Telas versus Sinais Cerebrais da Fome

O uso do smartphone durante a refeição pode aumentar a ingestão calórica em relação ao consumo sem distração
sexta-feira, 06 de dezembro de 2024
por Jornal A Voz da Serra
(Foto: Freepik)
(Foto: Freepik)

Você está preparando seu café da manhã, almoço ou jantar enquanto confere as postagens no celular, em seguida liga a TV, senta-se no sofá e come. Ou então vai para o computador e aproveita a refeição para se distrair com um jogo. Tem gente que ainda pega novamente o celular e fica vendo uns vídeos divertidos enquanto se alimenta, outras que trabalham comendo e por aí vai…

Se você não se identificou com a rotina acima, deve conhecer um amigo, colega ou familiar com o perfil do tipo. Afinal de contas, esse é um hábito bem comum na vida de muitas pessoas.

A questão é que comer na frente de telas atrapalha os sinais cerebrais da fome e da saciedade. Isso acontece porque a atenção ao comer permite que comamos mais devagar, mastigando bem, o que ajuda o nosso corpo a identificar quando já estamos satisfeitos, evitando excessos.

E isso não é só problema de adulto. Como cada vez mais crianças e adolescentes estão expostas a dispositivos eletrônicos, esse tipo de distração durante as refeições tem também influenciado nas preferências alimentares desses jovens, aumentando seletividade e até a impulsividade, fatores associados à ansiedade e depressão.

Atenção plena prejudicada

A chave pra tudo isso é que a distração de uma tela reduz a atenção plena durante as nossas refeições, levando a uma alimentação menos consciente e automática.

Isso faz com que a pessoa perca a percepção de saciedade, consumindo mais do que precisa. Além disso, como o tempo da refeição pode se estender, a percepção de sabores e texturas também é reduzida, contribuindo para um consumo maior.

No caso somente do uso de smartphones durante as refeições, um estudo de 2019 mostrou que esse hábito pode aumentar o consumo de calorias em até 15%.

A pesquisa, conduzida pela Faculdade de Ciências da Saúde — Universidade Federal de Lavras (FCS/UFLA) em Minas Gerais, contou com 26 homens e 36 mulheres que participaram de sessões nas quais podiam escolher entre alimentos de diferentes densidades calóricas, como refrigerantes, biscoitos e chocolates, ou opções menos calóricas, como frutas, iogurte natural, torradas e água.

Entre leitura e smartphones 

A densidade calórica de um alimento faz referência à quantidade de calorias em relação ao seu peso ou volume, algo importante para entender a saciedade. No estudo, em três situações distintas, cada participante comia sob uma condição específica: usando o smartphone, lendo ou sem nenhuma distração.

Os resultados mostraram que, tanto o uso do smartphone quanto a leitura aumentaram a ingestão calórica em até 15% em relação ao consumo sem distração, e ainda incentivaram o consumo de alimentos mais gordurosos, especialmente entre os homens. Mesmo assim, não houve alteração significativa na mastigação, ou seja, outros fatores comportamentais associados à distração podem explicar o aumento na ingestão calórica.

"Tanto o smartphone quanto a leitura são fontes de distração, mas eles podem ter impactos diferentes sobre o consumo alimentar", destacou o professor Luciano José Pereira, coordenador do estudo da UFLA-MG.

Pereira diz que optou por incluir a leitura como uma distração no estudo para servir como um tipo de "controle positivo", ou seja, uma distração que não envolvesse aparelhos eletrônicos. A ideia era ver como uma atividade mais estática e introspectiva, como a leitura, afetaria a quantidade de alimento consumido, em comparação com o uso do smartphone, que traz estímulos visuais e interativos que podem capturar ainda mais a atenção.

No entanto, os resultados mostraram que tanto a leitura quanto o smartphone foram suficientes para desviar o foco da refeição, levando ao aumento da ingestão calórica.

"Ambas as distrações reduzem a atenção plena, limitando a percepção do que é consumido. Apesar de nossa hipótese de que smartphone, por ser mais envolvente e dinâmico, resultasse em um maior consumo calórico em comparação com a leitura, esse fato não foi observado", acrescentou.

 

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