Após quase dez anos fechado e, literalmente, esquecido pelo poder público, parece que, finalmente, o Centro de Arte de Nova Friburgo será reformado. Isso é o que indica um aviso de tomada de preços publicado pela prefeitura no Diário Oficial em A VOZ DA SERRA, no último fim de semana, para contratação de uma empresa para realizar a reforma do espaço. A licitação será realizada no próximo dia 13 de novembro, dois dias antes das eleições. A estimativa de preço é de R$ 259.216,33 e o prazo para conclusão das obras de 120 dias.
Fortemente atingido pela tragédia climática de 2011, que deteriorou boa parte de sua estrutura, desde então foram vários os anúncios de reforma e reabertura do Centro de Arte. Todos, no entanto, ficaram apenas na promessa. Localizado no Solar do Barão, prédio histórico que já foi sede da Câmara de Vereadores, na Praça Getúlio Vargas, 71, o Centro de Arte é um dos principais símbolos da cultura friburguense, tendo sido palco de apresentações, shows, peças, mostras e exposições que marcaram época na cidade e deixaram saudades nos amantes da cultura.
A reabertura do Centro de Arte é uma reivindicação contínua dos artistas e das gerações que foram criadas frequentando esse espaço. Sem ele, as pessoas perderam a referência cultural, que mantinha a arte viva e presente em Nova Friburgo. Por isso a reforma desse importante instrumento cultural é imprescindível, visto a precariedade das condições de funcionamento da estrutura física atual, sobretudo por se tratar de uma edificação tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
A revolta da classe artística
Porém, apesar de tão aguardada, a reforma do espaço se tornou alvo de polêmica porque havia a promessa de que o projeto seria apresentado aos artistas antes de ser aberta a licitação. O que não ocorreu, segundo Daniela Santi, atriz e diretora teatral, ouvida por A VOZ DA SERRA: “O que nos pegou de surpresa é que o edital da licitação foi lançado sem nós artistas sermos comunicados, considerando que estávamos tendo um diálogo franco, aberto, para buscar um entendimento. O que nos interessa é o Centro de Arte aberto. Essa quebra de confiança nos indignou demais. Fui até um pouco agressiva na nota que publiquei no Facebook, porque foi uma atitude que, no mínimo, poderia nos ter sido comunicada. E se as coisas são feitas dessa forma, é porque tem alguma coisa errada”, acredita.
Daniela conta que alguns pontos do antigo projeto foram contestados pelos membros do Conselho Municipal de Políticas Culturais e do movimento autônomo #VoltaCentrodeArte, mas ao que parece, não foram levados em consideração pela prefeitura, segundo ela: “Em que projeto essa reforma está baseada? Só pode ser no antigo projeto. Nossa revolta é por não ter sido continuado um diálogo que já tinha sido aberto. Não nos mostraram o segundo projeto como havia sido combinado. E, por fim, abriram essa licitação sem nos comunicar ou dar qualquer satisfação à comunidade. As coisas não podem ser feitas à revelia. E é isso que estamos reivindicando, que seja tudo claro, transparente e colocado sobre a mesa. Só isso”, destacou a atriz e diretora teatral.
Mesmo com a licitação marcada, o movimento #VoltaCentrodeArte permanece atento aos acontecimentos e se adiantou promovendo encontros com os candidatos a prefeito de Nova Friburgo: “Elaboramos um termo de compromisso e vários deles já assinaram se comprometendo a promover a reabertura do Centro de Arte fazendo todas as manobras necessárias para que ele seja entregue de acordo com as necessidades da classe artística”, finalizou Daniela Santi.
A reforma
No termo de referência que consta na tomada de preços, a Prefeitura de Nova Friburgo justifica a necessidade da intervenção com o argumento de que “os benefícios resultantes da reforma do Centro de Arte podem ser descritos como essenciais, sendo que todos os usuários serão beneficiados, podendo usufruir de ambientes livres de infiltrações, umidades, com mais conforto, segurança e conforme determina as normas vigentes e de acessibilidade”. Ainda segundo o Executivo Municipal, “a reforma do Centro de Arte vai além da infraestrutura, é uma revitalização cultural”.
Por ser abaixo do nível da rua, o espaço, conhecido também como Porão da Arte, foi muito castigado com a catástrofe climática de 2011. A maior e mais estrutural reforma realizada no espaço após a sua criação na década de 1960, ocorreu há 34 anos, em 1986. Passado tanto tempo, o mofo tornou-se um problema recorrente, bem como as saídas e o acesso ao público. Além disso, o prédio está com vários pontos deteriorados, causando infiltrações em todas as áreas, que hoje estão muito danificadas, carecendo de imediata reparação, como: reforma do piso, drenagem, iluminação, instalações elétricas, camarins, palco, copa, rampas de acessibilidade e sanitários reformados.
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