Johnny Maycon: um primeiro ano de gestão conturbado e cheio de desafios

Em entrevista exclusiva ao AVS, prefeito diz que meta para 2022 é fortalecer as vocações econômicas de Nova Friburgo
quinta-feira, 30 de dezembro de 2021
por Ana Borges (ana.borges@avozdaserra.com.br)
O prefeito Johnny Maycon recebe equipe do AVS em seu gabinete (Fotos: Henrique Pinheiro)
O prefeito Johnny Maycon recebe equipe do AVS em seu gabinete (Fotos: Henrique Pinheiro)

Em entrevista exclusiva para A VOZ DA SERRA, o prefeito Johnny Maycon fez um balanço do primeiro ano de seu governo, no qual abordou temas como saúde, educação, transporte público, cultura, parcerias, relações com o Legislativo e com a imprensa, entre outros. Ao final, entre erros e acertos, considerou o saldo positivo. 

Em janeiro, poucas horas após tomar posse, em sua primeira entrevista para este jornal, afirmou: “Estamos preparados para, através da nossa força e pró-atividade, recolocar Nova Friburgo nos eixos. Sabemos que será um grande desafio, mas posso assegurar à população que em curto prazo notarão mudanças significativas. Isso porque no nosso mandato não haverá interferência de quem quer que seja. Não vamos agradar um grupo específico para atender às articulações que sempre ocorrem nos bastidores escusos da política. Não vamos privilegiar ninguém e vamos tomar as medidas necessárias para preservar o erário custe o que custar”. 

Com efeito, o primeiro ano de seu governo serviu como um teste para confirmar ou não as “mudanças significativas”. Mais do que podia supor, 2021 foi conturbado, portanto, carregado de desafios. “No final de 2020, tínhamos a impressão de que a pandemia daria uma trégua, mas não deu, então, o primeiro semestre deste ano foi consumido pelo combate à Covid-19, com elaboração de estratégias e medidas para controlar a doença. Gastamos muito tempo e energia em reuniões para decidir entre flexibilização, restrição e organizar a vacinação. Foi um período muito crítico para o governo e para a população, de muito sofrimento para todos”, avaliou. 

Com ou sem pandemia, ele estava preparado, como disse na entrevista citada acima, para enfrentar as dificuldades do primeiro ano de sua gestão. Como exemplo, cita o pagamento de R$ 25 milhões em dívidas do município. 

“Mesmo assim temos conseguido arcar com todos os custos mensais da máquina administrativa. Hoje, não temos contas atrasadas, não devemos tributos e estamos quites com fornecedores e prestadores de serviços. Se ou quando há um ou outro atraso, se deve aos trâmites burocráticos, não por falta de recursos. Tanto que pudemos dar aumento de salário e antecipar pagamento e o 13º dos servidores. Caminhamos para tornar as contas do município ainda mais equilibradas”. 

O prefeito garante que o município está em pleno desenvolvimento social e econômico e melhorando seus índices em relação à geração de emprego e investimentos em obras: na educação (instalação de um Centro Tecnológico), com recursos do Estado do Rio e da União, além das parcerias entre o poder público e a iniciativa privada, e repasses do Fundeb, entre outros. Em relação à cultura, ele confia que em 2022, o Centro de Arte finalmernte será reaberto, e terá início a construção da Biblioteca Internacional Machado de Assis.

“Tudo fruto da nossa busca constante para cumprir as metas que nos propusemos, com enfoque em diversas áreas, como na rede de ensino, onde temos dado passos largos com as desapropriações de espaços e reforma de unidades escolares, não só em bairros e distritos urbanos, como na zona rural também, com viés ambientalista e sustentável, aproveitando tratar-se de uma área propícia para essa finalidade”, acrescentou.

Próximos anos

Mobilidade, novo modelo de transporte público, questão ambiental, reforma administrativa, informatização da máquina pública: planos e disposição, pelo jeito, não faltam a esse governo. “Estamos estruturando um setor dentro da controladoria, chamada “Na Escola”, com o objetivo de treinar e capacitar antigos e novos servidores, principalmente aqueles que estão aqui há 30 anos, e nunca tiveram a oportunidade de se reciclar. Entendo que eles também deveriam ‘correr atrás’ desse tipo de serviço, ter vontade de querer evoluir para serem melhor aproveitados; e cabe ao empregador, no caso, o município, dispor recursos e instrumentos para oferecer esse aperfeiçoamento.  

Em relação à Saúde, o prefeito informou que equiparou e aumentou salários, demonstrando preocupação com a rede de atenção básica. “Temos especialistas em dermatologia, endocrinologia, otorrino, cardiologia, pneumologia, entre outros, que passarão a receber R$ 8 mil, em janeiro, em vez dos atuais R$ 1.635. Estamos finalizando um decreto que estabelece um quantitativo mínimo de atendimento, já que estamos valorizando o trabalho desse servidor para aperfeiçoar o nosso sistema de atenção básica. Também estamos elaborando um organograma para implantar nessa área, que, aliás, é uma cobrança antiga do Ministério Público. Dessa forma pretendemos diminuir a carga do Hospital Raul Sertã — e de seus 1.100 funcionários —, que por sua vez também vai passar por uma reestruturação de setores, em relação às chefias dos níveis médio, técnico e superior.”

Quanto às concessionárias, o prefeito revela que mudou para melhor essa relação, que hoje é mais transparente, com reuniões filmadas e publicizadas no YouTube da prefeitura. “No início do ano tivemos aquele imbroglio com o transporte público, que, politicamente falando, foi ruim para a nossa imagem, mas, em se tratando do município, foi bom. A empresa queria R$ 1,5 milhão ou que a passagem subisse para R$ 5,90. Resistimos, processamos, tivemos êxito, embora a empresa não tenha cumprido a sua parte. Mas, em juízo, conseguimos reverter a situação”, disse.

Sobre ter saído do Legislativo para assumir o Executivo do município, Johnny Maycon foi sucinto ao falar do papel de cada um, além de relatar desavenças: “Cabe ao legislativo apontar problemas, alterar/indicar caminhos, aprovar, reprovar ações, enfim, legislar. E ao Executivo, resolver problemas. Como vereador, atuei de acordo com o meu entendimento sobre cada tema, inclusive, eu sempre dizia, em meus discursos, que a minha maior dificuldade em relação à aproximação com a gestão anterior era que, por diversas vezes, fiz sugestões positivas que eram simplesmente ignoradas. Frustrado, e em certa altura já ciente de certos malfeitos, minhas falas eram mesmo inflamadas, não por conta de deficiências daquela gestão, que afinal, ocorre em qualquer governo, qualquer pessoa comete falhas, eu também cometo. Mas quando começamos a perceber que havia um “personagem” com intenções duvidosas… Até valorizo mais, pessoas que falham ao se dedicar a fazer o bem, porque erraram ao tentar acertar. O problema é quando se trata de pessoa muito “boa” e qualificada, mas mal-intencionada.” 

O Executivo e a imprensa

Indo direto ao ponto, o prefeito enfatizou: “Tenho que ser muito sincero. A imprensa tem um papel fundamental e essencial, só acho que ela deveria ser mais imparcial. Muitas vezes ela dá mais ênfase às questões negativas, e sem dúvida, cabe à mídia noticiar o que é bom e o que é ruim, o que está dando certo e o que não está. Mas, às vezes, e não estou generalizando, tem um ou outro canal de imprensa que, parece, tem dificuldade de mostrar o que se faz de bom”, criticou. 

Para ilustrar seu ponto de vista, Maycon citou o aditivo firmado com a EBMA (Empresa Brasileira de Meio Ambiente) que, de acordo com ele, gerou uma economia de mais de R$ 5 milhões para o erário público. E questionou: “Quais meios de comunicação de Nova Friburgo deram essa informação? E se fosse o contrário, se tivéssemos pago esse valor a mais, então seria notícia e seríamos ridicularizados pela mídia? É a pergunta que fica no ar. A única coisa que a gente pede nessa relação, é que a imprensa seja justa. Que noticie as falhas, mas os acertos também. Hoje em dia, vivemos numa sociedade cada vez mais antenada, então, se não houver imparcialidade, justiça, o próprio meio de comunicação pode perder a credibilidade, e isso é muito ruim, perdemos todos. Em descrédito com a sociedade, a imprensa perde força, a confiança do leitor”, argumentou o prefeito.

Apesar da evidente contrariedade com a imprensa, Maycon enfatizou que sempre esteve aberto para falar de qualquer assunto, com qualquer meio de comunicação. “Nunca nos esquivamos, nunca fugimos de polêmicas, nunca ficamos em cima do muro. Trabalhamos com transparência, não temos nada a esconder. Às vezes divulgamos nas redes sociais informações que sabemos de antemão que despertarão críticas, resistências e questionamentos. Mas, temos as respostas, o passo que demos está fundamentado, o que ali foi exposto é resultado de total entrosamento de uma equipe responsável”. 

E concluiu: “Se analisarmos bem, historicamente, 2021 foi o ano em que foi apresentado um volume de informações como em nenhum outro governo, cobrindo e divulgando áreas e setores da administração municipal, em todas as redes digitais. Mesmo correndo o risco de desagradar a muitos, o que é normal acontecer, mas sempre primando pela verdade”. 

Concilia e mensagem

Sobre o programa Concilia, de renegociação dos tributos municipais, ele admitiu as dificuldades surgidas no sistema online e que é preciso melhorar o atendimento, de modo geral. “Pela primeira vez adotamos esse formato, com a intenção de facilitar a vida do cidadão, mas nem tudo saiu como esperávamos, apesar de ter funcionado para uma boa parte da população, que não precisou se deslocar até a prefeitura”. 

Quanto a estender o programa até o ano que vem, o prefeito lembrou que devido a eleição em 2022, não deve haver prorrogação. Segundo ele, equipes dos setores financeiro e procuradoria estudam formas de melhorar as condições de atendimento online aos contribuintes, sem sobressaltos e com celeridade.

“Temos a intenção de realizar o programa de novo, em meados do meio do ano que vem, mas dependemos da legislação eleitoral. Se houver chance, faremos. Estamos vendo essa possibilidade, através da procuradoria. Até hoje registramos mais de R$ 30 milhões de pactuação, sete mil acordos, e mais de R$ 1 milhão de inadimplência. Em dois meses (de outubro a dezembro) tivemos esse total de inadimplência, o que é preocupante, porque são pessoas que fizeram acordo mas não cumpriram, seja no Concilia ou em acordo anterior. E nesse caso, a ação pode entrar na dívida ativa e caminhar para execução. A partir daí foge da nossa alçada, não podemos interferir para ajudar”. 

Por fim, a mensagem que o prefeito envia “é de fé, esperança e amor”. Johnny Maycon reitera que é preciso unir Nova Friburgo, “respeitando gostos, objetivos, ideologias, intenções partidárias e políticas, de cada um, ciente de que somos diversos, naturalmente”. 

Enfatizou que é importante demonstrar que “amamos esta cidade, não apenas verbalmente, mas com ações e atitudes”. E comentou que tem observado a aproximação de antigos adversários políticos “que hoje caminham junto conosco”, e que esse sentimento vai se multiplicando entre a população e em vários setores da sociedade. 

“Temos tudo para dar uma alavancada em 2022, através do turismo, com o fortalecimento das nossas vocações econômicas, fomentando tudo o que temos de bom e que pode ser produtivo. Com o poder público fazendo a sua parte, com a participação do empresariado, como tem sido sempre, e a sociedade consciente de que a cidade pertence a todos, e que devemos cuidar dela como cuidamos de nossas casas. Temos tudo para dar o destaque que Nova Friburgo merece no cenário nacional. Que a gente consiga fazer um 2022 melhor do que foi 2021, e assim, sucessivamente, ao longo dos tempos.”

 

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TAGS: Governo