União Brasileira de Trovadores realiza Jogos Florais de Nova Friburgo neste fim de semana

“A bagagem de retorno dos ‘friburgantes’ volta muito mais pesada, embora levando os mais leves sentimentos — amor, saudade e encantamento”. (Elisabeth Souza Cruz)
sexta-feira, 26 de maio de 2023
por Ana Borges (ana.borges@avozdaserra.com.br)
(Fotos: Arquivo AVS/Henrique Pinheiro)
(Fotos: Arquivo AVS/Henrique Pinheiro)

Nova Friburgo recebeu na sexta-feira, 26, cerca de 55 visitantes, de várias regiões do Brasil,  inclusive do Nordeste — onde a trova está ganhando representatividade — para participar dos concursos promovidos pela União Brasileira de Trovadores (UBT), que acontece neste fim de semana.

Segundo a presidente da UBT-NF, jornalista Elisabeth Souza Cruz, cuja seção realiza o evento, “entre outros estados, estão no rol das nossas classificações São Paulo, Minas, Paraná, Rondônia, Santa Catarina, Rio Grande do Norte, Mato Grosso, Ceará, Pernambuco”.

A abertura dos Jogos Florais é marcada pela alegria do reencontro, comenta Elisabeth, “o momento em que entregamos a chave simbólica da cidade ao primeiro colocado do Concurso Nacional. Este ano, o trovador Antônio Augusto de Assis, de Maringá (PR), não podendo comparecer, delegou à trovadora Talita Batista, presidente da UBT-RJ, a missão de representá-lo em todas as suas premiações, inclusive, para receber a chave da cidade”. 

Durante a recepção aos trovadores, na sexta-feira, às 15h, foi inaugurada, simbolicamente, a Alameda das Trovas Eduardo Rodrigues, com a exposição dos trabalhos premiados, na Praça Dermeval Barbosa Moreira. A programação seguiu com a festa Noite dos Magníficos Trovadores; apresentação da Musa 2023, Victória Maia da Silva Dias; lançamento do livro “SOS”, de Renata Paccola; e premiação da categoria Magníficos Trovadores, eventos realizados na Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL). 

“A Noite dos Magníficos Trovadores é o nosso cartão de visitas. É a premiação de trovadores que, em determinada categoria, conseguem se classificar, em três anos seguidos, entre as 10 primeiras trovas colocadas do Concurso Nacional. Este ano, contamos com a presença de Arlindo Tadeu Hagen, de Juiz de Fora, e de Sérgio Ferreira da Silva e Pedro Ornellas, ambos de São Paulo”, diz Elisabeth, revelando que Sérgio criou o verbo ‘friburgar’: 

“Logo em suas primeiras vindas à nossa cidade, ele dizia: ‘Quando chego aqui, compro o jornal A Voz da Serra, tomo café da manhã na Superpão e fico friburgando!’. O verbo virou moda; tanto que chamamos os visitantes de ‘friburgantes’”. 

Segue a entrevista com a presidente Elisabeth Souza Cruz:

Como é o Show de Trovas?

Esta atividade recebe o nome do nosso programa de rádio que, inclusive, é o mais antigo, ainda no ar, transmitido pela Rádio Nova Friburgo FM, do qual, desde 2008, sou produtora e apresentadora. Na abertura da programação do sábado, à noite, na Usina Cultural Energisa, o Show de Trovas é como se fosse um programa ao vivo, em que dou vez e voz aos visitantes para se apresentarem. É uma brincadeira festiva, interagindo com o público presente. Nesta edição, vamos apresentar também os trovadores da Associação Friburguense de Deficientes Visuais (Afridev).

Por que decidiram antecipar a homenagem à chegada (1824) dos primeiros imigrantes alemães a Friburgo?

No ano passado, o livro dos Jogos Florais de 2022 teve como tema central a Imigração Alemã, já preparando a nossa audiência para os festejos teutos. Para este ano, realizamos o Concurso Paralelo com o tema Bicentenário Teuto, justamente para trabalharmos essas trovas classificadas durante todo este ano. Como nós gostamos de ressaltar importantes acontecimentos na cidade, neste ano damos realce em nosso livro para os festejos de 160 anos da Banda Euterpe Friburguense. 

A ‘trilha sonora’ da festa ficará a cargo de quem?

Sempre gostamos de oferecer um momento musical durante os Jogos Florais. Em nossa cidade temos excelentes grupos da arte musical e bom seria se tivéssemos, em cada atividade, uma apresentação artística. Mas, lidamos com um fator na contramão de nossos sonhos: o tempo. Por questões de logística, temos que cronometrar as atividades, de forma a observar detalhes como horários de fechamento dos locais onde realizamos os eventos. Na trilha sonora, teremos a honra da participação do Coral Cantomusarte, sob a regência do maestro Joffre Evandro, proporcionando aos ‘friburgentes’ momentos de enlevo e de muita inspiração até para a composição do elemento fundamental da nossa festa — a saudade que levarão dos Jogos e da nossa terra.

Alguma novidade este ano?

A entrega de prêmios do Concurso Local durante a noite de sábado, na Usina Cultural Energisa, é uma inovação, na tentativa de desafogar a premiação do Concursos Nacional, Novatos e o do Bicentenário Teuto. 

A programação é bem variada, com muitos deslocamentos para visitação. Como é organizar tudo com tantos participantes?

É impossível destacar os pontos principais dos Jogos Florais. Dos preparativos até a realização da festa, são momentos de alta complexidade, que envolvem paixão e responsabilidade. A Oração dos Trovadores, na Igreja de Santo Antônio, a visita ao ‘complexo trovadoresco’ na Fonte do Suspiro e Praça dos Trovadores Rodolpho Abbud, a visita ao Espaço Arp, são eventos realizados próximos uns dos outros, o que facilita a locomoção. A cidade, por si só, é um cenário de encantamento, com as montanhas e céu azul... o ar limpo, o verde natural, tudo favorece o ir e vir, com generoso acolhimento dos moradores.

O que mais a emociona?

No domingo, a entrega de prêmios na Academia Friburguense de Letras, nos emociona, por ser a AFL a casa das letras, da cultura, de história literária de grande referência em Nova Friburgo.

Para terminar, o que mais gostaria de dizer?

Eu gosto de ressaltar que, quando Luiz Otávio e J.G. de Araújo Jorge criaram os Jogos Florais em 1958, eles contaram com o apoio de ‘4 As’: A Voz da Serra; Academia Friburguense de Letras; Acianf; e Associação Friburguense de Imprensa. É impressionante imaginar, como, num tempo sem as facilidades da internet, os dois poetas mais esses quatro parceiros ‘azes’ e outros que se juntaram, deram asas para um evento que tornaria Nova Friburgo tão amada no âmbito nacional trovadoresco. Como anteviu Luiz Otávio, a trova teria também um viés turístico para nossa cidade e tanto ele acertou na previsão, que somos hoje o espelho que reflete “lz” e inspiração para as demais cidades que cultivam a trova e a perpetuam nos quadros da União Brasileira de Trovadores. 

PROGRAMAÇÃO

Sábado, 27

09h: Oração dos Trovadores, na Igreja de Santo Antonio / Praça do Suspiro

10h: Visita ao Espaço Histórico, Fonte do Suspiro e Praça dos Trovadores Rodolpho Abbud

11h - Visita ao Espaço Arp

18h - Noite Festiva com o Show de Trovas

19h - Apresentação do Coral Cantomusarte

19h30 - Premiação do Concurso Local de Trovas

Local: Usina Cultural Energisa, Praça Getúlio Vargas, 55, Centro

Domingo, 28

09h - Sessão de Entrega de Prêmios:

*Concurso Homenagem ao Bicentenário Teuto

*Concurso Nacional / Internacional e Novatos

13h - Encerramento

Local: Academia Friburguense de Letras

 O evento é uma realização da UBT Seção Nova Friburgo com apoio da Secretaria Municipal de Cultura. Todas as atividades com entrada franca. 

Sobre a Cidade das Trovas

Trovas vem do verbo trovar. Fazer trovas é poetar, cantar, versejar. Trovas é sinônimo de “cantas”, é composição poética e ligeira, cantiga, canção. 

Há 64 anos, o município realiza esse movimento lírico e filosófico, mantendo assim, o legado literário do município, que se expandiu a partir de sua criação, em 1958, por iniciativa de Luiz Otávio e J.G. de Araújo Jorge. 

“Apaixonados pela cidade, os dois poetas sentiram que, pelas características e belezas friburguenses, o movimento encontraria aqui o berço ideal para a sua criação. Trovadores locais e de várias cidades começaram a participar dos eventos, passaram a ser conhecidos e reconhecidos no cenário nacional, e muitos deles fizeram nome se destacando em concursos promovidos aqui na cidade”, relata Elisabeth Souza Cruz.

A primeira edição aconteceu em 1960, com o tema Amor, quando o evento recebeu mais de duas mil trovas do Brasil e do exterior. A Lei Municipal de 2014 consagrou Nova Friburgo como a Cidade das Trovas — reconhecida nacionalmente como berço dos modernos Jogos Florais no Brasil — e declarou a trova como Patrimônio Imaterial Friburguense. E através de lei estadual, os Jogos Florais de Nova Friburgo tornaram-se Patrimônio Cultural de Natureza Imaterial do Estado do Rio de Janeiro.

Os primórdios dessa história

Os Jogos Florais na atualidade, são concursos literários — de poesia no gênero trova. Tido como o evento cultural mais antigo do mundo, iniciaram na Roma antiga, na forma de competições atléticas e literárias que ocorriam em homenagem a Flora, deusa dos jardins e da poesia.

O período entre 28 de abril e 13 de maio do calendário romano marcava a celebração dos Jogos Florais (ou Florálias – do latim floralia, ium), assim denominados por se tratar das festividades em honra de Flora, deusa da Primavera, das flores, dos cereais, das vinhas e das árvores frutíferas. 

Nos concursos, as cortesãs reuniam-se e dançavam nuas, ao som de trombetas, e as vencedoras eram coroadas de flores. No Circo Maximus, lebres e cabras, animais associados à fertilidade, eram soltos entre o público, para o qual se atirava também grão-de-bico e outras sementes relacionadas com a fertilidade. Durante estes dias, a usual roupa branca era trocada por roupas coloridas.

Ao longo do tempo, os jogos foram sendo esquecidos, e a partir do século 13, a celebração passou a abranger apenas o concurso literário; continuaram ocorrendo na Idade Média (1323, em Toulouse/FR), ao tempo dos jograis e menestréis, quando foi criada a Academia dos Sete Mantenedores dos Jogos Florais. Os vitoriosos recebiam troféus em forma de flores, tendo, então, tal modalidade de competição se espalhado por toda a Europa. 

Desde então, poetas e amantes da escrita, em geral, tinham nesta data a possibilidade de apresentar as suas produções em concursos.

A despedida

“No domingo, no encerramento, a bagagem de retorno dos friburgantes volta muito mais pesada, embora levando os mais leves sentimentos — amor, saudade e encantamento. Todos retornam para as suas cidades. Alguns, de locais mais distantes, fazem malabarismos para estarem aqui. É importante virem à Meca do Trovadores! É o sonho de todo trovador vir, ao menos uma vez, receber um prêmio aqui. Isso nos honra? Sim, e muito, porém, nos chama, cada vez mais, ao compromisso de levarmos, adiante, o legado que nos foi confiado”, finaliza Elisabeth, feliz e confiante com a realização do evento, mais uma vez.

Por nossa Rosa a vibrar, 

vamos na estrada, sorrindo...

E quem nos venha ajudar

há de ser muito bem-vindo!

(Trova de Rodolpho Abbud)

Foto da galeria
Elisabeth Souza Cruz
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