Quem conhece a realidade financeira do Friburguense sabe que o fato de entrar em campo e disputar uma competição deficitária, sem previsão inicial de receita, é quase um milagre. A dívida total acumulada nas últimas temporadas beira a casa do milhão. Cada partida em Nova Friburgo custou em torno de R$ 20 mil, sem contar as despesas de viagens, hospedagens, alimentação diária, medicamentos, dentre outros. Basicamente inserido neste contexto, o Tricolor da Serra participou da Seletiva do Campeonato Carioca de 2021.
Obviamente que, dentro de campo, dificuldades podem ser superadas e, dependendo do encaixe e andamento da competição, a surpresa pode ser positiva. Exatamente por isso havia a esperança, ainda que com os pés no chão, de voltar a disputar a Fase Principal do futebol estadual em 2021.
Justiça seja feita: a diretoria de futebol do clube fez o que pôde. Em meio a todas as limitações de investimento e estrutura, agravadas pela pandemia, o Friburguense conseguiu repatriar nomes que poderiam atuar em outras equipes, inclusive sendo melhor remunerados. A base formada por Afonso, Bruno Leal, Ricardo, Flavinho, Wellington, Jorge Luiz, Jonathan e Toshyia ofereceu o básico ao técnico Cadão. Por outro lado, o Frizão não conseguiu manter Júlio César, Magrão e Jeffinho.
O trabalho começou de forma tardia. Não por opção do clube, mas por necessidade. E o fato de ter acontecido – vale reforçar – já é digno de louvor. Pouco mais de um mês depois do início dos treinamentos, o Friburguense já entrava em campo para enfrentar o Nova Iguaçu, campeão da Série B1, com ritmo de jogo, base mantida e reforçada. A partida foi equilibrada, e a derrota por 1 a 0, no Laranjão, se não era esperada, foi aceitável no contexto.
Alguns nomes começaram a aparecer bem, casos do lateral Sanderson e do volante Luiz Felipe. O Tricolor da Serra dava início de encaixe, inclusive com opções interessantes no banco de reservas, à exemplo de Jefferson e André. Revelações da base, Jhonata e Thai – destaque na Carioca sub-20, com três gols e boas atuações – despontavam. Então começaram os decisivos erros de arbitragem contra o Friburguense.
Excluindo a derrota para a Cabofriense, no Correão, todos os demais jogos do primeiro turno foram marcados por polêmicas, e na dúvida, os lances sempre eram assinalados contra a equipe de Nova Friburgo. Os resultados não vieram, a pressão pela primeira vitória aumentou e a confiança e a tranquilidade foram minadas. É neste trecho da história que entra outro capítulo importante: a juventude do elenco tricolor.
Numa condição natural de mercado, não é difícil imaginar que o Friburguense iria ao mercado para reforçar o plantel com nomes de mais rodagem. Mas a concorrência era pesada. Jogadores deixaram o clube antes mesmo de entrarem em campo. A folha de pagamento, em torno de R$ 70 mil mensais, impôs limites. Para piorar a situação, o maior investimento do clube atuou em apenas um jogo e meio: após romper os ligamentos do joelho, Jorge Luiz estava fora da Seletiva. Outro experiente, Afonso contraiu Covid-19 e desfalcou a equipe em algumas rodadas.
As críticas por escolhas, esquemas táticos e leitura de jogo são naturais. E o torcedor tricolor as fez, dentro de seu direito de torcer pelo melhor para o Friburguense. Contudo, é preciso também pesar todas as situações que envolvem o clube de Nova Friburgo, em especial fora de campo. No Estado, no Brasil e no mundo, é cada vez mais difícil fazer futebol sem dinheiro, e ter “apenas” que apostar no encaixe de peças dentro das quatro linhas.
Números
Passeando pelos números do Fribuguense na Seletiva, os dois empates e oito derrotas ilustram todo o universo de dificuldades e falta de encaixe ideal em campo. O fato de ter deixado a competição sem ter conquistado nenhuma vitória pesa, e deve provocar algumas mudanças no elenco para o restante da temporada.
O Tricolor conseguiu marcar mais gols e sofrer menos fora do Eduardo Guinle – embora a diferença seja mínima. Quando teve o controle dos jogos, não conseguiu ser efetivo para construir os placares. Quando se viu em situação adversa, a juventude do elenco pesou contra, traduzida no desequilíbrio emocional, falhas e, na maioria das vezes, incapacidade de se restabelecer em campo.
Números do Friburguense:
- Jogos: 10
- Vitórias: 0
- Derrotas: 8
- Empates: 2
- Gols marcados: 11
- Gols sofridos: 21
- Saldo: -10
*Em casa:
- Jogos: 5
- Vitórias: 0
- Derrotas: 4
- Empates: 1
- Gols marcados: 5
- Gols sofridos: 11
- Saldo: - 6
*Fora de casa:
- Jogos: 5
- Vitórias: 0
- Derrotas: 4
- Empates: 1
- Gols marcados: 6
- Gols sofridos: 10
- Saldo: - 4
A campanha do Frizão – Turno
- Nova Iguaçu 1 x 0 Friburguense, Laranjão
- Friburguense 1 x 1 Americano, Eduardo Guinle
- Cabofriense 2 x 1 Friburguense, Correão
- Friburguense 1 x 2 América, Eduardo Guinle
- Friburguense 1 x 2 Sampaio Corrêa, Eduardo Guinle
- Returno
- Friburguense 0 x 1 Nova Iguaçu, Eduardo Guinle
- Americano 2 x 1 Friburguense, Antônio Medeiros
- Friburguense 2 x 5 Cabofriense, Eduardo Guinle
- América 4 x 4 Friburguense, Giulite Coutinho
- Sampaio Corrêa 1 x 0 Friburguense, Lourival Gomes
Classificação – Seletiva
- 1º – Nova Iguaçu, 23 pts
- 2º – Cabofriense, 21 pts
- 3º – Sampaio Corrêa, 14 pts
- 4º – América, 12 pts
- 5º – Americano, 10 pts
- 6º – Friburguense, 2 pts
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