Sem limites para estudar

Alunos da 3ª idade buscam curso superior para se sentirem produtivos e realizarem sonhos antigos
sexta-feira, 04 de agosto de 2023
por Jornal A Voz da Serra
(Foto: Freepik)
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O envelhecimento promove transformações comportamentais e institucionais, desafiando os indivíduos a conviverem coletivamente em um mundo mais disruptivo, criativo e inovador. Os idosos ativos precisam lidar, por exemplo, com a modernização dos postos de trabalho e o aumento da demanda por capacidades intelectuais e a necessidade de adaptação tecnológica.

Esse cenário pode ser desafiador, esclarece Hercilia Correia Cordeiro, administradora, psicóloga, professora e pesquisadora da Universidade de Fortaleza (Unifor). Segundo ela, alguns teóricos argumentam que a extensão da vida laboral – em um processo conhecido como “silver dividend” – também possui a tendência de amenizar os impactos das mudanças populacionais, potencializando o crescimento econômico e a sustentabilidade dos programas públicos de aposentadoria.

Hercília diz que, antes de tudo, é preciso compreender que o idoso é um sujeito plural, portador de razão, sensibilidade, emoções, expectativas, fantasias, desejos, habilidades para resolver problemas e que, dentro da universidade, vão usufruir de espaços de apoio.

“É ter na sua rotina um bom diálogo com seus pares, professores e gestores para que cada desafio seja trabalhado e desenvolvido para uma aprendizagem dinâmica, reflexiva e contemporânea”, afirma.

Terceira graduação aos 74

“Eu me sinto capaz de fazer qualquer curso”, diz o professor universitário aposentado José de Anchieta Delgado. Aos 74 anos, ele acaba de concluir seu terceiro curso superior. Ao se aposentar como docente do curso de matemática na Universidade Federal do Ceará (UFC), decidiu cursar engenharia civil, e diante do novo mercado, sentiu necessidade de ampliar a formação na área de projetos. Assim, resolveu abraçar uma terceira graduação, concluindo arquitetura e urbanismo, em 2022. 

“Fui treinado para estudar”, diz o filho de um agricultor tão inteligente que já aplicava, há décadas, algumas técnicas de manejo da terra defendidas agora por ambientalistas, no Rio Grande do Norte. Aos 10 anos foi estudar numa cidade vizinha, depois concluiu o 2º grau em Natal, fez vestibular e passou para engenharia e matemática. Optou pelo segundo — mais rápido de concluir e em acordo com sua situação financeira na época. Em seguida foi para o Rio de Janeiro fazer mestrado e doutorado, e tornou-se professor universitário.

Lidou a vida inteira com jovens e, quando se aposentou, resolveu manter o contato, estudando com eles. Professor experiente sentiu na pele as mudanças do ensino. A biblioteca física não era mais a principal fonte de conhecimento. Com habilidade no uso das tecnologias, Anchieta viu a comunicação e a facilidade de acesso à informação turbinar os estudos e o conhecimento. E nada o intimidou nesta jornada.

Estímulo intelectual, físico e socialização

Esse exemplo é reflexo de uma nova maneira de envelhecer, que vem gerando desafios para manter essas pessoas ativas socialmente, laborativamente e fisicamente, explica Alexandre Bastos Lima, especialista em psiquiatria geriátrica pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e preceptor do internato médico pela Unifor.

Ele lembra que, antes, havia uma ideia de vida, que consistia em nascer, estudar, arranjar um bom trabalho, ganhar um dinheiro e guardar um pouco para a vida de aposentado. A aposentadoria vinha como um final glorificado, no qual o idoso podia fazer o que quisesse.

“Ao mesmo tempo, perdia a relevância social e se desconectava das pessoas. O grande desafio que a gente tem agora é o da atividade, de não querer essa aposentadoria formal, que chega como uma forma de mudança para um novo tipo de vida”, afirma o médico.

Inatividade, para o ser humano, significa uma espécie de início de processo de morte que o idoso de hoje rejeita. “O idoso de hoje não se vê mais como esta pessoa que já está fora do que está acontecendo na sociedade. É uma pessoa que quer fazer parte da sua comunidade, de um emprego ou um grupo social onde se sinta relevante”, diz Alexandre.

Embora haja especificidades biológicas do envelhecimento, é preciso criar ambientes de estudo e trabalho onde o idoso possa prosperar e manter-se ativo. Hoje, pessoas chegam à terceira idade com muito pique e dispostas a buscarem seu primeiro diploma ou uma nova graduação. (Fonte: www.unifor.br)

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