Quando se fala em avós, que imagem projetamos? De senhoras sentadas em cadeiras de balanço, tomando chá, tricotando, bordando? Nada disso e já faz algum tempo. A nova geração de avós é moderna, ativa, cheia de compromissos, envolvida e jovem, seja na idade ou no espírito.
Rígidos ou amorosos, as avós(ôs) estão cada vez menos parecidas com o estereótipo de velhinhas em casa o dia todo assistindo novela. As novas avós são mais modernas, mais saudáveis e menos interessadas ou disponíveis a se limitar aos cuidados dos netos. Muitas, inclusive, precisam continuar trabalhando, fazendo com que as visitas dos netos limitem-se aos finais de semana.
As mudanças socioeconômicas aceleraram esse processo que tende a ser cada vez mais recorrente, afinal, as mulheres têm menos filhos e as pessoas vivem mais. O resultado é mais idosos e menos crianças nas famílias, pela primeira vez no mundo, segundo dados da ONU divulgados em 2020. No Brasil, a reforma da Previdência é um dos fatores que sinalizam mais alterações na relação entre avós-netos.
As alterações na legislação previdenciária atrelaram as regras de concessão de aposentadorias e pensões à idade. Antes, o tempo de serviço compensava esse fator etário que era de 35 anos de contribuição para homens e 30 para as mulheres. A exigência atual é de idade mínima de 65 anos para eles e de 62 para elas. Além de os trabalhadores se aposentarem mais velhos, a média de valores a serem recebidos foi achatada com os novos cálculos em vigor.
Apesar de diferentes tipos de avós, a representatividade delas continua presente para as crianças, embora não se enquadrem mais em estereótipos ultrapassados. Essas mulheres estão/são mais jovens e ocupadas, e podem viver com liberdade sem exercer atribuições com as quais não se identificam ou não podem corresponder, ou simplesmente não querem.
O papel da mulher sempre foi fundamental mas silenciado. Hoje, com a independência da mulher e com a voz ativa no mercado de trabalho, não exercendo obrigatoriamente o papel de mãe/avó ou terceirizando essa função, é possível notar o valor desse papel e até mesmo a ‘falta’ dele. Mudou a relação mas não necessariamente os afetos que podem ser criados e mantidos de várias maneiras.
Hoje, avós e netos podem ir para uma balada juntos, beber juntos e esse tipo de programa não deixa de criar laços, afinidade e afetos.
“Novas expectativas, antigos conflitos e o afeto de sempre”
Nos anos 1980, a antropóloga Myriam Lins de Barros* pesquisou as relações entre avós, seus filhos e netos, e o que mais lhe chamou atenção foi a diferença de visões de mundo entre avós e suas filhas.
“Naquele momento, vivíamos no Brasil o crescimento do movimento feminista e estas novas ideias provocaram uma grande divergência entre as avós e suas filhas em relação aos seus projetos de vida. Entre as mulheres que eram avós, eram raras as que tinham uma profissão, e quando tinham, eram atividades claramente ligadas a um padrão “feminino”: funcionárias públicas, professoras, enfermeiras. Para elas, de modo geral, a vida profissional não era uma aspiração. Quando buscavam ganhar dinheiro, era para ajudar nas despesas da casa.
Já suas filhas, mães de seus netos, cursaram a universidade e optaram por seguir uma carreira. A pesquisa evidenciou a diferença de concepções de mundo dessas duas gerações, no que se refere à vida pessoal, às famílias e à participação materna e paterna na criação dos filhos. Ao contrário das avós, as mães que entrevistei não tinham dúvidas sobre o seu direito de construir a vida de acordo com as suas escolhas e de almejar à autonomia financeira, tanto em relação aos pais quanto aos maridos. Assim, a principal diferença entre as avós dos anos 80 e suas filhas era o modo como umas e outras lidavam com os valores de liberdade e autonomia, centrais na construção da identidade do indivíduo moderno.”
(*Professora titular da UFRJ, Myriam Lins pesquisa o tema da família e da velhice desde o fim dos anos 1970. É avó de quatro netos. Fonte: //alocc.com.br/avos-novas expectativas)
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