Floração antecipada no Japão é alerta para mudanças climáticas

O aquecimento urbano impulsionou o período do pico de brotação em 11 dias
sábado, 18 de junho de 2022
por Jornal A Voz da Serra
Floração antecipada no Japão é alerta para mudanças climáticas

A primeira imagem que vem à mente quando pensamos na primavera no Japão é, provavelmente, a famosa flor de cerejeira (sakura, em japonês) — flores brancas e rosa que florescem em cidades e montanhas de todo o país. 

A florada de cerejeira, cujo “pico de florescimento” dura apenas sete dias, é reverenciada no Japão há mais de mil anos. Portanto, é tradição que multidões comemorem com festas, indo aos locais mais populares para tirar fotos, filmar e fazer piqueniques debaixo dos galhos floridos.

A novidade, que a cada ano se manifesta com mais clareza, são as mudanças climáticas que vêm alterando o cenário no que diz respeito a datas, duração e época da Hanami, a festa da contemplação das cerejeiras em flor. 

De acordo com cientistas, o aumento das temperaturas, associado ao florescimento antecipado, está associado à urbanização, como o efeito da “ilha de calor urbana”, e às mudanças climáticas e a tendência de aquecimento da temperatura média do planeta.

Esse ano, as sakuras atingiram o seu auge no dia 22 de março em Tóquio e no dia 26 em Kyoto, as datas mais precoces de que se tem registro. Os cientistas apontam que as florações variam de acordo com as condições climáticas de cada ano, mas que o evento de fato está ocorrendo cada vez mais cedo devido ao aquecimento global. Na histórica cidade central de Kyoto, por exemplo, durante séculos a floração das cerejeiras aconteceu no meio de abril, segundo documentos que remontam a 812 d.C.

Pesquisadores do Met Office, no Reino Unido, e da Universidade Metropolitana de Osaka, no Japão, dizem que a crise climática e o aquecimento urbano impulsionaram o período do “pico de floração” em 11 dias.

Em 2021, as flores de cerejeira em Kyoto atingiram o pico em 26 de março — a mais antecipada data de floração completa em 1.200 anos. Já este ano, os brotos abriram em 1º de abril. 

Recentemente, cientistas — que publicaram suas descobertas na revista Environmental Research Letters (periódico científico trimestral que cobre pesquisas sobre ciência ambiental), recentemente — disseram que o florescimento precoce extremo vem se tornando mais comum. As temperaturas médias de março no centro de Kyoto aumentaram vários graus desde os tempos pré-industriais, sob a influência destas mudanças que vem ocorrendo em todo o planeta.

E reiteram que boa parte do motivo é o aumento da urbanização. “As cidades tendem a ser mais quentes do que as áreas rurais vizinhas porque os edifícios e as estradas absorvem mais o calor do sol do que as paisagens naturais — um fenômeno conhecido como efeito ilha de calor”.

E alertam que, se as emissões de gases de efeito estufa que aquecem o planeta continuarem como estão, até o final do século as flores de cerejeira de Kyoto podem começar a florescer ainda mais cedo, em quase mais uma semana.

“Nossa pesquisa mostra que não apenas as mudanças climáticas induzidas pelo homem e o aquecimento urbano já impactaram as datas de floração da flor de cerejeira em Kyoto, mas que datas de floração extremamente precoces, como em 2021, agora são 15 vezes mais prováveis ​​e são esperadas pelo menos uma vez por século”, disse o principal autor e cientista climático do Met Office, Nikos Christidis.

 

Segurança alimentar e a 

subsistência dos agricultores

 

As sakuras são especialmente sensíveis ao calor e, desde 1820, o Japão ficou 3,5ºC mais quente. Neste ano, por exemplo, o inverno foi excepcionalmente frio, seguido por uma primavera rápida e quente, o que “despertou” os botões antes do tempo previsto. Segundo pesquisa do International Journal of Biometeorology  (revista científica sobre meio ambiente), as flores de cerejeira em Kyoto estão florescendo em média cerca de 10 dias antes do que há um século. 

Cidades grandes e industrializadas tendem a ficar mais quentes do que áreas rurais, intensificando o efeito ilha de calor, como já citado. Mas não é nada, se comparado à ação da mudança climática, que causa aumento das temperaturas a longo prazo não somente na região, mas em todo o mundo. 

E o problema está muito além de uma alteração na data de festivais ou do turismo para o Hanami. Como plantas e insetos dependem uns dos outros para, entre outras coisas, regular o tempo de seus ciclos de vida, o descompasso da floração das cerejeiras também perturba outras partes do ecossistema, destacam os estudiosos da questão ambiental.

Ou seja, “seus ciclos de vida ficam fora de sincronia. Flores podem desabrochar antes que os insetos estejam prontos, e vice-versa. Os animais podem não encontrar alimentos suficientes, enquanto as plantas não terão polinizadores suficientes para reproduzir”. 

De acordo com um estudo de 2009 da Biological Conservation, algumas populações de plantas e animais já começaram a mudar para “altitudes e latitudes mais altas” para escapar dos efeitos da mudança climática. No entanto, está ficando cada vez mais difícil para os ecossistemas se adaptarem, devido ao clima progressivamente mais imprevisível. 

Segundo reportagem da CNN Brasil, os ecossistemas não estão acostumados às grandes flutuações causadas pelas mudanças climáticas, o que causa estresse e reduz a produtividade de ecossistemas, que podem até entrar em colapso no futuro.

O fenômeno não se restringe ao Japão: as flores de cerejeira em Washington (EUA), também floresceram prematuramente. De acordo com o National Park Service, o pico das flores já retrocedeu cerca de sete dias, de 5 de abril para 31 de março. 

Além disso, as cerejeiras estão longe de serem as únicas afetadas, o que representa grandes problemas para a segurança alimentar e a subsistência dos agricultores. O abastecimento de alimentos em algumas das regiões do mundo já está sendo afetado por secas e até enxames de gafanhotos. Mas a mudança climática pode ir mais adiante, forçando agricultores a mudarem os tipos de plantações que cultivam por conta de alterações no ambiente. 

 

Como foi a florada das 

cerejeiras no Japão em 2022

 

  • Fukuoka: 21 março

  • Osaka:26 março

  • Nagoya: 23 março

  • Tokyo: 21 março

  • Sendai: 08 abril

  • Niigata: 08 abril

  • Sapporo: 25 abril

 

(Fonte: https://mundo-nipo.com/)

 

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