(Foto: Acervo pessoal)
Pauline ressalta o papel da literatura brasileira na valorização da língua portuguesa e na construção de uma identidade linguística própria. Segundo ela, autores como José de Alencar e os modernistas Oswald de Andrade e Mário de Andrade tiveram uma contribuição essencial para essa valorização. Alencar, por exemplo, defendeu a ideia de que a literatura brasileira deveria ser abrasileirada, aprendida com o povo. “O romantismo, movimento literário ao qual Alencar filia-se, propõe uma perspectiva de valorização de aspectos culturais e identitários brasileiros. O romancista, nesta lógica, compõe uma vastíssima obra que se debruça a mapear as mais variadas manifestações da língua, em aspectos regionais, urbanos, indígenas e históricos”, observa Pauline. Já os modernistas, com sua postura inovadora e revolucionária, tornaram a língua uma plataforma de expressão nacional, reforçando a ideia de uma linguagem que refletisse a essência do Brasil. A influência das línguas indígenas e africanas Outro aspecto crucial na construção do português brasileiro, segundo Pauline, é a influência das línguas indígenas e africanas, que, ao longo dos séculos, incorporaram palavras e expressões ao vocabulário e enriqueceram a musicalidade da língua. “É impossível dissociar a nossa língua das influências indígenas e africanas. Em nomes de rios, alimentos, e expressões idiomáticas tão musicais que nos parecem poesias”, diz a professora. Essas influências não apenas ampliaram o vocabulário, mas também transformaram a estrutura e o estilo da língua, proporcionando ao português brasileiro um tom único, alegre e vibrante. Afinal, como Pauline lembra: “há uma beleza incrível em ‘ficar jururu’ que nem nos parece que isso signifique ‘ficar triste/decepcionado’”. O ensino do Português e a valorização das peculiaridades regionais
(Foto: Acervo da família)
Apesar de todos esses fatores, Pauline acredita que o ensino do português nas escolas brasileiras ainda precisa evoluir para incorporar e valorizar as variantes regionais e culturais da língua. “Ainda estamos distantes de uma prática escolar que, de fato, permita o intercâmbio entre as variantes dos alunos e as demais”, reflete. Ela vê que o engessamento do ensino é parcialmente decorrente da falta de preparo dos docentes e das demandas curriculares que não incentivam o aprofundamento nessas peculiaridades. No entanto, Pauline ressalta que já se observa um movimento, ainda que tímido, para valorizar essas variantes e respeitar a pluralidade do português brasileiro. “Vejo que há um despertar, relativamente recente, de materiais didáticos que embasem essa valorização das peculiaridades linguísticas. Estamos evoluindo, mas ainda há muito a trilhar”, completa. A língua portuguesa como símbolo de identidade e união No Brasil, a língua portuguesa transcende seu papel como idioma oficial para se tornar um símbolo de união e identidade cultural. Ao celebrar o Dia Nacional da Língua Portuguesa, reconhecemos o valor desse idioma na formação de nossa identidade e na preservação de nossas tradições e costumes. Como Pauline destacou, a língua brasileira é uma manifestação cultural que carrega em suas palavras e expressões a alma do povo brasileiro. O português do Brasil é, portanto, um legado vivo, que se adapta e se transforma com o tempo, e, ao mesmo tempo, representa a singularidade de nossa história e nossa cultura. A língua portuguesa no Brasil, como aponta Pauline, é muito mais do que um instrumento de comunicação; é um reflexo de nossa identidade enquanto povo, uma ponte que une o passado ao presente e o presente ao futuro, sendo um pilar essencial de nossa cultura. A professora Pauline de Abreu Lima Martins é bacharel e tem Licenciatura em Letras pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), é bacharel em Jornalismo pelas Faculdades Integradas Hélio Alonso, é mestre em Literatura Brasileira pela Uerj, é professora de Língua Portuguesa, Literatura e Redação das redes particular e estadual do Rio de Janeiro.
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