Na tarde da última segunda-feira, 18, três membros da Defensoria Pública – os defensores Larissa Davidovich, Rafael Meressi e Henrique Colly –, junto com Júlio Cordeiro, presidente da Associação Comercial (Acianf), Braulio Rezende, presidente da Cãmara de Dirigentes Lojistas (CDL) e do Sindicato do Comércio Varejista de Nova Friburgo (Sincomércio), e Rafael Spinelli, engenheiro mecânico e autor de um estudo recente que aponta números favoráveis para uma flexibilização no município, apesar de reforçar o isolamento social – se reuniram para tratar de uma possível retomada gradual das atividades do comércio.
De acordo com os membros da Defensoria, o encontro foi considerado bastante positivo. Os participantes repercutiram o estudo elaborado por Rafael, além de discutir pontos divergentes e convergentes. Na parte em que os discursos se encontram, ambos os lados concordam que é preciso ter mais acesso a informações precisas. “É uma iniciativa importante, na medida em que criamos um diálogo com os setores da economia. Ouvimos tudo o que eles tinham a dizer e ouvimos a apresentação do estudo elaborado pela empresa PBS. Já havíamos dialogado com prefeito também e o resultado foi muito bom”, disse a defensora Larissa.
Entre os pontos em que os discursos se afinam, a Defensoria projeta uma parceria que renderá bons frutos. “Sobre a flexibilização do comércio, temos uma pauta que vamos lutar juntos que é a implementação do hospital de campanha para que ele comece a funcionar o quanto antes. A união desses interesses pode levar a termos resultados positivos”, comemoraram os membros do órgão.
Outro ponto convergente dessa união é a busca por transparência dos números e das informações. “Acreditamos que é importante que os órgãos de controle e a própria população tenham acesso a tudo isso. Que seja algo mais intuitivo e esclarecedor por parte dos gestores públicos”, pediu a Defensoria. “Não queremos que empresas fechem, não queremos desemprego, e nesse momento é papel do governo apontar soluções”, completou a defensora.
Na reunião, o fator “transparência” serviu para repercutir o estudo apresentado. Em entrevista para A VOZ DA SERRA, publicada nesta terça-feira, 19, Rafael Spinelli disse que só com a divulgação de dados e informações precisas será possível ter a dimensão da situação atual. No entanto essa fala foi pontuada pela Defensoria, já que o estudo defende a flexibilização com segurança. “Se não temos informações precisas, é mais um indicativo de que a gente lide com o pior cenário, da subnotificação, da falta de transparência. Nessa conjuntura, como cogitar flexibilizar o comércio, quando na verdade o avanço da doença está longe de estar controlado?”, questionou o órgão.
Comportamento da população
Segundo os defensores públicos, a principal divergência de opinião é com relação aos pedidos de flexibilização do comércio e o comportamento da população friburguense, não considerado o ideal. “No Centro, as pessoas utilizam as máscaras de proteção, há uma preocupação com distanciamento correto. Ao pegar a reta de Conselheiro Paulino, por exemplo, o comportamento se modifica, com mais pessoas se descuidando dessas medidas protetivas e não há como fiscalizar isso. Em Riograndina, por exemplo, flagramos a maior parte das pessoas sem máscara, as poucas que tinham o equipamento, as utilizavam no pescoço, ou seja, de forma inadequada”, observa a defensora.
“Com o estudo, entende-se que o uso apenas da máscara é um indicador de que a cidade poderia afrouxar as regras para o comércio. A conclusão apontada só foi possível diante de um somatório de fatores. Não houve ainda uma experiência de flexibilização do comércio mediante uso de máscara para ver como o vírus se comporta. Nós temos o decreto municipal que torna obrigatório o uso das máscaras em determinados locais, junto com o decreto do isolamento social, junto com outras medidas restritivas. O somatório disso chega ao resultado divulgado (que indica que Friburgo está num patamar aceitável para a flexibilização). Não se pode dizer que aquele resultado indica que o número de máscaras contém o avanço da doença porque não houve esse experimento na cidade. Não há um controle do número de casos”, completa Larissa.
A Defensoria ressaltou também que, diante de um panorama em que a falta de testes em massa, o crescimento do número de infectados e o hospital de campanha que ainda não está pronto, não é o momento de flexibilizar o comércio, “pelo contrário, é hora de incrementar as medidas restritivas”, disseram os defensores.
O estudo
O estudo leva em consideração o momento em que o decreto do uso de máscaras entra em vigor, (22 de abril), mas não leva em consideração o tempo anterior em que as pessoas não tinham a obrigatoriedade do uso de máscara em ambientes compartilhados e houve uma possível proliferação do contágio, como mostram os boletins da prefeitura.
Segundo o estudo, a taxa de transmissão, que é o parâmetro R0 (lê-se R-Zero), deve ser sempre menor que 1, o que significa que, em média, uma pessoa contaminada infecta, no máximo, outra pessoa. Quando esse parâmetro indica que cada indivíduo está contaminando mais que uma pessoa, é preciso apertar as medidas de prevenção e isolamento. Mas quando esse parâmetro está abaixo de 1, permite algum tipo de flexibilização”, afirmou Rafael em entrevista publicada na edição desta terça-feira.
Os gráficos mostraram que, apesar de uma redução, cujo menor índice chegou a 0,74, no final do intervalo analisado, o índice estava em crescente evolução, batendo em 0,95, próximo a 1,0, limite para a recomendação da flexibilização. Esses valores são referentes ao intervalo 23 de abril e 11 de maio. Hoje a cidade apresenta 130 casos da doença e 13 mortes. No último dia 11, a cidade registrava 89 casos, com 8 óbitos por coronavírus.
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