Não precisa ter um automóvel para sentir no bolso o aumento dos preços dos combustíveis. Basta ir ao mercado, açougue, lojas de roupas, calçados... O frete é um dos itens da composição dos preços. E, num país em que o transporte de mercadorias é majoritariamente rodoviário, o aumento do preço dos combustíveis que tem ocorrido praticamente toda semana, impacta toda a economia. “Os principais combustíveis utilizados no Brasil e no mundo são derivados do petróleo. Logo, se há o aumento de preços do segmento, toda a cadeia de distribuição de produtos tende a ficar mais cara, o que também impacta nos preços dos serviços e isso desencadeia um ciclo de aumento de preços preocupante”, explica o consultor financeiro Gabriel Alves, colunista de A VOZ DA SERRA (foto abaixo).
Neste ano, já houve pelo menos 15 reajustes dos preços dos combustíveis. O último aconteceu na terça-feira, 26. O valor do diesel sofreu um aumento de 9,15%, com reajuste acumulado no ano de 65%. O preço da gasolina foi reajustado em 7,04%. Somando todos os aumentos deste ano, a gasolina está 73% mais cara que em dezembro de 2020.
Gabriel explica ainda que o reajuste de preço dos combustíveis é aplicado diretamente nas refinarias, mas isso não significa que o custo de produção tenha se alterado. “Hoje, as principais críticas ao processo de formação de preços da Petrobras são referentes ao Preço de Paridade de Importação (PPI), que considera a formação de preços sob influência da cotação internacional do barril de petróleo. Como essa cotação é feita em dólar, surge então um grande problema: as equivocadas estratégias de política monetária e cambial que desfavorecem a moeda brasileira, o real, frente ao mercado internacional e consequentemente prejudicam o consumidor. Ou seja, é iniciado um ciclo inflacionário “sintético” que poderia muito bem ser evitado”, disse o consultor financeiro.
Manutenção também sobe
Na semana passada, o Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), divulgou um estudo demonstrando que os itens envolvidos com aquisição e manutenção de veículos subiram quase o dobro da inflação geral nos últimos 12 meses. Enquanto o índice global registrou aumento de 9,57% em 12 meses, a inflação para o motorista chegou a 18,46% no mesmo período. De acordo ainda com a pesquisa, o item que mais contribuiu para esse cenário foi o aumento dos combustíveis. De acordo com o Procon de Nova Friburgo, hoje o valor da gasolina no município está entre R$ 6,99 e R$ 7,50, o litro, nos postos da cidade.
Combustível para trabalhar
Se o aumento do preço dos combustíveis é sentido por todos os setores, sofre mais ainda quem trabalha com transporte, como os motoristas de aplicativos. Sebastião Rabelo da Costa é motorista de aplicativo há dois anos e meio. De acordo com ele, no início, trabalhava dez horas por dia e hoje, tem que trabalhar 16 horas para cobrir as despesas. “Tive que aumentar o tempo de trabalho para compensar essa defasagem com o aumento do valor do combustível e a falta de reajuste das corridas”, disse ele.
De acordo com Sebastião, muitos já desistiram de trabalhar como motorista de aplicativo. “Muitos amigos já pararam, porque tinham carros alugados ou financiados e não estavam conseguindo pagar. E não parei porque também faço viagens particulares. Se fosse depender só dos aplicativos, não daria. A despesa é alta. Além do valor do combustível, ainda tem manutenção, pneus, suspensão, que sempre quebra por causa dos buracos nas ruas e as muitas multas que recebemos. Tudo com aumento de valor””, revelou ele.
Para continuar trabalhando, Sebastião conta que teve que conseguir um empréstimo para instalar o kit-GNV – gás natural veicular. “Uma pena que aqui em Nova Friburgo temos apenas um posto de GNV. O valor aqui é de R$ 5,29 o metro cúbico. No Rio, R$ 3,94”, disse ele.
Um desafio para as transportadoras
Além dos motoristas de aplicativos, outro setor que está tendo que se reinventar é o de transporte de cargas. De acordo com o presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas de Nova Friburgo (Setcanf), Jackson Carlos Thedim, geralmente as empresas do setor fecham contrato com reajuste anual fixado sempre em março. “Com todo esse aumento de combustível esse ano, estamos absorvendo os impactos e tentando diminuir outros custos nas empresas”, disse ele.
ICMS sobre Combustíveis é congelado
O Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz) aprovou, nesta sexta-feira, 29, por unanimidade, o congelamento do valor do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) cobrado nas vendas de combustíveis por 90 dias. A medida tem por objetivo colaborar com a manutenção dos preços nos valores vigentes em 1º de novembro de 2021 até 31 de janeiro de 2022.
O congelamento atende a um pedido do Fórum Nacional de Governadores.
Segundo o presidente do Fórum, o governador Wellington Dias, a ideia, nesse período, é encontrar uma solução para a questão do preço dos combustíveis. Uma das propostas dos governadores é a criação de um fundo de equalização de combustíveis. Outra possibilidade é uma mudança nos anos de referência usados no cálculo do imposto.
Há duas semanas, a Câmara dos Deputados aprovou um projeto que estabelece um valor fixo para a cobrança do ICMS dos combustíveis. O texto aguarda votação no Senado. Cada estado aplica um percentual de ICMS sobre os combustíveis e o Rio de Janeiro tem o maior do Brasil: 34% (Fonte: Rádio Agência Nacional)
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