Centro de Turismo: destino do espaço indefinido

Além de tapumes evidenciando obras, foi instalada nesta semana uma placa indicando “adequação das instalações’
terça-feira, 03 de setembro de 2024
por Jornal A Voz da Serra
(Foto: Henrique Pinheiro)
(Foto: Henrique Pinheiro)

O destino do imóvel que, por décadas, abrigou o Centro de Turismo, na Praça Dermeval Barbosa Moreira, vem causando dúvidas entre os friburguenses. No mês passado, a prefeitura, ao ser questionada por A VOZ DA SERRA sobre o que irá acontecer com o tradicional espaço, confirmou que o Centro de Turismo daria lugar a uma base operacional do programa Segurança Presente, subordinado à Secretaria de Governo do Estado do Rio de Janeiro, fruto de uma parceria entre o município e o Estado. Depois de o imóvel ter sido cercado por tapumes evidenciando os preparativos para o início de obras, nesta semana foi instalada no local uma placa informando que o espaço passará por intervenções para “manutenção e adequação das instalações”.

Nesta terça-feira, 3, a equipe de reportagem de A VOZ DA SERRA esteve no local, pela manhã, e constatou que não havia movimentação de obras no imóvel, o que aumentou a curiosidade da população sobre o destino daquele espaço. Havia até veículos estacionados junto ao imóvel ocupando parte da praça. Procuramos a secretaria municipal de Comunicação Social e o Governo do Estado do Rio de Janeiro para que nos informassem sobre o destino do imóvel, mas não obtivemos resposta até o fechamento desta edição.

No entanto, o secretário municipal de Turismo, Renan Alves, disse ontem que a prefeitura ainda não definiu oficialmente que o espaço que serviu ao Centro de Turismo será mesmo uma base do programa de segurança pública. Ainda segundo o secretário, a prefeitura está atenta às demandas da sociedade, mas também às implicações que a possível parceria poderá resultar. Recentemente a Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) e o Sindicato do Comércio Varejista (Sincomércio) se manifestaram contrariamente a utilização do espaço para uma base de segurança. 

O presidente de ambas as entidades, Braulio Rezende, no entanto, esclareceu, que não é contra a segurança pública e o maior patrulhamento das vias urbanas, mas questiona a possibilidade de utilização do imóvel que tem características próprias e é um marco na história da cidade, para este fim.            

 Desde o ano passado, o Centro de Turismo, ponto de referência para visitantes e a população em geral, não funciona mais no imóvel junto ao chafariz da praça. Ele ficou fechado por um tempo e no fim do ano serviu como base de apoio e parte integrante da decoração de Natal da cidade. O espaço para informações turísticas de Nova Friburgo funciona agora junto à Praça das Colônias, no Suspiro. 

Uma proposta, várias considerações          

A possibilidade de transformar o antigo Centro de Turismo de Nova Friburgo, na Praça Dermeval, em uma base do programa Segurança Presente, levantou questionamentos sobre o planejamento urbano na cidade. 

Por décadas, o Centro de Turismo foi um ponto vital de recepção e informação para visitantes e residentes, desempenhando um papel crucial na promoção e no acolhimento do turismo local. A proposta do espaço servir ao Segurança Presente, a princípio, parece ser uma solução prática para um problema crescente: a necessidade de maior patrulhamento das vias públicas e o combate a atos ilícitos, como o comércio de drogas, mais evidente na vizinha Praça Getúlio Vargas. 

Replanejamento sem visão holística

Na opinião de alguns urbanistas e arquitetos, a transformação do antigo Centro de Turismo em uma base do programa Segurança Presente “é uma escolha que evidencia uma falta de consideração pelos conceitos fundamentais de urbanismo. A falta de uma visão holística na readequação do espaço é alarmante. Profissionais de urbanismo e arquitetura que pensam nas cidades de forma integrada sabem que cada mudança no uso do espaço deve considerar não apenas o benefício imediato, mas também os impactos a longo prazo no tecido urbano e na experiência dos cidadãos”.

Urbanistas defendem que o  antigo Centro de Turismo não é apenas um edifício; ele é um ponto de referência cultural e um símbolo do acolhimento de Nova Friburgo. Transformá-lo em uma base policial pode parecer uma solução prática para questões de segurança, mas desconsidera o impacto negativo na atração turística e no caráter histórico da região. É uma medida que não apenas ignora o valor cultural do local, mas também compromete a experiência dos visitantes e a função histórica do espaço.

“A dinâmica da constante readequação urbanística das cidades só gera resultados positivos para as pessoas quando realizados por profissionais arquitetos urbanistas que pensam na cidade de forma holística. A transformação do centro de turismo, localizado no coração do nosso centro histórico, em base do programa Segurança Presente é mais uma aberração que demonstra total ignorância dos conceitos urbanísticos. Onde estão as instituições representativas da sociedade civil? Todos estão omissos”, observa o engenheiro Ivison Macedo.

A visão de especialistas 

Além do questionamento sobre o planejamento, a omissão de algumas instituições representativas da sociedade civil é um ponto crítico, acreditam alguns urbanistas que questionam os conselhos municipais, as associações e outras entidades que deveriam estar ativamente envolvidos na discussão e aprovação de mudanças tão significativas? A falta de engajamento e debate público sobre a decisão indica, na opinião desses urbanistas, uma preocupante falta de transparência e participação cidadã.

A segurança é, sem dúvida, uma prioridade, isso não deve vir à custa da preservação e valorização do patrimônio cultural e histórico de Nova Friburgo. O programa Segurança Presente é uma iniciativa que pode trazer benefícios significativos, como o aumento da presença policial e uma maior sensação de segurança, o que é essencial para o bem-estar dos cidadãos e para a atratividade turística da cidade.

“No entanto, o equilíbrio entre segurança e preservação cultural deve ser cuidadosamente considerado. A transformação do Centro de Turismo em uma base policial deveria ser apenas uma parte de uma estratégia mais ampla, que inclui a análise do impacto no turismo e a busca por alternativas que preservem a integridade histórica da cidade.

Nova Friburgo merece um planejamento urbano que valorize tanto a segurança quanto o patrimônio cultural. É essencial que futuras decisões sobre readequações urbanísticas sejam baseadas em uma visão integrada e participativa, respeitando a história e o papel dos espaços na vida da comunidade. O engajamento das instituições e a participação ativa da sociedade civil são fundamentais para garantir que as mudanças sejam benéficas para todos e que o desenvolvimento da cidade respeite e preserve sua identidade única”, dizem os urbanistas. 

Sobre o Segurança Presente

O Segurança Presente é um modelo de abordagem de proximidade que suplementa a atuação da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro. Com o objetivo de promover ações de segurança pública, cidadania e atendimento social, as operações visam um ambiente mais seguro e acolhedor aos moradores, comerciantes e turistas das regiões onde atua.

Com resultados impactantes de redução de criminalidade no horário e área de atuação, a Operação Segurança Presente ganhou a confiança da população fluminense e se tornou uma marca forte e desejada por todos.

As demais operações foram inauguradas nos anos seguintes com a meta de reduzir índices de criminalidade, promover o reordenamento urbano, prestar atendimento social e garantir o direito de ir e vir da população do Rio de Janeiro. O efetivo é formado por policiais militares, agentes civis (egressos das Forças Armadas) e assistentes sociais. O patrulhamento é feito à pé, de bicicleta, de motocicleta e viaturas.

O contato direto com a população faz toda a diferença na atuação dos agentes do Segurança Presente. Com uma abordagem cidadã os policiais militares e agentes civis conquistaram a confiança da sociedade.

Com respeito ao cidadão, os agentes de segurança explicam os motivos da abordagem e contam com a colaboração do abordado. A missão do Segurança Presente é proporcionar sensação de segurança através do contato direto e personalizado à população.

Além do trabalho de segurança, o foco do Segurança Presente está no atendimento social. As operações contam com assistentes sociais de plantão, que são responsáveis pelo atendimento a pessoas em situação de rua e vulnerabilidade social. Esses profissionais dão assistência a pessoas perdidas, sem documentos etc. As pessoas em situação de rua são encaminhadas para abrigos públicos da prefeitura ou instituições filantrópicas.

Foto da galeria
(Foto: Henrique Pinheiro)
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