Encaixotar, embalar, mudar, reorganizar... Muitos empreendedores sentiram o peso do valor dos aluguéis durante a pandemia da Covid-19. Com isso, alguns fecharam as portas definitivamente, outros tiveram que mudar para espaços menores ou passaram a atuar apenas virtualmente, com os funcionários trabalhando em home office.
Com esse cenário atual, que não é nada favorável, houve a desocupação de uma grande parcela de pontos comerciais nos principais centros urbanos do país e também em cidades do interior, como Nova Friburgo. Como exemplo, o percentual de lojas, escritórios e salas comerciais que estão vazios no centro do Rio chegou a 45% no fim de 2020, segundo número divulgado pela Associação Brasileira de Administradoras de Imóveis (Abadi).
Em Friburgo, basta andar rapidamente pelas ruas do Centro, para percebermos vários pontos comerciais fechados, como restaurantes, lojas de roupas, entre outros… Algumas lojas conseguiram se readequar criando sites, disponibilizando os pedidos por delivery etc — outras já não tiveram esta mesma “sorte”. Podemos até relembrar uma, que fechou em agosto do ano passado e deixou boa parte dos friburguenses com o coração partido: a videolocadora Disk Vídeo, que esteve presente no mercado há 25 anos, no final da Rua Portugal, esquina com a Rua José Eugênio Muller.
Outro estabelecimento que fechou em janeiro deste ano, também na Rua Portugal, foi o restaurante Califórnia, que marcou presença no mercado durante 20 anos. “É muito triste ver comércios que faziam parte do nosso cotidiano fechando. Eu, por exemplo, almoçava quase toda semana no Califórnia e fico com o coração partido ao ver bons lugares sendo fechados por causa desta terrível pandemia”, relatou o friburguense Antônio Figueira.
Outro clássico restaurante do centro da cidade, o Mariley, especializado em comida mineira, também encerrou as atividades na Rua Fernando Bizzoto, depois de 23 anos de mercado. Agora o restaurante faz entregas por telefone ou Ifood. “Não vamos culpar somente a pandemia. As coisas já estavam muito difíceis. A pandemia foi o gatilho para tomarmos a decisão. Uma hora pode entrar cliente, outra hora não e ficamos num jogo de abre e fecha, o que acaba gerando um desgaste físico e emocional. Todos andam muito estressados, e nós do comércio não somos diferentes. Resolvemos pausar enquanto a situação não se agravasse, tanto emocional quanto financeiramente. Não era o que queríamos, mas foi uma decisão acertada neste momento. Devemos colocar o chapéu onde o braço alcança. Quem sabe um dia não voltamos com nossa atividade por completo. Por enquanto, estamos nos reinventando no delivery. Não é fácil tomar a decisão, foram 23 anos no mesmo local. Passaram muitos clientes por aqui, fizemos alguns amigos. Às vezes bate um sentimento de impotência, mas, e se continuar e não der conta depois? Será pior com certeza. Dói, mas vamos seguir em frente, acreditar que dias melhores virão. Até breve! Um abraço de toda a família Mariley”, disse a proprietária Marilei Peixoto.
Mudança de comportamento
Mesmo com o fim da pandemia, percebe-se uma tendência de que o trabalho home office continue para muitas empresas. Portanto, mais pontos comerciais poderão ficar desocupados. Em grandes empresas como a Tim, milhares de funcionários passaram a atuar em home office de forma definitiva. Na PepsiCo, por exemplo, equipes de escritório poderão optar por trabalhar de onde quiserem. Pelo visto, as mudanças no mercado de trabalho produzidas pela pandemia vão durar mais que o previsto pelas empresas.
Alguns não culpam só a pandemia, já que numa pesquisa da KPMG entre os líderes corporativos dos EUA, 68% dos CEOs de grandes empresas americanas disseram que planejam pelo menos reduzir o tamanho de seus escritórios — se não os deixar completamente. O coronavírus fez com que esse tipo de estratégia chegasse mais cedo no Brasil.
Placas de aluga-se por todo lado
Simone Serra Vieira, proprietária da imobiliária Serra Vieira relata que “em relação à locação comercial, o preço precisa se recompor pois a dificuldade é grande. Os proprietários que não cedem os preços e nem fazem acordos com seus inquilinos, acabam ficando com seus respectivos imóveis vazios”, esclareceu.
Simone é um exemplo vivo sobre se readequar e ter o feeling sobre como modificar o que é necessário neste momento e daqui para frente. “Eu estou saindo de uma loja e indo para uma sala no mesmo prédio, pois essa pandemia mostrou a necessidade de modernizar, implantar um novo sistema, trabalhar melhor com as mídias sociais, que dá um retorno muito bom atualmente. Eu já estou há 22 anos no mercado e tenho uma clientela formada, o que ajuda muito. Vou investir uma parte em tecnologia pois chegamos a conclusão que as vezes não é necessário você investir em um espaço muito caro e é melhor você reverter isso em investimentos com propaganda e mídia social. Várias pessoas estão buscando e encontrando uma nova forma de trabalhar”, relatou.
“Outra questão também é que a maior parte dos contratos de locação sempre são reajustados - isso é uma prática do mercado - pelo IGP-M, que está batendo entre 25% e 28%, então está completamente dissonante com a realidade. Isso também está forçando os proprietários a fazerem composição com seus inquilinos. Estamos optando pelo IPCA e INPC, que são índices que refletem melhor a inflação — também estamos usando esses fatores até mesmo para reajustar os aluguéis, pois quando a gente fala em reajuste os inquilinos relatam que se não conseguirem segurar, eles entregam os imóveis, e isso tem se repetido muito”, disse Simone.
Sobre vendas de imóveis, o momento parece estar favorável, de acordo com Simone. "Esse ano a gente começou com um movimento melhor e o mercado está parecendo mais favorável, com juros mais baixos para o financiamento. Essa parte realmente deu uma melhorada. Já na locação nós temos muita oferta e preços caindo para se adequar à nova realidade, pois as pessoas ainda estão sofrendo muito com os efeitos da pandemia”, finalizou.
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