“Olá leitor, tudo bem? Me chamo Gabriel, mais conhecido como ''ponter'' no mundo dos games, assunto que irei abordar nesta entrevista para vocês saberem um pouquinho mais sobre a minha vida, como me tornei um gamer profissional e afins. Espero que gostem!”, assim se apresentou nosso convidado para essa edição.
Esse rapaz descontraído, simples e amistoso é o Gabriel Amaral, um “gamer” friburguense, que adicionou ao nome o termo “Ponter”. Aos 21 anos, ele é tricampeão brasileiro de CS-GO (Counter Strike) — dos três campeonatos brasileiros conquistados pela equipe Arctic/SP (da qual ele é um dos integrantes), em 2022, o nosso “ponter” foi eleito o melhor jogador em dois deles.
Ele comenta que ter seu talento individual reconhecido é importante, mas o que o deixa mais feliz são os prêmios coletivos, porque “é o time que ganha títulos”. Ele lembra das muitas horas de treinamento que toda a equipe passa, e faz questão de destacar que “cada integrante é fundamental para o sucesso do outro, de todos, enfim".
Com esse estado de espírito, base de todo o grupo, o tricampeão do CS-GO brasileiro já disputou campeonato em Estocolmo (Suécia), para o qual a equipe Arctic se preparou na Alemanha. Vamos à entrevista!
O que é um gamer profissional? Quando deixa de ser amador para virar profissional?
Um jogador profissional de esportes eletrônicos nada mais é que um atleta. Quando você sobe do nível amador para a elite, você precisa ter uma rotina regrada, uma rotina de atleta. Treinos intensivos sejam coletivos ou individuais, tais como estudo do jogo e aperfeiçoamento de técnicas; alimentar-se corretamente, pois somos atletas e usamos muito nossos reflexos, habilidades cognitivas, então muitas vezes precisamos tomar decisões rápidas e precisas e ingerir algum alimento pesado pode nos deixar letárgico, o que não é nada bom. Praticar exercícios é fundamental, porque por mais que a galera não entenda tanto, jogadores de eSports também se lesionam, sentem dores musculares etc. Basicamente quando você é um amador no mundo dos games, é normal não ter muito conhecimento sobre essas coisas que citei acima. Porém, quando você está em um time de elite, disputando contra os melhores da sua região, do seu país ou até mesmo do mundo, você precisa adotar essas práticas ao seu cotidiano.
Portanto, é uma profissão reconhecida, quer dizer, tem que ter registro.
Sim. Os esportes eletrônicos são reconhecidos, por lei, como modalidade esportiva (Lei número 9.615/98, Lei Pelé). Eu, por exemplo, sou PJ.
Como funciona essa carreira? O que significa “ponter”, esse termo que você adicionou ao seu nome?
O ''ponter'' é meu apelido dentro do jogo, basicamente é meu nome no mundo dos games. Quando era mais novo, eu jogava um joguinho de futebol chamado Haxball. Era como se fosse um futebol de botão, nada demais. Na época eu não tinha um apelido, e como eu era bom jogando como ponta esquerda ou direita, um amigo me sugeriu o nome ''ponter''. Eu gostei, aderi, e nunca mais mudei (conta, achando graça da ideia).
Como é o dia a dia de um gamer?
É bem cansativa porém prazerosa. Divide-se em treinamentos individuais e coletivos, sendo aproximadamente 2 - 3h individuais, e 7 - 8h coletivo. Além disso tem a parte fora do jogo, onde eu particularmente vou à academia ou assisto um filme ou série.
Nesse tipo de atividade, há uma tendência para se tornar um workaholic? Como você administra o seu tempo?
Com certeza. Alguns jogadores quando estão em treinamentos intensivos, o famoso ''bootcamp'', chegam a dedicar 13 à 15h por dia no jogo com o intuito de melhorarem tanto individual quanto coletivamente. Horas estas que são divididas em treinamentos com o time, preparações individuais, estudos do jogo, entre outras variáveis. Logo, é muito importante tomar cuidado para não ter a Síndrome de Burnout, doença causada pelo excesso de trabalho que tem sintomas como exaustão extrema, estresse e esgotamento físico. Então, é bem importante saber programar o seu tempo no dia a dia para não tornar a profissão em algo chato e desgastante. Eu, por exemplo, gosto de praticar atividade física (academia), assistir uma série, um filme, ler um livro, entre outras diversões.
Como você se define como pessoa? É controlado, agitado, tranquilo, acelerado, ansioso, enfim, esse tipo de atividade deve exigir certas características deferentes de outras profissões.
Particularmente, me considero uma pessoa calma e centrada atualmente. Já fui mais agitado, acelerado sabe? Mas com o passar do tempo fui reparando que era um comportamento que atrapalhava o meu desempenho como atleta e, com muita paciência e ajuda de profissionais, consegui ir mudando esse meu jeito. Tem pessoas/jogadores que têm a personalidade completamente diferente da minha mas que também são super legais e fazem muito sucesso no mundo dos games.
Mesmo quando não está criando, treinando para uma competição, você curte outros tipos de jogos, só para se distrair?
Sim, gosto de jogar outros jogos quando não estou em rotina ou preparação para campeonatos, mas também gosto de sair para comer, me divertir com os amigos, coisas desse tipo…, bem normal mesmo.
Como é a relação da sua equipe com as outras, nos encontros pelo Brasil e pelo mundo? Trocam figurinhas ou é cada um centrado no seu grupo, criando e/ou escondendo estratégias?
Isso varia muito de uma equipe pra outra, mas a grande maioria quando não está em momento de concentração ou num pré jogo, são bem amigáveis, trocam bastante ideia, brincam uns com os outros e colocam o papo em dia.
Quais as suas expectativas, o que espera alcançar nesta atividade?
Espero que o céu não seja o limite e eu possa sempre estar alçando voos maiores. Eu e meu time trabalhamos muito pra isso e temos total confiança de que podemos conquistar muita coisa juntos ainda (além do que já conquistamos, em território nacional). Nossas expectativas para esse ano é nos consolidarmos ainda mais no cenário local, como um time coeso e forte, e num futuro próximo disputar mais torneios internacionais, como o que disputamos no ano passado na Suécia. E 2023 será o meu quarto ano como jogador profissional e, espero poder jogar mais uns 10, pelo menos.
Como vê o futuro da sua profissão, para que caminhos ela aponta?
Quanto ao fato de me aposentar, não pensei sobre o que fazer depois, mas não foge muito dos padrões do futebol, sabe? Posso optar por ser treinador, comentarista, analista, ou até mesmo ficar na parte da gerência de alguma organização de eSports.
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