"Na sala de parto, nós, médicos, nos preocupamos quando o bebê não chora. E tem de chorar forte, como competição de olimpíadas em que o exercício vale nota — quanto mais forte o choro, melhor a pontuação. Logo se vê a importância do chorar. Você diria, então, que o bebê chorão nasceu desequilibrado? Imaginaria que ele vai crescer uma pessoa frágil e muito sentimental? Na selva em que dizem vivermos, profetizam que temos de ser fortes. É assim que o adulto vai desaprendendo a chorar, como se o choro fosse algum sinal de fraqueza. Mas, quem não chora não mama", assinala o psiquiatra do Hospital Israelita Albert Einstein (SP) e colaborador do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, Victor Bigelli de Carvalho, ao descrever a importância do choro.
Já na fase adulta, o choro continua sendo essencial e está presente em todas as culturas. Choramos quando perdemos um ente querido, quando estamos angustiados, com raiva, doentes. Mas também choramos de alegria, de tanto rir e até mesmo descascando uma cebola. E nunca como agora choramos tanto. A pandemia gerou um choro coletivo, de desabafo, cansaço, tristeza, por nós e pelos outros.
"Chorar tem a função de gerenciar o nosso estresse e fazer com que o corpo entre em homeostase, ou seja, sua situação de equilíbrio", descreve Carvalho. Segundo o especialista, da mesma forma que, após uma corrida, o cérebro manda mensagem para o coração baixar a frequência cardíaca e retornar os batimentos do repouso, o choro é importante para voltar ao estado mental basal.
Todo ser humano precisa expressar suas emoções de alguma forma, sejam elas boas ou ruins, e o choro é exatamente isso: a manifestação dos nossos sentimentos por meio das lágrimas.
Três tipos de lágrimas, três composições químicas diferentes
A primeira é produzida o tempo inteiro e tem a função de lubrificar os olhos e protegê-los contra micro-organismos. Ela é mais líquida e tem mais óleos (ou gorduras) que facilitam essa lubrificação, além de água, sais minerais e proteínas.
A segunda é uma lágrima de proteção, que atua como um reflexo derivado de um estímulo. Por exemplo, quando cortamos uma cebola, ou deixamos cair algum objeto sobre os olhos que os deixam irritados. Nesses casos, imediatamente nossos olhos enchem de lágrimas para "lavar" a região. Esse tipo de lágrima possui enzimas que ajudam a destruir algumas toxinas e bactérias.
A terceira lágrima é a que produzimos quando choramos — chamada de lágrimas emocionais. Ela tem alguns hormônios que são responsáveis por deixar o nosso sistema um pouco mais calmo, relaxado. A ocitocina, conhecida como hormônio do amor, também está presente nesse tipo de lágrima. Essa substância, quando liberada, faz com que a gente tenha mais compaixão ou fique mais apegado a alguém que seja próximo. Além disso, ela inibe os níveis de cortisol, o hormônio do estresse, no organismo.
O neurocientista André L Souza, formado pela Universidade do Texas, nos Estados Unidos, explica que não existem muitos estudos científicos que comprovem as substâncias encontradas nesse tipo de lágrima, devido à dificuldade de induzir certos tipos de situações. Mas há discussões a respeito.
"Por isso acredita-se que a gente fica mais calmo ou se sente um pouco melhor, porque basicamente a gente libera todas essas substâncias, esses hormônios que são responsáveis por deixar a gente mais calmo", explica o neurocientista.
(Fonte: Viva Bem)
Deixe o seu comentário