O bebê começa a brincar praticamente desde o seu nascimento. Seu primeiro brinquedo é o seu próprio corpo. Ele começa olhando as mãos, coloca na boca, passa a interagir com seus cuidadores, com os objetos que lhe serão apresentados.
Depois, com os brinquedos propriamente ditos, e objetos que não são brinquedos — é a fase em que ele dá mais atenção para a embalagem do que para o brinquedo em si. “E isso é ótimo. É sempre melhor brincar com objetos que não tenham finalidade de brinquedo, quando a criança inventa o próprio brinquedo e é ela que dá a função ao objeto”, diz o pediatra Daniel Becker.
Uma caixa de sapato pode se transformar em um monte de coisas — um carrinho, um trem, um avião, uma casa, a partir da imaginação da criança. São infinitas as possibilidades. Quando ela pega um objeto qualquer e começa a criar histórias e fantasias, ou corre livremente pelo parquinho, ou cria um jogo com os amiguinhos, ela não está apenas brincando. Ela está explorando o mundo, se comunicando, se expressando e aprendendo uma série de habilidades importantes. A brincadeira é parte fundamental de seu pleno desenvolvimento.
As linguagens que a natureza oferece
“A linguagem é a forma como o ser humano se expressa, se conhece e interfere no mundo; é a habilidade mais elevada da racionalidade humana, do cérebro humano. A linguagem é tudo, ela define tudo o que nós fazemos, define quem nós somos. E a linguagem da infância é a brincadeira”, explica Becker.
Além disso, brincar é também a forma que a natureza concebeu, ao longo da evolução, de a criança “ensaiar” para a vida adulta, ou seja, é através da brincadeira que ela adquire habilidades que serão necessárias no futuro.
“Entre os mamíferos, você vê que um leãozinho brinca de caçar; nas populações tradicionais da nossa espécie, por exemplo, entre os indígenas, as crianças brincam de fazer aquilo que os adultos fazem, brincam de construir ocas e brincam de danças, rituais. Então, essa aquisição de habilidades através do brincar é algo da natureza biológica da gente. As habilidades que a criança vai adquirir brincando são inúmeras”, afirma o médico.
Da mesma forma que a brincadeira é a essência da infância do ponto de vista da linguagem, a natureza é a essência da infância do ponto de vista do território. “Nós todos, como espécie, crescemos e evoluímos dentro da natureza, nós somos parte dela, ela é parte de nós. Essa noção de pertencimento e de que nós somos a natureza devia ser mais difundida para ajudar a gente a parar de usar a natureza como uma espécie de objeto do qual se extrai recursos, se extrai consumo, o que está acabando por destruí-la.”
Quando uma criança brinca na natureza, ao ar livre, ela se sente mais estimulada a explorar, sua curiosidade e sua criatividade são aguçadas. “A natureza oferece um espaço mais vasto, mais aberto e totalmente heterogêneo, muito irregular, mas ao mesmo tempo harmônico, ao mesmo tempo belo, ao mesmo tempo agradável. A gente se sente estimulado”.
Becker cita também a parte emocional: “A natureza acalma, reduz a irritabilidade, a agressividade, o consumismo. Traz uma certa contemplação, reconhecimento da sua grandiosidade, que eu chamo de maravilhamento. É um território sagrado onde a criança deve ser levada para brincar sempre, e quanto mais livre, melhor”, observa. (*Texto resumido de Maiara Ribeiro: drauziovarella.uol.com.br)
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