No próximo domingo, 4 de abril, cristãos e judeus comemorarão — cada um à sua maneira — a solenidade da Páscoa. A Páscoa cristã está associada à ideia de "passagem", no caso, da morte para a vida. A solenidade que celebra a ressurreição de Jesus é a mais importante do cristianismo, mais até do que o Natal, que festeja a encarnação divina através do nascimento de Cristo.
Os judeus ainda se referem à festa pelo seu nome original: Pessach. De origem hebraica, quer dizer ‘passagem’. "É a comemoração da passagem do povo israelita da escravidão no Egito para a libertação da Terra Prometida, através da travessia do Mar Vermelho", sintetizou o rabino Michel Schlesinger, da Confederação Israelita do Brasil (Conib).
Enquanto a Páscoa está centrada na figura de Jesus, a Pessach evoca a memória de Moisés. Foi ele que, segundo o Livro do Êxodo, recebeu de Deus a missão de libertar os hebreus da opressão do faraó e, pelos próximos 40 anos, guiá-los até a Terra Prometida.
"Os cristãos acreditam que Jesus é o Messias. Ele já veio e, um dia, voltará. Nós, judeus, reconhecemos que Jesus foi um rabino que disseminou uma mensagem muito positiva de amor e respeito ao próximo, mas não o consideramos o Messias. Para nós, o Messias ainda não chegou", esclareceu o rabino.
Até o século 4, a mesma data
Em geral, as comemorações da Páscoa e da Pessach não coincidem. Este ano, porém, as festas caem no mesmo dia: 4 de abril. Diferentemente do Natal, que é comemorado sempre no dia 25 de dezembro, a Páscoa é, por assim dizer, uma "festa móvel".
Até meados do século 4, cristãos e judeus comemoravam a Páscoa no mesmo dia. Mas, se o significado da festa é diferente, por que, então, comemorá-la no mesmo dia? A reivindicação partiu de gentios — os novos convertidos ao cristianismo na Europa e Oriente Médio.
Foi quando, no ano de 325, o Imperador Constantino Magno convocou o Concílio de Niceia. Por unanimidade, a Igreja Católica convencionou festejar a ressurreição de Jesus sempre no primeiro domingo depois da primeira lua cheia ocorrida após (ou no dia) do equinócio da primavera no hemisfério norte, e do outono no hemisfério sul. Ou seja, em geral, depois da Páscoa judaica, que começa a ser celebrada na primeira lua cheia do mesmo equinócio (e pode cair num dia de semana).
Pão ázimo e ervas amargas
A Páscoa é uma solenidade tão importante que um dia só não basta. Por essa razão, cristãos e judeus levam dias para festejar, respectivamente, a passagem do cativeiro à liberdade e da morte à vida.
Os cristãos marcam a Semana Santa com missas especiais como o lava-pés na quinta-feira, este ano em 1º de abril, e a procissão do enterro na Sexta-Feira da Paixão, 2, dia em que muitos fiéis evitam comer carne vermelha em respeito à morte de Cristo. No domingo, famílias com crianças celebram a tradição da busca por ovos escondidos, adotada de rituais pagãos. Os ovos de Páscoa se tornaram, com o passar do tempo, um dos símbolos mais conhecidos da data.
Já os judeus não podem comer nada feito à base de farinha, como macarrão, pizza ou lasanha. Uma iguaria que não pode faltar à mesa é o pão ázimo, feito só de trigo e água, sem fermento. Conhecida como matzá, simboliza a pressa do povo hebreu ao fugir da escravidão no Egito.
"Durante a Pessach, comemos ervas amargas para lembrar a amargura da escravidão, mas também bebemos vinho para recordar a doçura da liberdade. Não somos nem escravos nem livres. Ainda estamos no caminho", concluiu Michel Schlesinger.
(Fonte: BBC News Brasil | André Bernardo)
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