O perigoso e lucrativo mercado das fake news

Lucas Barros

Além das Montanhas

Jovem, advogado criminal, Chevalier na Ordem DeMolay e apaixonado por Nova Friburgo. Além das Montanhas vem para mostrar que nossa cidade não está numa redoma e que somos afetados por tudo a nossa volta.

quarta-feira, 04 de janeiro de 2023

Quem nunca recebeu de alguém uma notícia claramente distante da realidade, em que pessoas veementemente acreditavam no que lá estava escrito? Nós, friburguenses, éramos para estar ‘vacinados’ contra a desinformação, especialmente após o célebre caso da “Represa que Estourou”, em 2011.

A verdade, é que vivemos uma epidemia informatizada e estamos tão vulneráveis quanto qualquer outra pessoa do mundo. Afinal, por que as “fake news” se tornaram um assunto que gera tanta preocupação no atual momento?

A expressão, em inglês, é popularmente usada para se referir a notícias falsas ou imprecisas, que na maioria das vezes, é divulgada na internet de maneira rápida e eficiente. Ao contrário de delitos que envolvem mentiras, como a calúnia, criar notícias falsas não necessariamente é um crime, o que facilita ainda mais a prática antiética.

Seja na saúde, na política ou mesmo na aplicação de golpes: tudo vale. Para atrair leitores, muito do que é produzido é uma desinformação baseada em fatos reais e escrita de forma a provocar medo e raiva, que acabam compartilhando a reportagem com outras pessoas.

Em geral, associa-se o mercado das fake news ao mundo político, no qual o interesse básico é construir – ou destruir – reputações. Isso é bem verdade, as notícias sobre políticos dão muitos “cliques”, mas o universo da desinformação vai bem além. Muita gente está no jogo por outro motivo: espalhar mentiras dá dinheiro.

Formado em Sistemas da Informação, o friburguense Rodrigo Machado é especialista em links patrocinados para empresas nas mídias sociais e explica que de centavo em centavo, a propagação de notícias falsas tornou-se um mercado muito lucrativo para quem faz o mau uso das ferramentas.

“As notícias falsas chegam até nós de muitos modos e com títulos chamativos, gerando interesse nas pessoas em clicarem nos links. Ocorre que a cada pessoa que acessa o site e passam pelos anúncios distribuídos pela página, centavos são gerados para o site. Com muitos acessos em diversas páginas, a renda pode chegar a milhões, isso só em publicidade, sem contar a venda de produtos”.

Mas o problema é ainda mais grave, pois as notícias falsas não afetam somente quem entra em contato com elas. O pior efeito  é o coletivo, porque elas acabam disseminando uma desconfiança generalizada contra as instituições, a própria democracia, meios de comunicação, grupos sociais, empresas e representantes políticos.

Para termos uma dimensão, vivemos uma epidemia digital, em que um relatório do Centro de Combate ao Ódio Digital, dos Estados Unidos, afirma que 12 dos principais influenciadores antivacina do país representam uma indústria de disparo em massa com receitas anuais de 36 milhões de dólares com anúncios. E afinal, que preço nós pagaremos pela desinformação?

Condicionados sem que percebamos

Você já notou que toda vez que acessamos algum conteúdo, seja uma reportagem ou um anúncio de produto que queremos, somos bombardeados pelo assunto sem que percebamos? Para ficarmos mais tempo nas redes, o algoritmo nos prende dentro de uma bolha, em que somente é mostrado aquilo que é do nosso interesse.

No conjunto, muitas dessas histórias fornecem uma visão falsa e distorcida e que propositalmente vão de encontro à nossa visão do mundo que entendemos ser o ideal. Afinal, tudo que nos move com emoção, nos tira o foco da razão. E assim, passamos cada vez mais tempo nas redes, vendo vídeos, reportagens e anúncios, que são pagos.

Não é difícil perceber que, uma pessoa que consequentemente cai em uma fake news, automaticamente, está mais propensa a receber esse tipo de conteúdo. Seja do lado A ou do lado B. Tiremos como exemplo, as centenas de pessoas comemorando nas ruas, por lerem falsas matérias de que os ministros do STF estariam sendo presos num golpe militar orquestrado pelo Exército.

Os aplicativos fingem tentativas para frear a propagação de desinformação: o Whatsapp, com a limitação do número de encaminhamentos de mensagens e sinalizarão os arquivos que estão sendo reenviados com frequência; o Facebook, Instagram e o Twitter borrando a informações descritas como falsas.  Por outro lado, as empresas vendem bilhões de reais em anúncio.

Enquanto o Brasil, ainda ensaia um projeto de lei para a criminalização das fake news, fiquemos atentos e tomemos cuidado com as fontes que estamos lendo. Caso contrário, em breve, estaremos novamente correndo morro acima, com medo da forte correnteza de água da represa estourada de Nova Friburgo. 

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Jovem, advogado criminal, Chevalier na Ordem DeMolay e apaixonado por Nova Friburgo. Além das Montanhas vem para mostrar que nossa cidade não está numa redoma e que somos afetados por tudo a nossa volta.

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