Alcoolismo é um assunto sério e ainda mal compreendido. Assim define o psicólogo Téo Nascimento (abaixo), coordenador de psicologia na Clínica Revitalis, que trabalha com dependentes químicos e álcool. A Voz da Serra conversou com o profissional sobre a doença, como detectar a dependência e como se livrar do vício.
AVS: Alcoolismo é doença?
Téo Nascimento: Sim, o alcoolismo é uma doença, catalogada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), com o código F10.2 — transtornos mentais e comportamentais devido ao uso do álcool — síndrome de dependência. Doença que afeta o sujeito em diversas áreas de sua vida.
Qual a quantidade de álcool semanal para se dizer ser dependente de álcool?
Mais importante do que olhar a quantidade que o sujeito ingere de álcool na semana, devemos observar quais os prejuízos que esse uso faz na sua vida de uma maneira geral, nas relações familiares, sociais, laborais etc...
Durante a pandemia, vimos um aumento no consumo de álcool. Isso realmente aconteceu?
Ainda há uma carência de dados oficiais, mas, como profissional que trabalha com essa demanda em específico, pude perceber sim aumento significativo no consumo de bebidas alcoólicas neste período de pandemia. Os fatores são os mais diversos, aumento no nível de ansiedade, depressão provocada pelo isolamento social, incerteza perante ao futuro etc.
A procura por ajuda também está aumentando, em consequência disso?
Sim, tanto no consultório como na clínica em que trabalho pude ter essa noção.
Quando a pessoa precisa procurar ajuda?
A partir do momento em que se percebe um descontrole, ou seja, mesmo quando não se quer beber e acaba bebendo. Também se percebe quando deixa de lado situações antes prazerosas em detrimento do uso do álcool.
Quais os tipos de tratamento para o alcoolismo?
Temos alguns recursos disponíveis para pessoas que apresentam problemas em sua vida decorrentes do uso do álcool, desde a internação em clínicas especializadas, frequência a grupos de mútua ajuda, a grupos dos Alcoólicos Anônimos, profissionais especializados.
Quais as maiores dificuldades para parar de beber?
A própria condição do sujeito que apresenta problemas com o uso da bebida já é algo significativo nessa dificuldade. Fora que o uso do álcool é algo extremamente estimulado em diversas culturas, questões da ordem da subjetividade são outro fator relevante. É muito importante procurar ajuda.
O preconceito em se assumir dependente do álcool prejudica quem quer parar de beber?
Com certeza é um fator importantíssimo, ainda hoje. Mesmo com todos os avanços nessa área, o preconceito acerca de quem apresenta problemas relacionados ao uso do álcool dificulta um pedido de ajuda. A pessoa precisa ser olhada com compaixão e não como alguém que escolheu de forma deliberada essa condição.
Vemos jovens consumindo excessivamente o álcool. É grande o número de jovens procurando ajuda por não conseguir ter equilíbrio ao ingerir bebida?
Sim, hoje percebemos uma parcela significativa da população jovem buscando ou sendo levados a procurarem ajuda.
E mulheres? Também aumentou a dependência do álcool entre elas?
Sim, embora ainda seja preciso muito mais políticas que acolham essa população, pois o estigma social imposto pelo fato de ser mulher ainda é algo que dificulta o pedido de ajuda.
Quais cuidados a pessoa que conseguiu parar de beber deve ter para não voltar ao vício?
Primeiramente pedir ajuda, é importante que o sujeito perceba e se dê conta de sua fragilidade, os grupos de mútua ajuda Alcoólicos Anônimos, um profissional especializado, são recursos extremamente importantes para lidar com a questão e a manutenção da abstinência.
Qual o conselho que você dá a quem se identificou como dependente?
O conselho que dou é que a pessoa possa entender que está vulnerável e precisando de ajuda. Como falei inicialmente, alcoolismo é uma doença grave e que precisa de tratamento. O sujeito que apresenta problemas relacionados ao uso do álcool, está adoecido e extremamente vulnerável. Sua autoestima, autoconfiança, autonomia, juízo crítico encontram-se totalmente abalados. Caso você perceba ou conheça alguém nessa condição, estimule a procura por ajuda, a pessoa precisa ser compreendida e não julgada, isso com certeza pode fazer toda a diferença.
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