Pesquisas eleitorais: para especialistas, erros comprometem credibilidade

Resultados do primeiro turno das eleições frustraram as previsões das pesquisas feitas pelos principais institutos do país
quarta-feira, 05 de outubro de 2022
por Jornal A Voz da Serra
(Foto: Pexels)
(Foto: Pexels)

Os resultados do primeiro turno das eleições no último domingo, 2, frustraram as previsões das pesquisas feitas pelos principais institutos do país. Na eleição presidencial, por exemplo, Datafolha e Ipec davam menos de 40% dos votos para o presidente Jair Bolsonaro (PL) e apontaram a possibilidade de o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ganhar sem a necessidade de segundo turno, mas ambos erraram. Lula recebeu 48,43% dos votos válidos, contra 43,20% de Bolsonaro, com 99,99% das urnas apuradas. Os números das urnas contrastam com as pesquisas eleitorais divulgadas na véspera. “Ao que parece, os institutos não estão conseguindo captar esse movimento da direita, principalmente no Sudeste”, avalia o cientista político Renato Dolci ao comentar o resultado das pesquisas.

O que aconteceu com as pesquisas no primeiro turno

Na corrida presidencial, o jornal Gazeta do Povo, comparou o resultado de pesquisas divulgadas no último sábado, 1º, por cinco institutos: Datafolha, Ipec, Quaest, Ipespe e MDA, considerando as intenções de votos válidos. Na disputa entre Lula e Bolsonaro, o que mais se aproximou do resultado foi o MDA, que estimou 48,3% para Lula, e 39,7% para Bolsonaro. Este número, aliás, foi o maior projetado para o atual presidente, que chegou a ter estimativa de 35% dos votos pelo Ipespe. Já Lula chegou a ter 51% apontados pelo Ipec, na mais alta projeção. Dentro da margem de erro, todos os levantamentos apontaram para uma provável decisão do pleito já no primeiro turno, com vitória do candidato petista.

Já entre os demais candidatos, em apenas um dos levantamentos, Simone Tebet (MDB) foi posicionada à frente de Ciro Gomes (PDT). A emedebista obteve 4,2% dos votos válidos, deixando Ciro para trás. O Ipespe chegou a projetar 8% dos votos para o pedetista, que registrou apenas 3%. O resultado das pesquisas estimuladas dos cinco institutos pode ser conferido aqui.

Assim como o Datafolha, o Ipec (ex-Ibope) errou ao prever vitória de Lula no primeiro turno com 14 pontos de vantagem sobre Bolsonaro, mesma vantagem apontada pelo Ipespe. A Quaest previu 11 pontos de diferença. Todos falharam. Os institutos Paraná Pesquisas e Atlas Intel foram os que mais se aproximaram do resultado oficial.  

A última pesquisa do Ipec, divulgada no sábado, 1º, previa a vitória de Lula com 51%, seguido de Jair Bolsonaro com 37% — 14 pontos de diferença. No entanto, a distância entre os dois foi de apenas cinco pontos percentuais (Lula 48,4% x Bolsonaro 43,2%), com margem de erro de dois pontos percentuais. A Rede Globo  divulgou que contratou nova pesquisa para saber a preferência do eleitorado para o segundo turno. A sondagem vai custar R$ 237 mil  estava prevista para ser divulgada nesta quarta-feira 5, segundo registro no TSE.

Previsões divulgadas nas vésperas da eleição

Ipec:  Lula 51%; Bolsonaro 37%; Ciro 5%; Simone 5%

Datafolha: Lula 50%; Bolsonaro 36%; Simone 6%; Ciro 5%

Quaest: Lula 49%; Bolsonaro 38%; Ciro 6%; Simone 5%

Ipespe: Lula 49%; Bolsonaro 35%; Ciro 8%; Simone 7%

Paraná Pesquisas: Lula 47,1%; Bolsonaro 40%; Simone 6,3%; Ciro 5,2%

AtlasIntel: Lula 50,7%; Bolsonaro 41%; Ciro 3,6%; Simone 2,6%

Brasmarket: Bolsonaro 50,95%; Lula 34,68%; Ciro 6,96%; Tebet 5,84%

Lira descarta CPI para investigar institutos

O presidente da Câmara dos Deputados, o parlamentar reeleito Arthur Lira (PP-AL), criticou as pesquisas eleitorais que deram resultados diferentes que os da apuração, mas descartou abrir uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) sobre o tema. “Temos que discutir uma boa legislação para empresa de pesquisas e divulgação delas, para que não se tenha essas disparidades”, disse em entrevista à GloboNews. 

Eduardo Bolsonaro (PL-SP), deputado federal reeleito e filho do presidente Jair Bolsonaro, anunciou que começaria a coletar assinaturas para abrir uma comissão para investigar os institutos de pesquisa ainda nesta semana. Outra proposta nesse tema foi a do líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), que anunciou um projeto de lei para criminalizar o erro nas pesquisas. 

O que diz o instituto que mais se aproximou  

O Paraná Pesquisas foi o que chegou mais perto do resultado oficial do primeiro turno das eleições de 2022. O instituto, que agora ganha ainda mais credibilidade, indicou Lula com 47,1% e Bolsonaro, 43,20%. Ou seja, o Paraná Pesquisas acertou a porcentagem de Lula dentro da margem de erro, e errou por muito pouco a de Bolsonaro. Em 2018, o Paraná Pesquisas foi contratado por A VOZ DA SERRA para saber dos eleitores friburguenses sua preferência para a prefeitura e acertou que o então prefeito Renato Bravo não seria reeleito.   

Para o responsável pela Paraná Pesquisas, Murilo Hidalgo, sobre o  segundo turno presidencial no próximo dia 30, a abstenção é que poderá decidir a eleição. Nos estados onde não tem segundo turno a abstenção é de 10% a 15%. Então, precisamos fazer conta. O fato de não ter segundo turno em Minas ajuda quem? Porque vai ter mais abstenção em Minas. O fato de não ter segundo turno no Paraná vai prejudicar o Bolsonaro. No Ceará, vai prejudicar o Lula. A eleição fica fria. O mundo político viaja, relaxa. Precisamos fazer as contas ainda”, sentenciou. 

A última pesquisa do Paraná que aferiu o segundo turno, nos dias 22 e 23 de setembro, pontuava Lula com 48% e Bolsonaro com 40,40%. Mas, em dez dias, como comprovou mais uma vez o cenário eleitoral em 2 de outubro, tudo pode mudar. “Política é igual nuvem: uma hora está de um jeito, quando você olha de novo… está de outro”, observa Hidalgo. 

Entramos em contato com o Instituto que enviou artigo assinado pela  CEO da empresa, Nair Quintanilha. (Fontes: portais Gazeta do Povo, Uol e Veja)

Eleições 2022 

por Nair Quintanilha – CEO do Grupo Paraná Pesquisas 

Em 1981, o prefeito de Nova York costumava cumprimentar os seus eleitores com: “Como estou indo?” ao invés do tradicional: “Como vai você?”. A necessidade de saber como pensa o(a) eleitor(a) é antiga e as pesquisas eleitorais cumprem um papel importante e de extrema relevância social. Dizer isso no dia seguinte de uma eleição, em que as pesquisas aparecem com algum descrédito é corajoso. Então, como fazer com que esse papel social seja novamente reconhecido? Simples não é, mas é muito importante. Nos entristece que alguns formadores de opinião afirmem e propalem que os grandes derrotados das eleições esse ano, foram os Institutos de Pesquisa. 

As pesquisas informam e fazem com que a opinião pública seja comunicada e ganhe voz. A Paraná Pesquisas ouve há mais de 32 anos a opinião pública e se orgulha da confiança depositada em nosso trabalho. Os resultados das urnas, não nos surpreendem, as pesquisas que realizamos durante todo esse ano nos fazia ter confiança absoluta no trabalho bem-feito que sempre realizamos. O que nos surpreende em alguma medida é a cobertura jornalística e os ataques a que muitas vezes fomos vítimas durante o processo. Tínhamos confiança e certeza de que a segunda-feira pós eleições chegaria e chegou. 

Hoje estamos agradecidos e não poderíamos deixar de registrar o nosso agradecimento a todos que confiaram e continuaram resilientes mesmo sob os ataques enfurecidos de alguns membros da imprensa. Qual a receita da Paraná Pesquisas? É a maior pergunta que recebemos hoje e a nossa resposta é direta, não simples! Olhar atento aos dados regionais. Fizemos durante todo esse ano, quase todos os estados brasileiros, acompanhamos a construção do voto em cidades pequenas, com menos de 10.000 eleitores e grandes cidades. Estados com grande número de eleitores e com menos eleitores. 

Ouvimos cuidadosamente todos os eleitores e olhamos com receio alguns resultados de pesquisas nacionais que divergiam desses números. Alertamos para esse fato em algumas oportunidades que tivemos de conversar com a imprensa. Fomos à rua, falamos com os eleitores, cuidamos do rigor técnico e metodológico e ontem tivemos a certeza de que estamos no caminho certo. Quais as nossas projeções para o Segundo Turno? Em uma frase: Uma nova eleição! 

Claro que Lula está mais perto da vitória, mas Bolsonaro chega fortalecido nessa fase. Contra algumas previsões, chega ao segundo turno com uma diferença menor. Importante salientar que o núcleo duro Bolsonarista estar em segundo turno em alguns importantes estados é uma grande vantagem para o candidato. A estrutura política nesses estados não será desmobilizada e os palanques estão mantidos. Fato a se observar é nos estados onde a eleição foi decidida no primeiro turno, se os governadores eleitos tomaram partido de algum candidato e em que medida se envolverão nessa segunda etapa. 

O que pode explicar as distâncias entre os resultados das urnas e as pesquisas eleitorais divulgadas na semana da eleição? Algumas teses têm sido levantadas desde que a apuração iniciou: - Voto útil - Voto envergonhado - Diferença entre os dados oficiais, sobretudo de renda para estratificação da amostra - Pesquisas capturaram as tendências e nisso todas acertaram?! 

Sem juízos no momento, apenas explanação do que vem sendo reverberado por aí - Entre outros menos técnicos e mais ideológicos é claro, mas que acredito não seja a pauta no momento. O primeiro ponto que devemos registrar e o mais importante: Quanto mais próximo da data marcada para o pleito, os números das pesquisas devem se aproximar e de alguma forma refletir o comportamento do eleitor. Não se trata de futurologia, mas de técnica. 

No aspecto mais referendado pelos analistas hoje se traduz na variável renda. O Paraná Pesquisas em todos os registros de pesquisa junto ao TSE deixa claro que utiliza essa variável como fator de estratificação para as suas amostras, todavia deixamos efetivo que os resultados obtidos em campo, para essa variável é igual a 1, ou seja, o coletado em campo. Com isso queremos dizer que aquilo que captamos no campo é imperativo na análise das pesquisas. Um pouco que até o momento não vi ser falado e que merece nossa atenção é a análise desse ambiente volátil e real da construção do voto e um aspecto que nos ajuda, enquanto Instituto é observar atentamente é a realidade dos Estados.

Nosso Instituto fez pesquisa em quase todos os estados brasileiros, sejam eles com 340 mil eleitores, sejam estados com mais dez milhões de eleitores. Sinalizamos durante toda a campanha, nos mais diversos meios, que as diferenças regionais não vinham sendo refletidas nos números de levantamentos nacionais e isso sempre a nossa preocupação: Avaliar as diferenças regionais e contar essa história da forma coerente possível.

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