“A pandemia trouxe inúmeras mudanças para todas as faixas etárias”, diz geriatra

Thaís Duarte lembra que envelhecimento começa ao nascer e conta que demanda por consultas aumentou após coronavírus
sábado, 01 de agosto de 2020
por Ana Borges (ana.borges@avozdaserra.com.br)
A geriatra Thaís Duarte
A geriatra Thaís Duarte

“A geriatria é uma especialidade que abrange os cuidados da promoção, prevenção, tratamento e reabilitação do paciente em envelhecimento. Junto com a gerontologia, através de uma equipe multidisciplinar, é possível minimizar os riscos e as vulnerabilidades passíveis do organismo ao envelhecer”, esclarece a geriatra Thaís Valle Duarte Folly*. 

 Tratamento oferecido na residência médica nos EUA, em 1940, só na década de 1960 foi criada a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG). Segundo Thaís, para se ter uma ideia da desproporção entre a demanda de pacientes e profissionais disponíveis, o censo de 2018 demonstrou que no Brasil havia apenas 1.817 geriatras, o que, proporcionalmente, não representa nem 0,5% dos médicos brasileiros. 

“São dados preocupantes, já que atualmente estima-se que o número de idosos triplique até 2060, chegando a 73 milhões de brasileiros acima de 60 anos”, revelou. Resumindo, a geriatria é fundamental tanto no diagnóstico e tratamento de doenças, como na promoção da saúde e na assistência integral ao idoso. Nesta entrevista a especialista aborda o tema que não se restringe aos idosos. Afinal, como Thaís lembrou, ao nascer, começamos a envelhecer.

A VOZ DA SERRA: O que a levou a se especializar em geriatria?

Thaís Duarte: O que mais me encantou na geriatria é a ampla diversidade dos pacientes e a possibilidade de estreitar a relação médico-paciente de forma construtiva e sólida. É possível levar a uma parcela dos meus idosos, um envelhecimento de forma ativa, com autonomia, independência e autocuidado. Em contrapartida, àqueles mais frágeis, conforto e melhora na qualidade de vida, mesmo quando encontramos muitos em cuidados de fim de vida. Lidar com tantas histórias distintas e lições únicas, me desafia e me faz ter certeza, todos os dias, da minha escolha como geriatra.

Com a pandemia aumentou a procura por consultas?

A pandemia trouxe inúmeras mudanças para todas as faixas etárias. Seja na esfera social, econômica ou psicológica, o isolamento nos fez repensar a nossa rotina, nossas prioridades e o que realmente entra no que consideramos essencial ou não para nossas vidas. A minha demanda aumentou muito, seja para esclarecer as dúvidas diárias que surgem sobre a Covid-19 ou para compensar clinicamente esses idosos sem acompanhamento periódico por outras patologias.

Sua clientela é formada basicamente por pacientes da terceira idade e cada vez mais por outras faixas etárias...

Não existe uma regra estipulada pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) sobre qual faixa etária deve ser atendida. Afinal, desde que nascemos estamos em constante processo de envelhecimento. Portanto, se você se preocupa em envelhecer de maneira saudável, pode iniciar o seu acompanhamento desde os 40 anos. Se levar em conta apenas quando é considerado idoso, aqui no Brasil, então será a partir dos 60 anos.

Que tipos de enfermidades são mais comuns em pacientes idosos? 

Todas as doenças que envolvem o processo de envelhecimento são vistas na geriatria. Enfermidades muito comuns são hipertensão arterial sistêmica e suas doenças cardiovasculares, além de metabólicas, como o diabetes mellitus. Entretanto, patologias ligadas a neuropsiquiatria geriátrica como déficit cognitivo e síndromes demenciais, transtornos de humor como depressão e ansiedade, e distúrbios do ciclo sono, vigília, vêm se tornando o grande desafio da nossa especialidade. A saúde mental do idoso é uma das prioridades para o adequado curso terapêutico.

O que considera importante destacar para ter uma velhice saudável? 

Primeiramente, a busca pelo equilíbrio. Entender que alterações fisiológicas da idade, que chamamos de senescência, precisa ser encarada como um processo biológico e natural do nosso corpo. Que as alterações patológicas dessa senilidade não seja aceita sem adequada investigação e acompanhamento.

Tem alguma recomendação a fazer aos leitores, nesse momento?

Que em tempos de pandemia o isolamento social não seja confundido como distanciamento emocional. Portanto, mantenha contato com seus amigos e familiares pelos diversos meios de comunicação proporcionados, e se precisar, peça ajuda. Use máscara, se alimente bem e realize atividades físicas rotineiras nas mais diversas modalidades. O exercício é um fator protetor incontestável de diversas comorbidades, como por exemplo, a demência, além de minimizar os efeitos negativos da imunossenescência (alterações do sistema imune nos pacientes idosos). E diante de todo o caos, seja solidário. Tem sempre alguém precisando de você. O segredo em se adaptar está no equilíbrio do corpo, alma e mente.
 

* Profissional com Residência Clínica Médica pelo Hospital Central da Aeronáutica; pós-graduação em Geriatria e Gerontologia pela Uerj/PUC-Rio;  especialização em Sarcopenia do Idoso pela Sociedade Europeia de Geriatria e membro titular da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia.

 

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