As análises e recomendações recentes de alguns profissionais de saúde para que os medicamentos que vêm sendo utilizados em alguns pacientes para o combate à Covid-19, como a cloroquina e a hidroxicloroquina, sejam suspensos por conta de possíveis efeitos colaterais adversos, ganhou mais um capítulo. Na última semana, a Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou que o grupo responsável pelos estudos retomará os protocolos com a cloroquina e sua variante mais recente, a hidroxicloroquina. A notícia surgiu após a análise de um estudo publicado pela revista médico-científica The Lancet, uma das mais importantes do mundo. O diretor geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, anunciou a retomada dos estudo em coletiva na tarde da última quarta-feira, 3.
“Na última semana o Grupo Executivo dos Testes de Solidariedade (nome dado ao grupo de pesquisa que busca medicamentos eficazes contra o coronavírus) decidiu suspender o ramo de testes com a hidroxicloroquina por preocupação com o uso da droga. Essa foi uma decisão tomada por precaução”, afirmou Tedros. A suspensão, no entanto, durou menos de dez dias - o anúncio foi feito em 25 de maio. A retomada dos estudos não significa que o medicamento continua a ser recomendado pelos conselhos de medicina como fonte de combate ao coronavírus, o que tem gerado confusão. Até agora os estudos realizados têm sido inconclusivos.
Segundo o noticiário alemão DW, três dos quatro autores de um estudo alvo de críticas sobre a cloroquina e a hidroxicloroquina no tratamento da Covid-19 e publicado pela revista científica The Lancet solicitaram na última quinta-feira, 4, a retratação da publicação. Eles argumentaram que não é possível garantir a veracidade dos dados utilizados. Com o pedido, a revista cancelou a validade do artigo.
O pedido de retratação foi apresentado após a The Lancet ter colocado em dúvida o estudo publicado em 22 de maio e anunciado que estava fazendo uma auditoria independente sobre os dados utilizados. A publicação, numa das revistas científicas mais renomadas do mundo, levou à suspensão de ensaios clínicos de hidroxicloroquina e cloroquina em todo o mundo, pois a pesquisa apontava que os medicamentos não seriam benéficos para pacientes hospitalizados com Covid-19 e poderiam até ser prejudiciais.
Alguns dos autores do texto comissionaram uma auditoria independente para avaliar a validade dos dados. Segundo a Lancet, o processo está em curso e o resultado sai “em breve”. Mesmo assim, a revista médica optou por fazer uma “expressão de preocupação” para alertar leitores, já que foram notificadas questões científicas consideradas relevantes sobre o estudo.
Alerta da OMS
A OMS anunciou que não há evidências de que as substâncias sejam realmente eficazes contra o coronavírus. “Não aconselhamos o uso da hidroxicloroquina ou da cloroquina no tratamento da Covid-19 fora de testes clínicos randomizados, ou sob supervisão clínica apropriada e sujeita a quaisquer autoridades reguladoras nacionais que tenham decidido”, disse Mike Ryan, diretor executivo do programa de emergências da OMS.
O uso dos medicamentos é apoiado por alguns líderes mundiais, como os presidentes do Brasil, Jair Bolsonaro, e dos Estados Unidos, Donald Trump, que no mês passado afirmou estar tomando a cloroquina para se prevenir do coronavírus. O ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta afirmou no mês passado em entrevista ao canal por assinatura Globonews que o presidente Jair Bolsonaro pretendia alterar a bula da cloroquina para incluir a recomendação da droga no tratamento da Covid-19.
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