Quando pensamos em pipa provavelmente nos lembramos da sensação de liberdade que ela nos dá quando decola em direção ao céu. Uma brincadeira tão simples mas importante na infância, que precisa ser valorizada em tempos de tablets e celulares.
Hoje, com tantos apaixonados pelo eolismo, a arte de fazer e empinar pipas tem atraído adultos e crianças, unindo pais e filhos, grupos de amigos. Não há criança que resista ao mistério daquele brinquedinho feito de varas de bambu, papel e rolo de linha.
No entanto, as pipas não nasceram como brinquedos. Elas foram os primeiros objetos a voar usando apenas a força do vento, sem motores, inventadas na China há mais de 2 mil anos — alguns estudos
indicam 3 ou 4 mil anos — feitas de seda e bambu, e eram usadas para trocar sinais nos campos de batalha, durante as guerras.
Também na China foram usadas por motivos religiosos, pois elas subiam aos céus para que o povo falasse mais de perto com seus deuses, e também para atrair sorte, prosperidade e realização de outros desejos, de acordo com os desenhos feitos nelas.
Séculos, ou milênios depois, a invenção chinesa chegou ao Ocidente. O artista renascentista Leonardo da Vinci, por exemplo, era pródigo na arte de desenhar máquinas e engenhocas, e entre seus desenhos existem cerca de 150 máquinas voadoras inspiradas em pipas.
Inclusive, muita gente tentou fazer pipas gigantes para voar nelas. Em 1894, o oficial britânico B.F.S. Baden-Powell, irmão do fundador do escotismo, fez uma pipa gigante de tela de algodão e armação de bambu e conseguiu planar a 11 metros do chão. No ano seguinte, ele criou o Levitor, uma engenhoca com quatro a sete pequenas pipas presas umas às outras que suspendia o piloto até uma altura de 30 metros, mas dependia de ventos fortes.
Até mesmo o ‘pai da aviação’, o brasileiro Alberto Santos-Dumont era um apaixonado por pipas. O famoso 14-Bis era um sofisticado aeromodelo de pipa com motor.
Além das tentativas de transporte, as pipas foram usadas como ferramenta para a ciência, principalmente para o estudo do clima. Elas foram utilizadas também para determinar as variações de temperatura em diferentes altitudes: montavam uma série de pipas presas numa mesma linha, cada uma carregando um termômetro. Vamos lembrar que foi empinando uma pipa com uma chave na linha, num dia de tempestade, que o cientista Benjamin Franklin inventou o para-raios.
A pipa no Brasil
No Brasil, a pipa chegou por volta de 1596, trazida pelos portugueses, que a conheceram em suas andanças pela China. Mas pesquisas também mostram que a pipa já voava nos céus da África e que os escravos podem tê-la trazido para o país: sentinelas do Quilombo dos Palmares usavam pipas feitas de folhas e palitos para alertar perigo à vista.
Por aqui, o tipo de pipa mais difundido é o de papel com varetas de bambu ou de fibra, mas como nas pequenas cidades do interior não costumam ter esse tipo feita de fibra de carbono nem náilon, os ‘pipeiros’ se adaptam às condições locais. Dá para fazer pipas até com saco de lixo e jornais velhos.
Com essa atividade mágica e milenar, é possível ter noções de geometria, física e matemática, que estimula habilidades motoras, afasta a criançada, pelo menos por um tempo, das telas e da tecnologia e traz de volta um pouco do trabalho manual, tão abandonado nos dias de hoje.
Um brinquedo simples e acessível, que pode ser feito com o que temos em casa, conectando gerações, com conhecimentos que passam de pais para filhos, e que promovem bons momentos em família. Além disso, não é bom só para as crianças. Você vai descobrir que empinar pipa faz você jogar o stress ao vento.
E ainda: tanto aqui como lá fora, há associações, campeonatos e um mercado que movimenta um grupo expressivo de interessados e patrocínios. Existem ligas e equipes, como a Associação de Pipas do Estado do Rio de Janeiro (Aperj) e a Associação Brasileira de Pipas (ABP) em São Paulo, que organizam campeonatos, revoadas, oficinas e apoiam projetos sociais em periferias, arrecadando alimentos, cadeiras de rodas, fraldas e itens de higiene. (Fonte: saopauloparacriancas.com.br)
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