Grande parte do Brasil arde em chamas. O reflexo é a destruição de imensas áreas de florestas e a fumaça constante que encobre o céu, reduzindo drasticamente a umidade do ar. Tudo isso aliado a onda de calor que mantém as temperaturas em elevação em grande parte do país. A falta de chuvas é outro agravante.
Nova Friburgo, município tão rico em recursos hídricos e em cobertura vegetal, também vem sofrendo nos últimos dias com os incêndios florestais. Desde o final da tarde da última quinta-feira, 12, um incêndio vem consumindo uma grande área de mata do Morro da Cruz, com labaredas que eram vistas do centro da cidade, deixando os friburguenses apreensivos.
Durante a madrugada desta sexta-feira, 13, as chamas chegaram bem próximo do segundo estágio do teleférico, um dos cartões postais do município. A direção do empreendimento manteve o equipamento ligado com as cadeirinhas em movimento para tentar evitar que as chamas atingissem as instalações. Equipes do Corpo de Bombeiros ainda utilizaram as cadeirinhas para tentar conter as chamas, mas a missão é de imensa dificuldade. Durante o dia, vários focos ainda não haviam sido debelados e a fumaça tomava conta das imediações.
MP cobra ações urgentes
Devido ao avanço das queimadas em Nova Friburgo, a escassez de chuvas e a constatação de que diversas nascentes do alto do Caledônia que abastecem o município, estariam com a vazão reduzida, o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ), por meio da 2ª Promotoria de Justiça de Tutela Coletiva do Núcleo Nova Friburgo, requisitou, na última quinta-feira, 12, à concessionária Águas de Nova Friburgo e aos comitês de bacias hidrográficas informações sobre a segurança hídrica no município.
A Promotoria quer saber se há risco de racionamento ou desabastecimento de água para os moradores de Nova Friburgo e, caso positivo, em quais áreas e quais as medidas que seriam adotadas pela empresa, como provisão de caminhão-pipa, sistemas de manobras, campanhas educativas, entre outras. A situação é crítica no município e preocupa os promotores. Na última quinta-feira, 12, inclusive, o telejornal RJ-TV, mostrou que algumas cachoeiras do Parque Municipal Juarez Frothé, no bairro Cascatinha, estavam com a vazão reduzida.
O MP também solicitou informações sobre um possível Plano de Contingência, por parte da concessionária, e se este foi ou poderá ser acionado. “É preciso esclarecer se este plano foi aprovado pelo órgão regulador e se está compatível com o Plano Municipal de Saneamento Básico revisado e em vigor. Por fim, de que forma o plano de contingência está integrado aos Planos de Recursos Hídricos das Regiões Hidrográficas nas quais o município se insere: Rio Dois Rios, das Ostras e Macaé”, informou o MP, em nota.
Os comitês de Bacia Hidrográfica Rio Dois Rios e Macaé e das Ostras, a partir de integração com o Instituto Estadual do Ambiente (Inea), deverão informar os níveis de vazão atuais nos mananciais de abastecimento utilizados pela concessionária do serviço público de abastecimento. O MP requereu ainda que as informações sejam repassadas no prazo de cinco dias úteis.
Mais de 700 incêndios florestais este ano no estado
Na última quarta-feira, 11, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) divulgou um dado alarmante: somente este ano já foram registradas em todo o Estado do Rio de Janeiro, pelo menos 760 focos de incêndio em vegetação. O índice é o maior desde 2017 quando foram contabilizadas 960 queimadas durante o ano inteiro no estado. A preocupação dos ambientalistas é grande, já que o mês de setembro é um dos mais críticos do ano para incêndios florestais, segundo a média histórica.
A quantidade de queimadas divulgada pelo Inpe foi contabilizada através de um monitoramento por satélite. Somente nos primeiros dez dias de setembro, o Inpe já identificou 55 incêndios florestais no Estado do Rio de Janeiro. Há duas semanas, o Corpo de Bombeiros já havia alertado para um crescimento significativo das queimadas no estado desde o início do ano. A corporação atendeu, de janeiro até o final de agosto, 6.178 ocorrências de incêndios em vegetação a mais do que no mesmo período do ano passado, um aumento de aproximadamente 85%.
Nova Friburgo no ranking dos incêndios florestais
Ainda segundo levantamento do Inpe, os municípios fluminenses de São Gonçalo, Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, e a capital, estão no topo do ranking dos mais afetados, seguidos por Nova Friburgo, Maricá, Nova Iguaçu, Niterói, Araruama, Campos e Volta Redonda.
Especialistas apontam que, além do comprometimento da qualidade do ar e do consequente aumento de síndromes respiratórias na população por causa da constante inalação de fumaça, os ecossistemas ficam mais vulneráveis a incêndios em momentos de seca, como a que o Brasil enfrenta atualmente. A estiagem prolongada pode também comprometer o fornecimento de água, portanto, valorizar o consumo consciente é primordial.
O Instituto Estadual do Ambiente (Inea) divulgou nesta semana um boletim que aponta constatação de boa qualidade do ar em 28 das 57 estações espalhadas pelos municípios fluminenses. Em outras 26, a situação é moderada e em três, é ruim. Nenhuma das estações, no entanto, apontou um cenário muito ruim ou péssimo.
Linha Verde recebe denúncias de queimadas
O serviço Linha Verde, programa do Disque Denúncia (0300 253 1177) que recebe informações sobre crimes ambientais, disponibiliza canais de atendimento para que a população denuncie anonimamente agressões ao meio ambiente que possam agravar a crise hídrica, como captação clandestina, comércio irregular e desperdício de água e queimadas. Todas as denúncias que chegam ao Disque Denúncia, são direcionadas aos órgãos competentes.
Até a última semana, o Linha Verde já recebeu mais de 15 mil denúncias de crimes ambientais no Estado do Rio de Janeiro, sendo 567 sobre captação clandestina de água, 189 sobre desvio de curso, 45 sobre desperdício e dez sobre comércio ilegal de água. Quanto às queimadas, o Linha Verde já recebeu este 379 denúncias, mais do que as 307 computadas ao longo do ano passado inteiro.
Previsão de tempo ainda quente e seco neste fim de semana
O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) emitiu um alerta nesta sexta-feira, 13, de “perigo em potencial” para o Estado do Rio de Janeiro devido à falta de chuvas, aliada às constantes queimadas que comprometem a qualidade do ar. A predominância da massa de ar seco sobre o sudeste brasileiro mantém a onda de calor. A passagem de uma frente fria sobre o estado neste domingo, 15, deve causar queda nas temperaturas e até ocasionar algumas pancadas de chuva isoladas, mas em quantidade ainda insuficiente para conter as chamas em diversos pontos do território fluminense.
Neste sábado, 14, e domingo, 15, em Nova Friburgo, os termômetros devem oscilar entre 13 e 29 graus com umidade do ar mínima de 30%. Na segunda-feira, 16, a temperatura no município deve variar entre 11 e 28 graus, também com possibilidade de chuvas à tarde.
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