O arraiá dos “caipiras” do Brasil na terra do Tio Sam

sábado, 25 de junho de 2022
por Jornal A Voz da Serra
A brasileira Nathália e seu marido americano Richard Hodge
A brasileira Nathália e seu marido americano Richard Hodge

Um grupo de brasileiros estabelecidos na Flórida (EUA), comemora as festas juninas como se estivessem no Brasil. E a cada ano, o arraiá da Naná atrai mais gente, na mesma medida em que o evento cresce e oferece mais diversão. Cada participante contribui levando pratos caseiros típicos, como canjica, canjiquinha, pé-de-moleque, cocada, milho, caldos, broa, bolo de coco, e até pão de queijo. 

“Minha ideia ao decidir fazer a festa junina foi para reunir os amigos e principalmente resgatar a nossa cultura. Eu cresci participando de festas juninas. Já moro nos EUA há mais de 20 anos, minhas filhas nasceram aqui e acho importante compartilhar com elas a nossa cultura e tradições. Sempre gostei de ser a noiva, dançar quadrilha, fazer as brincadeiras e comer os pratos típicos. Ainda não consigo fazer uma festa completa mas ela vem crescendo a cada ano. Ainda não conseguimos nos organizar para dançarmos a quadrilha mas quem sabe ano que vem…. Também pretendo promover gincanas e brincadeiras. 

Graças aos amigos maravilhosos que temos e da ajuda que recebemos deles é que a festa acontece. Como o verão aqui chega a 40 graus também, não podemos ter fogueira ou quentão, mas diversão, temos de sobra! Quanto às comidas, nem se fala. Todos capricham nos pratos típicos. 

E que venham mais e mais festas. Viva São João!”, comemorou Nathália, acrescentando que o casal já está pesquisando o assunto ‘quadrilhas’ para botar a comunidade para dançar. 

Um pé no estrangeirismo

A festa junina como a conhecemos no Brasil tem alguns atributos consagrados: é uma festa católica, que homenageia três santos, é celebrada com comidas, bebidas e danças tradicionais, e envolve temas que remetem à vida no campo.

Mas a verdade é que suas origens são mais antigas do que a própria língua portuguesa. Antes mesmo da Idade Média, populações celtas localizadas onde hoje é a França e a Inglaterra, celebravam o solstício de verão por meio de danças ao redor da fogueira. Era uma festa pagã tão atrelada à cultura que a dominação da igreja católica, em vez de apagá-la, acabou incorporando-a, dando-lhes novos significados.

Mais tarde, em Portugal, onde a celebração ganhou força, ela passou a se chamar Festa Joanina (em homenagem a São João), o que levou o nome “Festa de São João” a se popularizar também no Brasil.

(Tete e Rickie Mosso)

Porém, é importante saber que “junina” se refere ao mês de junho e não ao santo. E que hoje em dia, a festa não é necessariamente ligada à igreja católica, que ainda permanece como sua principal organizadora, sendo também adotada por outras religiões. 

Com a chegada da corte portuguesa no Brasil, em 1815, e de uma enorme comitiva de artistas e intelectuais franceses logo depois, a França também contribuiu para enriquecer os festejos com expressões e a coreografia da quadrilha (quadrille), a tradicional dança do evento. São conhecidas as palavras que acompanham movimentos como “balancê”, “anarriê”, “en passant”, “en avant”, todas de origem francesa.

Sobre a quadrilha

A quadrilha teve origem na Inglaterra, no século 13. Posteriormente, ela foi incorporada e adaptada à cultura francesa e se desenvolvendo nas danças de salão a partir do século 18. Assim, se tornou popular entre os membros da nobreza europeia e com sua disseminação pelo continente, a quadrilha chegou a Portugal. A partir do século 19, a dança se popularizou no Brasil mediante influência da corte portuguesa, sendo muito bem recebida pela nobreza no Rio de Janeiro, então sede da corte. Embora fosse uma dança dos meios aristocráticos, mais tarde a quadrilha conquistou o povo e adquiriu um significado novo e mais popular.

E é justo na dança que pode ser observada uma associação entre o Brasil e os Estados Unidos.

Square dance — Square significa “quadrado”, que também é origem do nome “quadrilha”. E não é uma coincidência. Chamada originalmente de country dance na Inglaterra, o sincretismo religioso e cultural levou ao sul dos Estados Unidos essa dança tão parecida com a nossa quadrilha. Lá, o que eles chamam de promenade (que, aliás, é “passeio” em francês) é o nosso “passeio dos namorados”. O allemande (“alemão”, em francês) é quando os cavalheiros vão para um lado e as damas para outro. Forward and back é que chamamos aqui de en avant e anarriê. Outro nome bastante comum para essa dança – e para o evento – nos EUA é hoedown. E as semelhanças não param por aí.

Cozinha típica — O que comemos e bebemos é 100% brasileiro? Mais ou menos… Apesar de enorme transformação que a festa teve no Brasil, especialmente com a incorporação de elementos de culturas ameríndias e africanas, nem tudo é tão só nosso. O vinho quente, por exemplo, encontra no tradicional punch estadunidense seu primo distante — vinho com frutas numa jarra enorme. A famosa sangria é provavelmente outro membro distante da família. Há também a linguiça suína e pratos feitos a partir do milho. Os doces, o caldo verde e o quentão, esses sim são bem brasileiros ou, pelo menos, herança portuguesa, principalmente o caso do caldo verde.

Quitutes in English

Uma festa junina em Orlando, Flórida, com roupas xadrez, bandeirinhas, itens religiosos e barraquinhas lúdicas, é realizada pela comunidade brasileira com apoio da paróquia local. O evento tipicamente brasileiro faz parte da nossa cultura e vem sendo disseminada por cidadãos brasileiros onde quer que se estabeleçam. Entre algumas curiosidades dessa introdução de nossos costumes em terras estrangeiras estão os nomes dos pratos, que são intraduzíveis, Confira alguns deles:

  • Bolo de fubá – corn cakes made from finely ground rice or corn flour.

  • Curau – corn mixed with condensed milk and peanuts, then topped with cinnamon.

  • Pé-de-moleque – a type of sweet treat made with hard toffee and peanuts.

  • Paçoca – candy made out of crushed peanuts.

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