Originária da junção de duas palavras inglesas, ‘folk’ (povo) e ‘lore’ (conhecimento), a palavra ‘folclore’ surgiu no século 19, através do pesquisador britânico William John Thoms (1803-1885), que definiu o termo como ‘conhecimento do povo’ ou ‘aquilo que o povo faz’.
Thoms cuidou de fazer o devido registro através de uma carta publicada pela revista britânica The Athenaeum, em 22 de agosto de 1846, na qual ele sugeria que todo conjunto de tradições ou ‘antiguidades populares’ poderia ser definido pela palavra folklore, de modo a valorizar as manifestações que caracterizam a cultura popular de um país, com suas lendas, canções, mitos, danças e artesanatos, entre outros.
No Brasil o movimento mais representativo aconteceu no Rio de Janeiro, em 1951, no 1º Congresso Brasileiro de Folclore, com a elaboração da Carta do Folclore Brasileiro. Assim, o Dia do Folclore - 22 de agosto (em referência à carta de Thoms) - foi oficializado no Brasil em 1965, respaldado pelo grande volume de pesquisas sobre a cultura popular, por estudiosos como Câmara Cascudo e Monteiro Lobato, entre outros intelectuais que esmiuçavam as características culturais de cada canto do país.
Nascido em Taubaté, região do Vale do Paraíba (SP), Lobato cresceu entre as fazendas da família, onde passou a infância ouvindo histórias que os trabalhadores contavam sobre Saci, Mula sem Cabeça, Curupira, Cuca. Foi nesse contexto que o interesse do escritor pelo folclore despertou, especialmente pelo personagem perneta.
Inconformado com a indiferença do povo pela própria identidade, Lobato passou a explorar mais a fundo a lenda do Saci-Pererê. Em 1917, realizou uma pesquisa de opinião pública no suplemento do jornal O Estado de SP, para ouvir o que os leitores sabiam sobre o lendário personagem. Foi surpreendido com dezenas de respostas vindas de todo o Brasil.
No ano seguinte, Lobato reuniu os relatos no livro O Saci Pererê: resultado de um inquérito. Em 1921, lançou O Saci, para o público infantil, que acabou norteando definitivamente a sua carreira de escritor. Nessa história, Pedrinho, orientado pelo Tio Barnabé, captura um Saci e juntos vivem uma grande aventura na floresta, com diversos personagens do nosso folclore.
Discutindo temas relevantes, do tipo “quem é mais desenvolvido, os humanos ou os animais e criaturas das florestas?”, Saci assume o protagonismo numa discussão filosófica e dá uma aula sobre comportamento, respeito, amor ao próximo e principalmente a importância da preservação da natureza. Em meio à aventura, Saci ajuda Pedrinho a salvar Narizinho, da Cuca, e aí é a vez de Lobato dar uma aula sobre o “bem mais precioso do mundo: a liberdade”.
Recorrendo às fontes originais das lendas folclóricas e inserindo-as em suas obras, Lobato criou uma ferramenta poderosa para o ensino infantil. Como um exímio contador de histórias, ele tinha em seu DNA o brasileirismo para entender a importância e exaltar nossos mitos e lendas, contos e fábulas populares.
Monteiro Lobato absorveu muito das histórias da nossa tradição oral e cultura, vindas de ex-escravos, das tribos indígenas e dos emigrantes para enriquecer a mais fantástica e singular obra da nossa literatura infantil e sobretudo para revelar ao mundo a nossa extraordinária cultura popular.
Através de sua obra, o escritor teve um papel inovador e revolucionário, atuando como porta-voz das pessoas excluídas socialmente, sem acesso ao estudo, que formavam a maioria analfabeta do país na época.
Quando falamos de folclore no Brasil, logo lembramos do Saci, da Cuca, do Curupira, da Iara, da Mula sem cabeça, do Boitatá e de tantos outros personagens popularizados através das obras de Monteiro Lobato, em histórias que ainda hoje encantam gerações. Aliás, quem não leu e/ou assistiu ao Sítio do Picapau Amarelo?
(Fonte: www.lobato.com.vc)
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