A dramática situação no Pantanal

Incêndios ferem e matam milhares de animais
sexta-feira, 04 de outubro de 2024
por Jornal A Voz da Serra
(Foto: Joedson Alves Agência Brasil)
(Foto: Joedson Alves Agência Brasil)
Os incêndios florestais continuam consumindo a flora do Pantanal brasileiro e vitimizando milhares de animais, de onças-pintadas a veados-catingueiros. A área arrasada pelo fogo se aproxima dos 2 milhões de hectares, só no Mato Grosso do Sul. A perda da superfície d’água encolheu mais de 60% em 2023 na comparação com a média histórica (1983-2023). Até o momento, o Pantanal é o bioma que mais secou nas últimas 4 décadas.

Além do maior risco, o de morte, a fauna é ameaçada de outras formas, durante e após as chamas
O trabalho dos bombeiros, socorristas, técnicos e voluntários que continuam na região tem se dividido entre a tentativa de conter as chamas e o resgate e monitoramento de milhares de animais, que lutam para sobreviver em meio ao fogo. O sinal mais claro do sofrimento dos bichos, na maioria das vezes, é percebido nas patas queimadas pelo chão quente. 

Com prejuízos incalculáveis para o meio ambiente, as queimadas que atingem as florestas em diferentes regiões do país causam estragos catastróficos para a vida animal. Além das mortes, que são o maior risco — nas queimadas de 2020 no Pantanal, por exemplo, a estimativa é de que cerca de 17 milhões de animais vertebrados tenham morrido. Para os que sobrevivem, poucos retornam para o seu habitat, e o fogo pode causar diversos outros problemas, provocando sequelas irreversíveis.

Os que conseguem sobreviver por conta própria, pelo menos por um tempo e a um alto custo, ao lidar com queimaduras, inalação de fumaça e dificuldade para encontrar alimento na terra arrasada pelo fogo, alguns sucumbem, outros seguem vivendo. Os que conseguem fugir para outras áreas ainda precisam competir com populações que já estão estabelecidas, explica o biólogo e diretor no SOS Pantanal, Gustavo Figueirôa: “É um efeito cascata”.

A longo prazo, segundo a professora Líria Hirano, da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade de Brasília (UnB), os animais também podem sofrer com o emagrecimento e a desidratação por falta de recursos alimentares e hídricos. “O desenvolvimento de doenças respiratórias crônicas e de infecções secundárias se deve às lesões causadas pelo fogo ou pela queda de imunidade decorrente do estresse sofrido durante os incêndios”, ressalta.

Em Brasília, as chamas tomaram conta do Parque Nacional por uma semana. Dois dias depois do início do incêndio, em 17 de setembro, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) começou a fazer o monitoramento da fauna com uma equipe formada por profissionais do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação, da Coordenação de Manejo Integrado do Fogo e do Jardim Zoológico de Brasília.

Nesse monitoramento, duas antas foram resgatadas e uma delas não resistiu. Na necropsia, detectou-se muita alteração no sistema respiratório, provavelmente devido à inalação de fumaça.

Outros casos

Um filhote de macaco-prego foi resgatado em meio às cinzas, na região chamada de Salobra, em Miranda, no Pantanal sul-mato-grossense. Socorrido por equipes do Ibama, ainda estava com o cordão umbilical e foi levado para o Hospital Veterinário Ayty, no Centro de Recuperação de Animais Silvestres (Cras), em Campo Grande.

No mês passado, também no Pantanal, uma onça-pintada com queimaduras nas patas foi encontrada na mesma cidade. A fêmea, de dois anos, foi avistada mancando por moradores e resgatada dentro de uma manilha, em uma área rural. O animal foi sedado e levado para o mesmo hospital que o macaco-prego, em Campo Grande.

Além da onça Miranda, o Cras também cuida de um filhote de veado-catingueiro, resgatado durante incêndio florestal na Aldeia Alves de Barros, entre Bodoquena e Bonito. Apelidado de ‘Órfão do Fogo’, já que foi achado sozinho, ele será acompanhado pelos veterinários até a fase adulta, quando deve ter capacidade de ser solto.

Já o quadro de uma onça macho, o Antã, era considerado mais grave que o de Miranda. Ele morreu em 12 de setembro após sofrer uma parada cardíaca, enquanto era preparado para mais uma sessão de ozonioterapia para recuperar as patas. Além dos ferimentos graves, com queimaduras mais profundas que as de 3°grau, ele apresentou, ainda, problemas no pulmão por causa da inalação de fumaça. As ultrassonografias revelaram, também, alterações no fígado e na bexiga. Esse felino foi encontrado no dia 17 de agosto, na região de Passo do Lontra, em Miranda (MS), mesmo município onde a fêmea foi capturada. Foi resgatado com 72 kg, peso muito abaixo do que seria o ideal: 100 kg.

O Hospital Veterinário Ayty costuma receber cerca de 2,5 mil bichos por ano. Em 2024, com uma área queimada que já ultrapassa em mais de 155% a dimensão de 2020 — quando houve a pior temporada de incêndios no Pantanal sul-mato-grossense —, essa quantidade deve ser atingida em breve.

O Instituto Nex (Ong localizada em Corumbá, Goiás, a 80 km de Brasília) trata e abriga onças feridas ou sob ameaça. O maior felino das Américas, já extinta nos Estados Unidos, ainda pode ser encontrado no Brasil mas situação é crítica. 

“O Nex recebe animais em várias condições: animais que são saudáveis, mas que não têm destinação; animais que têm sequelas de maus-tratos ou de caçadores; e animais que precisam ser tratados e depois reintroduzidos na natureza”, explica a veterinária Pollyanna Motinha.

Em 2020, durante as queimadas no Pantanal, duas onças — Manassi e Ousado — foram resgatadas em meio às chamas e levadas para o Nex. A veterinária contou que Ousado se recuperou 100% e voltou para o seu habitat. Já Manassi não pôde voltar para a natureza. “As lesões dela eram tão graves que ela perdeu a capacidade de expor as garras, então permanece com a gente no Nex”, conta.

Pollyanna diz que a principal dificuldade de trabalhar com esses animais é o tamanho e a necessidade de anestesiá-los em todos os procedimentos, além dos curativos que demandam bastante tempo e experiência.

Mais vulneráveis

O fogo afeta diferentes espécies, inclusive com ferimentos graves. “As mais afetadas vão depender da característica da área atingida e da biodiversidade da fauna local, mas no geral as aves que voam podem se deslocar mais facilmente durante os incêndios. Enquanto os répteis, como os lagartos e as serpentes, e os anfíbios têm mais dificuldade de se locomover e acabam sendo as vítimas mais frequentes”, explica a professora Líria.

Ela revela porque os filhotes são frequentemente resgatados. “As fêmeas, muitas vezes, deixam os filhotes na toca em busca de alimento e não conseguem retornar devido ao fogo. Às vezes, a mãe está fugindo e morre no caminho, mas o filhote consegue continuar, e alguns animais protegem o filhote por mais tempo carregando-o nas costas”.

Os mamíferos mais lentos, como os tamanduás e antas, estão entre os mais vulneráveis em casos de incêndio, e a depender da intensidade do fogo, muitas aves também acabam morrendo. 

Riscos para humanos

Quando esses animais fogem das áreas de floresta por causa do fogo, eles podem chegar a lugares que não oferecem condições de vida adequadas. Além do sofrimento enfrentado por eles, caso a região seja uma área urbana ou nas redondezas, com movimento de pessoas, os humanos também correm riscos, inclusive de sofrer ataques.

Outros riscos são as doenças zoonóticas, transmitida entre pessoas e animais, que também são um perigo potencial em caso de contato mais próximo, acrescenta a professora da UnB. Portanto, o manejo e a manipulação de animais silvestres devem ser feitos somente por profissionais capacitados. 

A orientação para quem encontrar animais assim em áreas urbanas é sempre ligar para os órgãos competentes como os bombeiros, secretaria de meio ambiente do estado ou município ou qualquer força pública para realizar o resgate adequado dos animais, quando será encaminhado para uma unidade veterinária especializada, tratados e após os cuidados, será avaliado se ele tem condições de ser devolvido à natureza.

(Fontes: metropoles.com e sbtnews.sbt.com.br)

 

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