De olho nos mares para não perder 70% do Planeta Terra

Exploradores da National Geographic revelam porque o Dia Mundial dos Oceanos é fundamental para entender o papel dos mares e a urgência de protegê-los
sexta-feira, 02 de junho de 2023
por Jornal A Voz da Serra
(Fotos: Freepik)
(Fotos: Freepik)

Em 8 de junho se comemora o Dia Mundial dos Oceanos, data designada oficialmente em 2008, pela Organização das Nações Unidas (ONU). A Unesco destaca que a ideia de fixar um dia específico para falar dos oceanos — destacando o papel crucial desses corpos de água que cobrem grande parte do planeta — foi proposta pela primeira vez em 1992, durante a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro, batizada Rio 92.

Para chamar a atenção sobre a preservação dos ecossistemas marinhos, a ONU aproveita a data para criar um evento global — o Dia Mundial dos Oceanos das Nações Unidas. Realizado anualmente, ele é organizado pela Divisão de Assuntos Oceânicos e Direito Marítimo (Escritório de Assuntos Jurídicos) da própria ONU e convida diversos setores para discutir ações conjuntas de preservação. 

“A data é um lembrete do quão importante os oceanos são para a nossa vida. Eles têm grande parte no controle climático, como grandes sumidouros de carbono, e são uma fonte essencial de alimento”, ressalta Angelo Fraga Bernardino, oceanógrafo, ecologista marinho e explorador da National Geographic. “Por sermos terrestres, às vezes esquecemos sua importância.”

Para Cristian Lagger, biólogo marinho, pesquisador do Laboratório de Ecologia Marinha do Instituto de Diversidade e Ecologia Animal (Idea/Conicet) na Argentina, também explorador da National Geographic, a data é essencial para ressaltar que um oceano vivo impacta diretamente nossa saúde e bem-estar econômico. 

“É uma data especial para tentarmos transmitir isso às pessoas e para que entendam que, se não olhamos para o mar, estamos perdendo 70% do nosso planeta”, ressalta Lagger.

TERRA: Planeta Oceano

Existem cinco oceanos no planeta: Atlântico, Pacífico, Índico, Ártico e o Antártico — este último reconhecido oficialmente como oceano pelo comitê de políticas de mapas da National Geographic há exatamente um ano. Mas, apesar dessa divisão, para Bernardino é um engano pensar nos grandes corpos de água que rodeiam os continentes como coisas diferentes. 

“O oceano é um elo de ligação para a humanidade e todas suas partes estão conectadas", diz ele. "Não são vários oceanos, é um planeta oceano.”

Segundo Bernardino, o oceano é essencial para a vida humana por ser fonte de alimento, transporte, geração de energia, lazer e regulação climática, além de abrigar uma enorme biodiversidade.  

O oceano é a base de economias e meios de subsistência locais, nacionais e globais. De acordo com o Relatório Especial sobre o Oceano e a Criosfera em um Clima sob Mudança (Srocc, na sigla em inglês), produzido pelo Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas (IPCC), cerca de 28% da população mundial vive em regiões costeiras, e mais de dois bilhões de pessoas dependem direta ou indiretamente dos ecossistemas marinhos. Como exemplo, o relatório informa que os oceanos fornecem aproximadamente 170 milhões de toneladas de frutos do mar por ano, cerca de 15% de toda a proteína consumida pelos seres humanos.

Em relação à biodiversidade, os ecossistemas marinhos abrigam pelo menos 230 mil espécies de plantas, invertebrados, peixes e outros vertebrados, segundo o Censo da Vida Marinha, programa global de pesquisa, divulgado em 2010, que reuniu 2,7 mil cientistas de mais de 80 países sobre a vida nos mares. O censo estima que, para cada espécie marinha conhecida pela ciência, existam pelo menos quatro não descobertas. 

“O oceano pode ser ainda mais diverso do que as florestas terrestres, e o papel ecológico dessa diversidade toda é importante não só nos ecossistemas locais, já que também desempenham funções essenciais em nível global”, afirmou Cristian Lagger. Um exemplo é a relevância de organismos oceânicos para a produção do oxigênio na atmosfera. 

Segundo informações dos Centros Nacionais de Ciências do Oceano Costeiro, dos Estados Unidos, entre 50 a 80% da produção de oxigênio na Terra vem do processo de fotossíntese de espécies de plâncton oceânico.

Os oceanos também são essenciais para a regulamentação climática do planeta, absorvendo CO2 e calor da atmosfera. Por meio da circulação oceânica (correntes), o calor é absorvido e distribuído pelo globo, dos trópicos aos pólos e da superfície ao fundo do mar, “levando calor dos lugares mais quentes para os mais frios e vice e versa”, explicou Ângelo Bernardino. “Esses são alguns exemplos de como os oceanos influenciam até regiões que não estão próximas à costa, ou seja, mesmo pessoas que nunca viram o mar precisam dele.”

As ameaças que os oceanos enfrentam

Assim como outros ecossistemas do planeta, diversos estudos, como o artigo Orçamento Global de Carbono 2020, publicado no periódico científico Earth System Science Data, mostram que os ambientes marinhos estão sofrendo mudanças por conta de ações humanas degradantes. Entre os principais problemas, os exploradores mencionaram a pesca excessiva, a poluição dos mares, principalmente a poluição plástica, e os efeitos das mudanças climáticas nos oceanos. 

“Pessoalmente, eu fico muito mais alarmado com as mudanças do clima em função da sua magnitude”, afirmou Bernardino. 

Sobre ameaças:

1) Aumento da temperatura das águas superficiais; 

2) Derretimento de gelo polar com consequente aumento do nível do mar, ameaçando populações costeiras; 

3) Alterações de temperatura de correntes marinhas com efeitos negativos no transporte de nutrientes e na produção de oxigênio; 

4) Acidificação dos oceanos, que afetam significativamente os recifes de corais; 

5) Mudanças nos ciclos oceânicos que potencializam fenômenos como o El Niño. 

Esse último, por ser um fenômeno importante para a estabilidade no clima em diversas regiões, pode causar o aumento da frequência e da intensidade de eventos extremos, como furacões e tufões caso seja potencializado. De acordo com Bernardino, isso acontece porque “a água é um condutor térmico, fazendo com que o oceano seja um enorme transportador de energia — em forma de calor — pelo planeta. Quando a água aquece demais e há excesso de energia liberada para a atmosfera, ocorrem anomalias capazes de gerar catástrofes, como grande tempestades e furacões".

Para Lagger, a perda da biodiversidade também é um motivo de preocupação. “É uma consequência direta de quase todos os problemas que vemos nos ambientes oceânicos na atualidade. O pior é que ainda hoje existem diversas espécies que não conhecemos. Podemos estar perdendo espécies muito mais rápido do que conseguimos encontrá-las”, destacou o pesquisador. 

 (Fonte: nationalgeographicbrasil.com)

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