Nos últimos anos, o veganismo (prática de abster-se do consumo de produtos de origem animal, não somente na alimentação e que ganhou um dia no calendário para ser celebrado mundialmente - 1º de novembro) tem ganhado cada vez mais adeptos e popularidade no Brasil. Com novas possibilidades de alimentação, maior consciência ambiental e pressão social por hábitos de consumo éticos, o estilo de vida vegano deixa de ser uma alternativa marginal para se tornar parte da cultura contemporânea, especialmente nos centros urbanos. Segundo uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope), estima-se que cerca de sete milhões de brasileiros são veganos.
O artista visual Caru Ramalho, vegano há cinco anos e vegetariano há sete, compartilha sua percepção dessa trajetória, enfatizando tanto a diversidade crescente de produtos e restaurantes quanto o impacto de fatores globais, como a pandemia e as emergências climáticas.
A popularização do veganismo e o acesso às classes médias
(Foto: Freepik)
Segundo Caru Ramalho, o veganismo tem se tornado cada vez mais acessível, especialmente para a classe média brasileira. Esse avanço, que ele observa desde o período pós-pandemia, reflete uma mudança significativa na aceitação e compreensão desse estilo de vida pela sociedade.
“Antes, eu perguntava se o estabelecimento tinha opções veganas e sempre tinha que ensinar o que era o veganismo, adaptando (ou não) as escolhas do que consumir. Hoje em dia, principalmente nas cidades grandes, os funcionários têm um preparo um pouco maior, portanto é menos desgastante”, explica o artista. Essa mudança ilustra o quanto o veganismo passou de uma prática considerada exclusiva para algo que faz parte do cotidiano, com alternativas mais acessíveis tanto em supermercados quanto em estabelecimentos gastronômicos.
A pandemia da Covid-19, segundo Ramalho, foi um fator-chave na popularização desse estilo de vida. O período de crise sanitária não só trouxe reflexões sobre saúde e qualidade de vida, mas também despertou uma maior conscientização ambiental. Com o mundo em alerta para os impactos ecológicos e a degradação ambiental, muitos passaram a considerar o veganismo não apenas como uma dieta, mas como uma filosofia de vida voltada para a preservação dos ecossistemas.
O crescimento do mercado vegano: mais opções e preparo nos estabelecimentos
O aumento da oferta de produtos e serviços voltados ao público vegano também tem impulsionado o estilo de vida no Brasil. Em um mercado antes restrito e com poucas opções, a variedade de alimentos e restaurantes dedicados à alimentação vegana ampliou-se de maneira expressiva, abrangendo tanto grandes redes de supermercados quanto pequenos produtores e empresas especializadas. Hoje, é possível encontrar desde produtos industrializados — como leites vegetais, queijos veganos e proteínas alternativas — até pratos tradicionais adaptados em versões plant-based. Esse preparo dos estabelecimentos não só facilita a vida dos veganos, mas também permite que o público em geral tenha mais contato com a alimentação vegana, o que contribui para a quebra de preconceitos.
A reinvenção da culinária brasileira
Caru Ramalho destaca o prazer de poder consumir alimentos que fizeram parte de sua vida desde a infância, mas agora com um viés ético e livre de sofrimento animal. “É maravilhoso ver carnistas provando comida vegana que eles torcem o olho, e depois que experimentam, adoram. Ainda assim, sinto que as melhores comidas veganas são as inventadas, não as adaptadas”, reflete o artista, mostrando que a culinária vegana possui um potencial criativo além das adaptações.
Pratos como feijoada vegana, moqueca de banana-da-terra e coxinha de jaca são apenas alguns exemplos dessa adaptação da gastronomia brasileira. Com o crescimento da adesão ao veganismo, restaurantes e cozinheiros passaram a criar receitas inovadoras que surpreendem até mesmo os consumidores que não seguem uma dieta vegana. A evolução gastronômica do veganismo no Brasil não só transforma a forma como os veganos se alimentam, mas também provoca uma revolução na culinária brasileira, com novas interpretações de sabores tradicionais.
Futuro do veganismo: esperanças e desafios
Embora o veganismo continue crescendo no Brasil, ainda há desafios. Ramalho espera que o movimento continue a ganhar força, mas reconhece que seu futuro está intrinsecamente ligado às mudanças climáticas e ao modo como a sociedade lida com elas.
“Enxergo um crescimento na adesão do estilo de vida e filosofia vegana no Brasil. Acredito que cada vez fique mais comum e barato”, afirma ele. No entanto, Ramalho teme que seja necessário chegar a um cenário catastrófico para que a sociedade compreenda a importância de modificar seus hábitos de consumo. Para ele, uma possível solução seria a taxação dos produtos da agropecuária em razão dos danos ambientais que causam, o que poderia reduzir o consumo de carne e incentivar alternativas plant-based.
No entanto, Ramalho enfatiza que ainda há um longo caminho a percorrer até que o veganismo deixe de ser uma opção relativamente cara e restrita a determinadas classes sociais. Ele acredita que as futuras gerações terão uma compreensão mais profunda sobre a relação entre consumo e meio ambiente, e espera que o veganismo se torne uma opção viável para todos.
A popularização do estilo de vida vegano, que hoje já é visível, reflete uma transformação na forma como consumimos e nos relacionamos com o planeta. Para Caru Ramalho e outros veganos, o desejo é que o Brasil possa abraçar cada vez mais essa filosofia, não apenas pela moda, mas pelo compromisso com o bem-estar de todos os seres e a preservação dos ecossistemas.
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