Psicóloga Tracy Dennis-Tiwary
Se a ansiedade é uma emoção, quando ela vira doença? As pessoas sempre querem saber "como você sabe que tem um transtorno de ansiedade?" A ansiedade se torna um transtorno quando há um comprometimento funcional. Quando paramos de encarar determinadas situações porque isso nos causa ansiedade. Por exemplo, ficar nervoso diante de outras pessoas é chamado de ansiedade social. Mas só haverá um transtorno de ansiedade social quando eu me recusar a dar entrevistas porque fico muito ansiosa ou quando a criança não quer ir para a escola ou quando um adulto não vai mais trabalhar. A ansiedade se torna um transtorno quando evitamos experiências que geram ansiedade. E, na maioria das vezes, é evitando, suprimindo e rejeitando a ansiedade que os transtornos de ansiedade surgem. É por isso que pensar na ansiedade como um aliado em vez de um inimigo é tão crucial. Isso nos ajuda a parar de evitá-la e começar a fazer outras coisas com ela. Quando você percebe e aceita que está ansioso, você pode começar a lidar com isso. A propósito, o principal tratamento para ansiedade é justamente ensinar o paciente a parar de evitá-la. Mas eu reforço que, apesar de acreditar que a ansiedade é uma emoção que pode nos ajudar, também acredito que quando isso nos faz sofrer, devemos buscar apoio de um psicólogo ou psiquiatra. Qual é o lado bom da ansiedade? Só somos ansiosos porque temos uma cérebro grande, com um córtex pré-frontal. Isso significa que o cérebro humano evoluiu para ser capaz de planejar, ou seja, executar simulações de algo que nunca existiu antes. Quando estamos ansiosos, estamos simplesmente imaginando o futuro. Há pesquisas que mostram que quando estamos ansiosos, não quando há um transtorno de ansiedade, mas apenas o sentimento, mesmo que de forma moderada ou forte, somos mais criativos. Como a ansiedade causa sensações desagradáveis, ela nos força a prestar atenção e fazer alguma coisa sobre isso porque queremos que esse sentimento ruim desapareça. Ou seja, a ansiedade nos ativa para realizar ações, persistir e ter coragem. Acho que se não fossemos ansiosos, não teríamos construído civilizações. Isso não quer dizer que não podemos fazer grandes coisas com sentimentos como esperança e alegria. Mas são as emoções desconfortáveis que nos fazem focar para fazer mudanças. Então, quando pensamos na ansiedade como uma oportunidade, nos tornamos uma espécie de ninjas emocionais, pois usamos essa emoção como ferramenta. Mas não podemos fazer isso até reconhecer que as emoções negativas fazem parte de quem somos. Essa mudança de mentalidade é realmente o primeiro passo que todos precisamos dar. Como podemos usá-la a nosso favor? Primeiro, precisamos entender que as emoções negativas, como a ansiedade, fazem parte da saúde mental. A saúde mental é a capacidade de experimentar plenamente as emoções, aprender a lidar com elas ou usá-las para tornar sua vida melhor. Dito isso, é importante ouvir a ansiedade. Normalmente, queremos suprimir esse sentimento. Mas essa não é a maneira certa de encará-la. Precisamos ouvir a ansiedade e pensar no que ela está nos dizendo, no que ela quer que prestemos atenção. É claro que nem toda ansiedade traz uma informação útil e quando for esse o caso, está tudo bem ignorá-la. Mas, muitas vezes, ela pode nos trazer uma informação útil e podemos usar isso para fazer algo bom. Por exemplo, você acorda de madrugada pensando no prazo para entregar um trabalho. Você tenta deixar de lado, mas isso continua voltando à sua mente. Quando decide prestar atenção à ansiedade você percebe que a preocupação com esse trabalho é o motivo do seu incômodo e pode tomar providências específicas para resolver essa questão. Então ouvir a ansiedade é algo poderoso porque você descobre que pode enfrentá-la e descobrir o que fazer com ela. Como começou a estudar o assunto? Sou psicóloga, mas antes de iniciar minha carreira profissional, decidi que queria fazer ciência. Eu pensava que se pudéssemos entender o que está acontecendo no cérebro quando estamos ansiosos, quando sofremos emocionalmente, seria possível resolver isso. Ao mesmo tempo, como cientista, eu sabia que as emoções também são funcionais, que elas evoluíram para servir a propósitos. Mas, como psicóloga, ficamos imbuídos nessa cultura de que os transtornos de ansiedade e os transtornos emocionais são como qualquer outra doença que precisa ser erradicada. Por muito tempo eu pensei dessa forma. Até que um dia, há cerca de seis anos, eu me dei conta de que se temos uma extensa base científica sobre a ansiedade e tratamentos maravilhosos, todo mundo deveria estar melhor, certo? Errado. Na verdade, estamos pior do que nunca. Então, eu decidi escrever esse livro para tentar explicar por que as soluções para ansiedade não funcionam. E descobri que é por que ao tratarmos nossas emoções negativas como um câncer, uma doença ou um vírus, começamos a evitá-las, reprimi-las e rejeitá-las. E é aí que tudo piora e elas ficam mais fora de controle. Tudo piora e elas ficam mais fora de controle. (Fonte: Agência O Globo)
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