Em meio a enxurrada de informações sobre o coronavírus, muitas dúvidas ficam no ar e, em muitos casos, as informações geram mais questionamentos do que esclarecem. O medo de contrair o vírus pode gerar problemas psicológicos. São muitos os casos, por exemplo, de pessoas que somatizam problemas relacionados ao coronavírus e são capazes de sentir os sintomas da doença, sem de fato, tê-la. Febre, tosse seca, falta de ar, ausência de olfato e paladar – sintomas ligados ao Covid-19 – podem ser sentidos. As pessoas enfrentam o efeito psicológico do contexto atual: a somatização do coronavírus.
Esses distúrbios psicossomáticos são comuns. Os pensamentos constantes de medo pelo contágio torna fértil o terreno emocional, configurado para, cedo ou tarde, dar sinais dos sintomas físicos. A VOZ DA SERRA conversou com a psiquiatra Angela Maria Moura sobre o assunto.
AVS: O que é somatização?
Angela Maria Moura: A somatização se compreende nas situações em que sintomas clínicos de uma ou várias doenças são relatados pelo paciente, sentindo-os, mas não há a doença em si. Ou seja, somatizar é ter sintomas sem ter a doença.
É possível somatizar sintomas de Covid-19?
Neste momento, em que somos bombardeados todo o tempo com a descrição dos sintomas de uma doença que se mostra grave, algumas pessoas mais vulneráveis às ansiedades ou preocupações, podem queixar-se de alguns sintomas.
Como é possível diferenciar o paciente que está somatizando com o que de fato tem o vírus? Somente fazendo o teste?
Se já conhecemos o paciente, sabemos como ele se comporta nas situações de estresse. Mas, todos os sintomas devem ser levados em consideração. Fazer o teste, sempre que possível, é a melhor solução.
Qual é o nível de vulnerabilidade da pessoa, em casos como esses?
Cada pessoa tem sua capacidade de resiliência para os fatores estressores, de forma individualizada. É importante que seja avaliado desta forma, individual.
Quais são as causas dessa somatização?
Causas específicas, universais, não existem. Em situações de pandemia, o importante é se informar corretamente, e cuidar-se.
Em tempos de crise, os distúrbios somáticos aumentam?
Sim. Nas crises principalmente as relacionadas à saúde, o temor a não conseguir cuidados necessários torna-se pânico .
Nesses casos, a pessoa não está com o vírus, mas tem os sintomas. Há algum tratamento neurológico?
O ideal seria uma avaliação psiquiátrica, e psicológica. Um tratamento específico ajuda nestes casos. Psicoterapia e eventualmente um medicamento são de extrema ajuda.
Qual a recomendação para que a pessoa não sofra os efeitos da somatização?
Informar-se corretamente, seguir as recomendações e conversar com pessoas que possam passar esperança e boas atitudes, ajudam. A cada um compete cuidar-se e aliviar o outro. Ou seja, seguir recomendações do Ministério da Saúde, não perder a esperança na passagem desse tempo ruim, ouvir música, ver bons filmes, ler bons livros, ligar para familiares e amigos, conversar. E aguardarmos novos tempos que virão para podermos viver solidariamente.
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