho Multidisciplinar para Enfrentamento da Covid-19 da UFRJ.

“O isolamento até aconteceu durante um tempo, mas a retomada foi muito desorganizada”, resumiu à Reuters o infectologista Alberto Chebabo.

Depois de alguns finais de semana seguidos com praias lotadas e bares cheios, a prefeitura carioca decidiu  proibir o estacionamento de carros na orla e a venda de bebidas alcoólicas na área externa dos bares após 21h. “Gostaríamos que a curva de velocidade de contaminação estivesse mais baixa, e não está porque as pessoas estão esgotadas do distanciamento, os jovens já passaram pelo primeiro momento de pânico e agora acham que a vida voltou ao normal, mas ainda não voltou, disse o prefeito Marcelo Crivella.

Números do estado pioram

Em apenas 24 horas, deste domingo para segunda, o  Estado do Rio registrou 43 mortes e 648 novos casos do novo coronavírus, de acordo com os dados oficiais. O aumento, pelo terceiro dia consecutivo, na média móvel de mortes aponta para uma tendência de crescimento no contágio da doença. A média móvel agora passa a ser de 98 mortes e 1345 casos por dia. 

Há aumento de 30% na média de óbitos na comparação com as duas semanas anteriores, o que, por estar acima dos 15%, indica um cenário de crescimento no contágio da doença em território fluminense. A última vez que o estado viveu este cenário de aumento foi no fim de agosto.

O que diz a prefeitura 

Em resposta aos questionamentos de A VOZ DA SERRA, a  Prefeitura de Nova Friburgo informou que  realizou operações “choque de ordem” na sexta e no sábado, esta última em parceria com o 11º BPM. 

Na ação de sábado, a equipe da Vigilância Sanitária também esteve presente e contabilizou 12 estabelecimentos visitados; sete intimados e cinco interditados. 

A prefeitura  disse que continuará promovendo ações para fiscalizar o cumprimento do decreto municipal que impede aglomerações durante a pandemia de coronavírus. Também houve operação de trânsito no fim de semana em Lumiar, com a fiscalização de locais onde iniciavam-se aglomerações, segundo a prefeitura. 

 

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