Pouco crescimento da população e seus riscos

Lucas Barros

Além das Montanhas

Jovem, advogado criminal, Chevalier na Ordem DeMolay e apaixonado por Nova Friburgo. Além das Montanhas vem para mostrar que nossa cidade não está numa redoma e que somos afetados por tudo a nossa volta.

quarta-feira, 28 de junho de 2023

Dados mostram que população brasileira tem aumentado, mas em ritmo mais lento em 150 anos. A taxa média de crescimento anual da população brasileira atingiu, entre 2010 e 2022, o menor nível da série histórica. É o que mostram dados do Censo 2022, divulgados nesta quarta-feira, 28, pelo IBGE.

De acordo com o levantamento, o avanço no número de habitantes no país foi de apenas 0,52% por ano ao longo dos últimos 12 anos. Até então, o menor crescimento anual havia sido registrado entre os anos 2000 e 2010, quando o índice ficou em 1,17%. Desaceleramos o crescimento populacional brasileiro.

Teremos mais avós que netos

Devido às melhorias proporcionadas pelo aumento da qualidade de vida do mundo, as pessoas estão vivendo mais. De modo inversamente proporcional, devido aos altos custos que demandam uma criança e ao planejamento familiar cada dia mais tardio, as famílias estão tendo menos filhos.

Um, dois, e quando muito, três. Às vezes, até nenhum. De vez em quando, pais de pet. É a nova realidade da família moderna. Em 1960, a taxa mundial de fecundidade era de quase cinco filhos por mulher, segundo o Banco Mundial. Quase 60 anos depois, esse número caiu pela metade, para apenas 2,4.

Por outro lado, os avanços socioeconômicos galgaram a passos largos, beneficiando muita gente que nasceu nesse período. Em 1960, as pessoas viviam em média pouco mais de 52 anos de idade. Passados os mesmos 60 anos, a expectativa de vida atual atingiu 72 anos em 2017.

De acordo com um estudo realizado pela ONU, atualmente existem 705 milhões de pessoas acima de 65 anos contra apenas 680 milhões entre zero e quatro anos. Pela primeira vez na humanidade estamos vivendo em uma sociedade com mais avós do que netos.

As estimativas apontam que esse desequilíbrio entre os mais velhos e os mais jovens tende a aumentar. Até 2050 – haverá duas pessoas com mais de 65 anos para cada uma entre zero e quatro anos. Afinal: “Num mundo com tanta gente, não ter a população crescendo é ruim?”

Em outros países, a mesma situação

Pode-se observar o envelhecimento da população mais acentuado nos países desenvolvidos, como Japão, Canadá e França. Esses países tendem a ter menores números de nascimentos por uma série de razões. Nessas nações, o alto custo de vida leva as pessoas a terem menos filhos. A inserção da mulher no mercado de trabalho, também a faz ter filhos mais tarde, e, portanto, têm menos filhos.

Um bom exemplo é o Japão, onde a expectativa de vida ao nascer é de quase 84 anos (a mais alta do mundo). Ali, os idosos somaram 27% da população no ano passado - também a maior taxa do mundo. E a população com menos de 5 anos? Segundo a ONU, 3,85%.

Os desafios preocupam as autoridades japonesas há décadas. Como medida, a idade mínima para aposentadoria de 65 para 70 anos. No Japão, os seus trabalhadores se aposentam mais tarde do que em qualquer outro lugar do mundo. E se você pensa que esse desafio somente está restrito a países desenvolvidos, você está errado.

A desaceleração no desenvolvimento demográfico pode ter um impacto negativo no crescimento das economias, assim como aconteceu com a China, que pode ter seu planos de se tornar a maior economia global adiados, explica Lorran Lamblet, assessor de investimentos da Manchester, filiada ao Banco XP.

“A China adotou uma política de permitir apenas um filho por casal, o que abaixou a média para 1,6 filhos. Em contrapartida, o crescimento do país que está atrelado a infraestrutura e a construção de imóveis passam por dificuldades que geram um efeito cascata da economia.  Estima-se que existem mais imóveis disponíveis do que pessoas.”

Para se ter ideia, desde 2013, todo bebê recém-nascido em Lestijärvi, um dos menores municípios da Finlândia, "vale" 10 mil euros (o equivalente a cerca de R$ 46,3 mil) pagos pelo governo. A baixa taxa de natalidade afeta muitos países no mundo e conosco, isso não será diferente.

Questão de tempo

Vamos fazer uma analogia. Pensemos em noite de Natal. Os avós, com uma condição de vida mais estável, podem dar, cada um, um presente para seu neto, um jovem adulto. Em contrapartida, esse mesmo neto, entrando no mercado de trabalho, não tem condição de dar um presente para cada um dos avós. Matematicamente, a conta natalina não fecha. E menos ainda, a da economia.

A medida que envelhecemos, demandamos cada vez mais recursos do Estado. Pessoas especiais necessitam de cuidados especiais. Os gastos estatais são inerentes em diversos campos, em especial: na área da saúde (tanto na prevenção como no combate), por meio do SUS, e na aposentadoria, por meio da Previdência Social.

Contudo, com menos nascimentos, temos um cenário com menos jovens adultos trabalhando, pagando impostos e consequentemente, contribuindo para a previdência. Então, não será somente a conta natalina que poderá não fechar. A pressão sobre os sistemas de saúde e previdenciário são questão de tempo.

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