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Precisamos falar sobre o silêncio: o suicídio em Nova Friburgo

Lucas Barros
Além das Montanhas
Jovem, advogado criminal, Chevalier na Ordem DeMolay e apaixonado por Nova Friburgo. Além das Montanhas vem para mostrar que nossa cidade não está numa redoma e que somos afetados por tudo a nossa volta.
Falar sobre suicídio ainda causa desconforto e é um tabu muito grande na sociedade. Em muitas famílias, esse é um tema que permanece escondido, como se o silêncio fosse uma forma de proteção. Mas o silêncio, em vez de acolher, afasta. E o que não se fala, infelizmente não se trata.
Em Nova Friburgo, o número de suicídios tem aumentado, especialmente entre jovens e idosos. Cada caso representa uma vida interrompida, uma dor que talvez pudesse ter sido evitada, sem que ninguém tenha culpa sobre o resultado. O mais alarmante é que na maior parte das vezes, muitos desses sofrimentos passam despercebidos, acontecendo no silêncio de quem está ao nosso lado.
Jovens, adultos e idosos
A solidão é um ponto em comum entre esses extremos da vida. Jovens enfrentam pressões constantes — sobre futuro, aparência, desempenho. Já os idosos, muitas vezes, sentem-se esquecidos, como se tivessem sido deixados à margem. Ambos podem se sentir invisíveis em cenários repletos de pessoas.
A pandemia da Covid-19 agravou esse cenário também aos adultos. O isolamento social, as perdas familiares, a instabilidade econômica e o medo do futuro deixaram marcas emocionais profundas. Mesmo com a volta à “normalidade”, muitos seguem lutando em silêncio. O trauma não desaparece com decretos.
Trata-se de uma questão de saúde pública. Ignorar isso é manter o problema onde ele já está: escondido. Precisamos de campanhas permanentes, e não apenas ações pontuais em setembro. A prevenção começa com informação, escuta e acesso ao cuidado psicológico contínuo.
Nem fraqueza e nem falta de fé: saúde
É importante entender que o suicídio não é um ato de fraqueza, nem de falta de fé. Trata-se, quase sempre, de um sofrimento emocional intenso, que precisa ser acolhido com empatia. Reduzir esse sofrimento a “drama” ou “frescura” é não enxergar o problema real.
Nova Friburgo conta com o trabalho importante do Centro de Atenção Psicossocial (Caps) e de profissionais da rede pública que atuam com dedicação. Mas o número de atendimentos ainda não dá conta da demanda. Muito não tem o acesso como gostariam por uma consulta. Outros desistem no meio do caminho. Isso precisa mudar.
Também há iniciativas nas escolas que buscam conversar sobre saúde mental com os alunos. Esse tipo de educação emocional é essencial desde cedo. Ensinar a reconhecer e lidar com os próprios sentimentos pode salvar vidas. E ajuda a formar adultos mais saudáveis, é o que explica a psicóloga Julia Gonzaga Silva, especialista em Terapia Cognitivo Comportamental e em Neurociência e Educação:
“Muita gente chega ao limite acreditando que precisa aguentar sozinho, quando, na verdade, poderia ter sido acolhida muito antes. E isso vale para adultos e também para os pequenos. Crianças sentem tristeza profunda, medo intenso e angústias difíceis de nomear. A psicoterapia é um espaço onde tanto adultos quanto crianças podem elaborar dores, entender emoções e encontrar novos caminhos. Falar, ser ouvido e se sentir compreendido pode transformar o percurso da vida, e quanto antes esse cuidado começa, maiores as chances de prevenir o agravamento do sofrimento”, explica Júlia.
Por fim, não se pode deixar de discutir a prevenção da depressão a partir de um ponto de vista clínico. Muitas pessoas não realizam exames de rotina e desconhecem seus níveis de vitaminas essenciais. Deficiências de nutrientes como B12, D3, B6 — entre outros ligados diretamente à saúde mental — podem contribuir para o desenvolvimento ou agravamento do quadro depressivo.
Busque sempre ajuda
Quem enfrenta esse tipo de dor, muitas vezes não quer morrer — quer parar de sofrer. Mostrar que existe ajuda, que existe tratamento e que existe esperança pode ser um divisor de águas. Nenhum sofrimento dura para sempre, mesmo que pareça. Há saída, há vida depois da dor.
O Centro de Valorização da Vida (CVV), por exemplo, oferece apoio emocional 24 horas por dia, no telefone 188. O atendimento é sigiloso, gratuito e feito por voluntários treinados. Pode parecer pouco, mas uma conversa pode interromper o ciclo do desespero. Às vezes, salva uma vida.
Se você está passando por um momento difícil, saiba que você não está sozinho. Buscar ajuda não é sinal de fraqueza. É ato de coragem. Falar é um começo. E um começo pode ser tudo o que você precisa agora. Sua vida importa. Sempre vai importar, por mais que pense ao contrário.
Falar sobre suicídio não incentiva ninguém a cometê-lo. Falar salva. Porque quando abrimos espaço para escuta e acolhimento, diminuímos a dor de quem pensa em desistir. E se existe algo mais forte do que a dor, é a certeza de que alguém se importa. Vamos juntos romper o silêncio.

Lucas Barros
Além das Montanhas
Jovem, advogado criminal, Chevalier na Ordem DeMolay e apaixonado por Nova Friburgo. Além das Montanhas vem para mostrar que nossa cidade não está numa redoma e que somos afetados por tudo a nossa volta.
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