Projeto Anas: vidas curadas por corações doadores

Projeto de doação de sangue e medula óssea em Nova Friburgo busca por doadores
sexta-feira, 12 de maio de 2023
por Nathalia Rebello*
(Foto: Nathalia Rebello)
(Foto: Nathalia Rebello)

O que significa um ato de amor? Para alguns, doar uma parte de você para aquele que necessita. Com apenas uma doação, é possível salvar inúmeras vidas. E é com esse propósito que o Projeto Anas, idealizado em Nova Friburgo por Luciana e Fabiano Fontes com a ajuda de Ana Paula Santos, tem o intuito de levar voluntários doadores de sangue e medula óssea para o Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea, o Redome.

A doação de medula óssea pode ser feita por um familiar do paciente ou daqueles que tornam-se voluntários para doação no Redome, no entanto, a esperança de cura luta com a pequena possibilidade de encontrar alguém que tenha compatibilidade genética. Apenas um em cada 100 mil voluntários possui semelhança genética com algum paciente na fila de espera para doação. Dessa forma, quanto maior o número de cadastros no Redome, maior são as chances dos pacientes encontrarem possíveis doadores.

(Fabiano, Ana Júlia e Luciana Fontes)

A ideia do Projeto Anas partiu de Luciana que passou por momentos difíceis com a filha Ana Júlia. Com apenas 2 anos e 9 meses, a menina foi diagnosticada com leucemia linfóide aguda, um tipo de câncer que afeta a corrente sanguínea. Durante sete meses, ela foi submetida a sessões de quimioterapia enquanto aguardava por um transplante na fila do Redome. Em seu último mês de tratamento, Ana Júlia e seus pais contraíram Covid-19, o que fez com que ficasse entubada por 15 dias e, após, tivesse duas pneumonias. Ela não resistiu e faleceu em 8 de agosto de 2021.

“A Ana Júlia era uma criança cheia de vida, cheia de amor, e quando ficou doente a gente não entendia o porquê. Mas hoje muitas coisas estão sendo feitas a partir da vida dela“, disse Luciana.

Ainda durante o tratamento de Ana Júlia no Instituto Nacional do Câncer (Inca), Luciana e sua família encontraram outras pessoas na mesma situação que passavam. “Eu descobri que a minha dor não era a maior. Que a minha dor era igual a de outras mães. Todas as mães que estão lá são capazes de doar suas próprias vidas pelos filhos. É muito doloroso ver seu filho doente e não poder doar sua medula para ele, porque talvez não seja compatível, talvez não vai curá-lo naquele momento. Temos um sentimento de empatia e começamos a sentir a dor das outras mães e crianças. [...] E naquele momento tentamos pegar a dor das pessoas e talvez ajudá-las de alguma forma”, conta Luciana.

Um belo exemplo

Ana Paula, amiga de Luciana, hoje é uma prova viva do combate ao câncer. Diagnosticada aos 19 anos com anemia aplástica, doença que danifica as células da medula óssea resultando em números reduzidos de glóbulos vermelhos, brancos e/ou plaquetas, Ana Paula teve que se mudar com a irmã, a mãe e uma tia para Curitiba-PR durante quatro meses para se submeter ao transplante de medula óssea, único tratamento possível.

(Ana Paula Santos)

Cidade nova, novos desafios. Mas a solução veio da própria família. Na busca por um doador, Andréia, irmã de Ana Paula, foi 100% compatível, fazendo assim com que ela tenha obtido a cura. Mesmo sem sequelas, Ana Paula necessita manter acompanhamento médico a cada cinco anos.

“Eu ganhei uma segunda mãe. Eu e a Andréia, minha irmã que foi a doadora. Temos agora uma ligação muito forte de mãe e filha. Eu digo que ela me deu uma segunda vida. Ela doou um pedaço tão importante pra mim.. A Andréia é muito mais que uma irmã.", completou Ana Paula.

Captando mais doadores 

A importância de salvar uma vida sensibilizou o coração de Luciana, que foi despertado para começar o Projeto Anas. Tendo Ana Paula como idealizadora, juntas buscaram auxílio do pastor evangélico de Nova Friburgo Sérgio Paim, da Igreja Ceifa, que voluntariamente cedeu um ônibus para levar possíveis doadores ao Rio de Janeiro na tentativa de salvar mais vidas. 

Os primeiros viajantes ao Inca começaram a divulgar a tentativa de captar mais doadores entre colegas e parentes e numa corrente do bem o projeto cresceu. Com seu símbolo representando a doação de sangue e a flor favorita de Ana Júlia, em menos de um ano, já foram realizadas oito viagens e mais de 300 cadastros no Redome com a ajuda de diversas pessoas, até mesmo vindas de outros lugares além de Nova Friburgo.

“Já conseguimos salvar muitas vidas com doações de sangue e temos sempre informado a população sobre esse projeto e convidamos a todos para as próximas viagens. Não só através do cadastro de medula óssea, chega até nós muitos pedidos de ajuda, muitos pedindo informações, visitas em hospitais e apoio. Estamos sempre abertos a ajudar”, conta Luciana. 

Seja para aquele que doa ou para aquele que recebe, o apoio da família é de extrema importância. “Como paciente, o que a gente mais quer ver é a nossa família bem. Então se eles estão bem, a gente fica bem. É como se transferissem a preocupação que eles têm conosco com eles também. A gente se torna cada dia mais forte para passar a eles que estamos bem. A família é fundamental.”, diz Ana Paula lembrando dos seus momentos como paciente.

“Nós familiares de um doente queremos pegar a dor dele para a gente. Eu se pudesse trocaria de lugar com a minha filha. Porque a família vê a pessoa sofrer com a doença e não pode fazer nada. A minha vontade a todo momento era trocar com a Ana Júlia e entregar a ela minha saúde. Nesse momento a família é a base de tudo, é quem vai manter o paciente de pé e dizer que tudo vai ficar bem”, complementa Luciana ao se lembrar de Ana Julia.

A doação é como um ato de amor materno, é você poder dar a chance de viver novamente a alguém, seja ela seu parente ou um mero desconhecido. O amor e a empatia são capazes de mudar histórias e um simples ato de doar mostra isso. Assim como Luciana amou e ainda ama sua filha Ana Júlia e também como Andréia ama sua irmã Ana Paula, o Projeto Anas busca passar esse amor às pessoas mostrando que é possível amar o próximo a ponto de entregar um pedacinho seu àquele que precisa, sem receber nada em troca. Um ato de amor espontâneo.

Como ser um doador 

Quem deseja se tornar um doador é necessário ter mais de 18 anos, estar em um bom estado de saúde geral e não apresentar nenhum tipo de doença neoplásica (câncer), hematologia (sangue) ou do sistema imune. Para mais informações veja o perfil no instagram @projetoanas.nf

(*) estagiária com supervisão de Henrique Amorim 

Foto da galeria
(Luciana Fontes e Ana Paula Santos)
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