"Tem sintoma, mas não saiu de Friburgo? Ainda não é motivo para suspeita"

Subsecretária de Vigilância em Saúde fala sobre o coronavírus e diz que o município está preparado para agir
sábado, 07 de março de 2020
por Guilherme Alt (guilherme@avozdaserra.com.br)
Fabíola Pena, subsecretária de Vigilância em Saúde de Nova Friburgo (Foto: Guilherme Alt)
Fabíola Pena, subsecretária de Vigilância em Saúde de Nova Friburgo (Foto: Guilherme Alt)

A mutação do coronavírus deixou a população mundial alarmada, inclusive os brasileiros. Milhares de pessoas já contraíram o COVID-19, mas apesar dos cuidados que se deve ter com o novo vírus, não há motivo para alarde. É o que sustenta a subsecretária de Vigilância em Saúde de Nova Friburgo, Fabíola Pena. Na última semana, o município teve duas suspeitas descartadas do novo coronavírus. Outros dois casos estão sob análise e aguardam resposta dos exames laboratoriais.

A Secretaria Municipal de Saúde alerta para que a população fique atenta à divulgação de informações oficiais e que fotos e vídeos sejam avaliados com cautela antes de serem compartilhados, evitando assim o pânico generalizado. Do dia 26 de fevereiro até a última terça-feira, 3, foram notificados quatro casos suspeitos do novo coronavírus em Nova Friburgo. Destes, dois já foram descartados por exame laboratorial, incluindo o paciente que estava internado no Hospital Raul Sertã e morreu por outras doenças no último fim de semana. Dois casos estão sendo monitorados. O mais recente é de uma mulher de 33 anos, que viajou recentemente à Itália, tendo retornado ao Brasil no dia 28 de fevereiro. Ambos os pacientes passam bem e aguardam resultado laboratorial. Ainda não há uma vacina que combata o Covid-19. 

Para falar sobre a doença, alertar e tranquilizar a população, A VOZ DA SERRA conversou com exclusividade com Fabíola Pena. 

AVS: O que é o novo coronavírus?

Fabíola Pena: É um vírus muito antigo, identificado desde o século passado, um vírus que até então não era letal. O que tivemos no final de 2019 foi uma mutação desse vírus, que se deu pelo grande poder de transmissão. O novo coronavírus tem uma letalidade menor do que o Influenza, que transmite o H1N1, H3N2. Ele mata menos, mas se propaga mais facilmente. Por conta disso, têm-se atenção especial às pessoas com faixa etária acima de 60 anos por conta de uma queda natural no sistema imunológico. Ainda tem muitas perguntas sem respostas sobre o COVID-19. A ciência ainda está em franca pesquisa. Sabemos que ele é facilmente transmitido, agressivo, mas não tão letal quanto outros vírus das vias respiratórias.

A forma de tratamento é uma dessas perguntas ainda sem resposta?

Ainda não há um tratamento específico e isso assusta todo mundo. Hoje a gente trata os sintomas da gripe, mas matar o vírus ainda não. Não conseguimos nem sequer nos imunizar através de uma vacina.

Há um prognóstico de quanto tempo ainda teremos que esperar para surgir um tratamento para esse vírus?

De acordo com os pesquisadores, essas perguntas não vão ficar sem respostas por muito tempo. Muito em breve teremos um tratamento específico, uma vacina. Não é uma mutação tão difícil de ser identificada, de ser trabalhada, estudada. O que sabemos, além do alto poder de transmissão é que o COVID-19 causa sintomas comuns a uma gripe como coriza, febre – não necessariamente alta, tosse seca e que pode avançar para um quadro de despneia que é dificuldade em respirar, falta de ar, batimento da asa do nariz e pode até  desenvolver uma Síndrome Respiratória Aguda Grave, que pode acontecer também com o Influenza, e que pode levar a pessoa a morte.

 Qual o critério para definir se um caso é suspeito de COVID-19?

 Estamos falando de pessoas que estiveram recentemente em áreas com confirmação da doença. Começou com a China, migrou para países da Europa, principalmente Alemanha e Itália, e países da Ásia. Como é uma doença global, muito em breve não vamos conseguir fazer a triagem por esse caminho. São pessoas que apresentam algum problema – principalmente respiratório – e que passaram recentemente por países onde há a incidência de casos do novo coronavírus. Tem o sintoma, mas não saiu de Nova Friburgo? Ainda não é motivo para suspeita.

É importante enfatizar isso, para que a população friburguense saiba que não é qualquer gripe que possa se transformar em suspeita de COVID-19...

Nós temos dois casos já descartados na cidade e outros dois casos suspeitos que estamos aguardando o resultado dos exames.

Que dicas você pode dar para ajudar na prevenção não só ao COVID-19, mas às doenças respiratórias?

É importante que a população mantenha os ambientes arejados, ventilados, ônibus com manutenção em dia do ar-condicionado, salas de esperas, residências, com janelas abertas ou bem arejadas. Quem mais carrega os vírus são as nossas mãos. A gente espirra, fala, tosse, colocamos elas em superfícies contaminadas e daqui a pouco estamos cumprimentando uma pessoa, fazendo carinho em uma criança, servindo comida, e assim transmitimos os vírus. Importante lavar toda a superfície das mãos e entre os dedos. O uso do álcool gel também é importante, mas não substitui a higienização das mãos. Estamos muitos preocupados com o novo coronavírus, mas os outros vírus respiratórios estão aí.

Onde os friburguense devem ir, caso suspeitem de sintomas do novo coronavírus?

Para diferenciar uma gripe do COVID-19, é preciso ter ido aos países em que há casos confirmados da doença ou ter contato direto com alguém que esteve nesses lugares. Estando dentro desses critérios e apresentando os sintomas, a pessoa tem que procurar qualquer unidade básica de saúde, qualquer unidade hospitalar seja particular ou pública. Temos feito diversas reuniões com as equipes de saúde e estamos diariamente em contato com o governo do estado. Caso uma pessoa apresente os sintomas e relate uma viagem recente, essa pessoa já é retirada do contato com outros pacientes na sala de espera e é atendida em local separado para dar agilidade e segurança a todos os envolvidos.

Há a possibilidade de alguém estar com o COVI-19 não manifestar a doença, mas ainda assim propagar o vírus?

Há essa possibilidade, sim. O paciente sem sintomas também pode transmitir. O que temos de protocolo é acompanhar o sintomático porque é ele que pode ter seu quadro agravado.

Há a necessidade da população ficar alarmada?

Há a necessidade de se precaver, tendo uma boa alimentação, atuar na prevenção e tudo aquilo que faça o nosso sistema imunológico reagir a um vírus. Se uma pessoa suspeitar dos sintomas não deixe de procurar uma unidade de saúde, a identidade da pessoa é totalmente preservada. A gente precisa ter conhecimento desses casos. Não há motivo para alarde, para pânico, para desespero, acabar com estoques de álcool gel ou máscaras na cidade.

Quais são as chances de transmissão do vírus?

De acordo com os especialistas, o contágio pode ocorrer a uma distância em torno de um a dois metros entre uma pessoa que possa soltar alguma gotícula ou espirro. A gotícula ela é “pesada”, quando é solta não vai muito longe. A transmissão do novo coronavírus é por gotícula.

E com relação às fake news, como combater?

A gente pede que as pessoas fiquem atentas às informações oficiais da prefeitura e veiculadas somente na imprensa oficial. O que a gente tem visto é que em muitos casos quem “vence” é a fake news. Não temos a intenção de omitir nada. Queremos que a população saiba o que está acontecendo para poder se proteger.

A cidade está preparada para encarar um caso confirmado?

Estamos preparados, sim. Estamos torcendo para que não haja nenhum caso confirmado, mas que se tiver, estamos prontos para agir. Nos casos suspeitos nós agimos como deve.

 

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TAGS: saúde