Um ano de pandemia: Covid-19 expôs o melhor e o pior do mundo

Brasil em busca da autossuficiência na produção de vacina contra o coronavírus
sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021
por Júlia Marinho*
Um ano de pandemia: Covid-19 expôs o melhor e o pior do mundo

Era 31 de dezembro de 2019 e o mundo estava se preparando para a virada do ano quando um escritório da Organização Mundial de Saúde (OMS) recebeu do governo chinês o aviso de que uma nova forma de pneumonia havia surgido na cidade de Wuhan provocada por nova cepa de coronavírus, o causador da síndrome respiratória aguda grave 2 (Sars-CoV-2). A covid-19 começava a se espalhar.

Acredita-se (mas até hoje não há certeza) que o vírus pulou a barreira entre as espécies no Mercado Atacadista de Frutos do Mar de Huanan, que comercializava animais vivos. O código genético do novo coronavírus foi rapidamente sequenciado por cientistas chineses e disponibilizado para laboratórios do mundo todo. 

Janeiro avançou, e, com as viagens de férias, a doença se espalhou pela China, principalmente devido as comemorações do Ano-Novo Chinês, em 25 de janeiro, e embarcou para outros países no sistema respiratório de turistas. Se no início a OMS havia relutado em declarar que o surto de covid-19 era uma emergência sanitária, mudou de ideia em 30 de janeiro. O número de mortes ultrapassou 800 na primeira semana de fevereiro, chegando a 3 mil em março — a Sars matou 774 pessoas em todo o mundo entre 2002 e 2003.

Registros da doença começaram a ocorrer fora da China, com relatos vindos de diversos países de 4 dos 6 continentes. A Itália decretou lockdown para tentar deter o avanço desenfreado da doença, enquanto a OMS declarou, em 11 de março, que o planeta vivia, oficialmente, uma pandemia. Teve início, então, a busca por uma vacina nos laboratórios mundiais.

Sem controle de fronteiras ou triagem nos aeroportos, os primeiros estrangeiros infectados desembarcaram no Brasil para aproveitar o verão e o Carnaval ao mesmo tempo em que brasileiros  retornavam das férias na Europa, contribuindo para a disseminação do novo coronavírus. 

Frente científica e as  desigualdades sociais

Com o vírus já presente no mundo inteiro, a comunidade científica lutou para conseguir o máximo de informações sobre o novo coronavírus, que devastava o corpo humano, atingindo não apenas pulmões mas também coração, rins, fígado, vasos sanguíneos e cérebro.

Em outubro os casos explodiram nos EUA, e a Europa começou a ter as primeiras manifestações contra o uso de máscaras e o isolamento social. No Brasil, o número de casos chegou a se estabilizar em cerca de 300 mortes por dia.

A segunda onda da doença, porém, alcançou a Europa depois de passar pela Ásia, em julho. Os EUA começaram a sentir, em novembro, os efeitos da terceira onda, a mais letal até agora. E no fim do ano, o Reino Unido descobriu uma nova variante da doença, mais contagiosa.

Além de deixar o mundo de cabeça para baixo, a doença expôs de forma jamais vista as desigualdades sociais. Segundo dados divulgados em dezembro pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), a pandemia pode levar 1 bilhão de pessoas à extrema pobreza até 2030. As projeções do FMI divulgadas em outubro, concluiu que a economia mundial deve encolher 4,4%: “A recessão é profunda, e a recuperação será longa, irregular e incerta”. Para 2021, o Fundo prevê que o PIB global crescerá 5,2%, abaixo dos 5,4% previstos. Para o Brasil, o organismo projeta recuo de 5,8% no PIB de 2021.

Bilhões offline

O mundo passou a depender da internet, mas ela não estava disponível para metade do planeta. Estimativas da ONU apontam que 46% da população mundial estão desconectadas; isso significa que, com o confinamento, quase metade dos habitantes da Terra perdeu acesso a informações sobre o desenrolar da pandemia, trabalho remoto, telemedicina e aulas online.

O ano de 2020 deixa para governos e a comunidade científica importantes lições de como um vírus pode ter o potencial de desestruturar todo um planeta, expondo de injustiças sociais a políticos incompetentes.

‘"Esperávamos que algo assim acontecesse. Essas doenças estão surgindo com mais frequência nos últimos anos como resultado da invasão humana ao habitat selvagem e do aumento do contato e do consumo de animais selvagens pelas pessoas”, disse o epidemiologista Andrew Cunningham, da Sociedade Zoológica de Londres, em maio. "A pandemia de covid-19 não será a última pela qual o mundo passará", alertou.

Em tempo: Dados divulgados pelo consórcio de imprensa do Brasil, em 22/02 > Infectados: 10.197.531; Óbitos > 247.276. 

(Fonte: *TecMundo)

Em busca da autossuficiência na produção de vacina contra a Covid-19

Criados quase ao mesmo tempo, há 120 anos, o Instituto Butantan e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) são pioneiros nos trabalhos de microbiologia no Brasil. "As duas instituições marcaram o domínio do chamado ‘pasteurianismo’ e da ciência experimental no Brasil", informou a historiadora Gisele Porto Sanglard, pesquisadora e professora da Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz. 

A partir desse trabalho inicial, as instituições passaram a adotar uma ‘agenda de pesquisa’ diretamente relacionada à saúde pública brasileira. Vital Brazil era um dedicado estudioso do veneno das serpentes.(ofidismo), e o Butantan desenvolveu expertise e se consolidou como uma instituição de fabricação de soro contra venenos de serpente, aranhas, escorpiões e outros animais.

Um dos trabalhos liderados pelos cientistas da instituição foi a reforma sanitária, em 1904, colocada em prática na capital federal, com um programa de vacinação em massa — cuja reação popular seria conhecida como a Revolta da Vacina. A atuação de Oswaldo Cruz foi reconhecida internacionalmente, e em 1907 ele foi premiado no Congresso Internacional de Higiene e Demografia, em Berlim.

“O instituto foi contratado para realizar diversas expedições ao interior do Brasil, e foram fundamentais para mapear a situação epidemiológica do país. A descoberta da doença de Chagas ocorreu em uma dessas viagens, em 1909, pelo médico sanitarista Carlos Ribeiro Justiniano das Chagas (1879-1934) que identificou os barbeiros como transmissores”, destacou Sanglard.

FIOCRUZ

A história da Fundação Oswaldo Cruz começou em 25 de maio de 1900, com a criação do Instituto Soroterápico Federal, na Fazenda de Manguinhos, zona norte do Rio. Inaugurada originalmente para fabricar soros e vacinas contra a peste bubônica, a instituição teve uma importante trajetória, que se confunde com o próprio desenvolvimento da saúde pública no país.

Pelas mãos do jovem bacteriologista Oswaldo Cruz, o instituto foi responsável pela reforma sanitária que erradicou a peste bubônica e a febre amarela. Com expedições científicas que desbravaram o interior do país, em 1920 deu origem ao Departamento Nacional de Saúde Pública.

Durante todo o século 20, a instituição passou por diversas transformações provocadas pela política. Perdeu autonomia com a Revolução de 1930 e foi foco de debates nas décadas de 1950 e 1960. Em 1964, foi atingida pelo chamado Massacre de Manguinhos, com a cassação dos direitos políticos de alguns de seus cientistas. 

Em 1980, restaurada a democracia, o sanitarista Sergio Arouca realizou seu 1º Congresso Interno, marco da moderna Fiocruz. Nos anos seguintes, foi palco de grandes avanços, como o isolamento do vírus HIV pela primeira vez na América Latina.

Já centenária, a Fiocruz consolida sua história no século 21, com ampliação de suas instalações e, em 2003, tem seu estatuto enfim publicado. Foi uma década de grandes avanços científicos, e vem dando novos passos nesta 2ª década. 

Conheça a história da Fiocruz, na Linha do Tempo disponível no site portal.fiocruz.br/pt-br/content/linha-do-tempo-em-texto. 

BUTANTAN

Em 1899, um surto de peste bubônica, que se propagava a partir do porto de Santos (SP), levou a administração pública estadual a criar um laboratório de produção de soro antipestoso (que combate a peste), vinculado ao Instituto Bacteriológico (atual Instituto Adolpho Lutz). O laboratório foi instalado na Fazenda Butantan, zona oeste da capital, e, em 23 de fevereiro de 1901, foi reconhecido como instituição autônoma sob a denominação de Instituto Serumtherápico. Seu primeiro diretor foi o médico Vital Brazil Mineiro da Campanha, estudioso dos problemas de saúde pública da época.

No cotidiano de Vital Brazil, sempre esteve presente a preocupação em divulgar amplamente a ciência, a atuação do instituto e a produção de soros e vacinas, o que lhe conferiu o reconhecimento da comunidade internacional.

Mais de um século depois de sua fundação, o Butantan é hoje um destacado centro de pesquisa biomédica, que integra pesquisas científicas e tecnológicas, produção de imunobiológicos e divulgação técnico-científica, buscando a permanente atualização e integração de seus recursos e, com isso, a inovação.​

Conheça a história do Butantan, ano a ano, no site linhatempo.butantan.gov.br/. 

 

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